Martinho Seiiti Ono é o atual o Presidente da SCA Trading S/A, com larga experiência do mercado brasileiro de combustíveis, tendo trabalhado em grandes empresas do segmento, como Esso Ale e Copersucar.
Canal: O RenovaBio é vital para o setor? Por quê?
Martinho: O RenovaBio vem pra dar maior previsibilidade na demanda dos combustíveis renováveis, em especial o etanol hidratado que terá um mercado crescente, sem as oscilações de demanda que percebemos nos últimos anos. Este programa, com forte apelo de sustentabilidade ambiental e econômica, vem consolidar a posição de liderança que o Brasil sempre ocupou no cenário internacional. Esperamos que a sociedade finalmente reconheça todas as externalidades positivas que os biocombustíveis proporcionam, deixando do consumi-lo somente pelo fator preço.
Canal: No dia 1º de janeiro de 2020 o RenovaBio será implementado de forma efetiva em todo o território nacional. Quais serão os efeitos práticos para o setor de bioenergia a partir desta data?
Martinho: Todas as unidades produtoras de biocombustíveis devidamente credenciadas pela Agência Nacional de Petrólio (ANP), estarão aptas a emitir e comercializar os créditos de descarbonização (CBios), aumentando de forma legítima a receita, pelos benefícios e pelas externalidades positivas que sempre produzimos e não éramos reconhecidos.
Canal: Qual a principal dificuldade da unidade produtora em se certificar?
Martinho: O levantamento das informações necessárias para o preenchimento da calculadora “Renovacalc”, tem sido o maior desafio dos produtores. Todo processo novo requer dos agentes produtores, das empresas Inspetoras e da ANP um período de transição e aprendizado. As dificuldades encontradas na fase inicial serão brevemente superadas, e em breve, teremos o credenciadas todas as unidades produtoras.
Canal: A meta para 2020 de 28,7 milhões de CBios é plausível?
Martinho: Sim, plenamente plausível . É importante que os produtores acelerem o processo de certificação e assegurem a oferta de CBios necessários ao cumprimento de metas de cada distribuidora.
Canal: O que já está definido e o que virá pela frente em termos de certificações do RenovaBio? O processo este ano teve com andamento?
Martinho: As regras e as metas estão definidas. Todo o processo em 2019 foi seguido rigorosamente dentro do cronograma estabelecido. Neste último trimestre vamos concluir a parte financeira, enfim, as regras de comercialização dos CBios. Já por parte dos produtores o objetivo é dar foco e acelerar a certificação.
Canal: Todas as usinas sucroenergéticas poderão ser beneficiadas pelo RenovaBio? Existe algum fator excludente?
Martinho: Todas as usinas serão beneficiadas. Poderão surgir algumas que não terão 100% da produção certificadas por falta de documentação ou dados exigidos pelo Renovacalc .
Canal: Como ficam as metas de descarbonização dentro do Programa?
Martinho: Em linha com os compromissos que assumimos na COP21. Todos os agentes envolvidos estão comprometidos com essa meta.
Canal: Na prática, como será a emissão dos CBios ? Qual o papel das distribuidoras de combustíveis nesse contexto?
Martinho: Todos os produtores de biocombustíveis devidamente inspecionados e credenciados pela ANP passaram a emitir CBios.
Cada produtor terá um volume aprovado na certificação que permitirá a emissão de 1 CBios. Por exemplo, cada 800 litros equivale a CBios.
Assim, se esta usina produzir e comercializar pra fins automotivos 80 mil m³ de etanol, terá o direito de emitir e vender 100 mil CBios.
Portanto, os produtores colocarão os CBios à venda no mercado financeiro e as distribuidoras, já com a quantidade de créditos necessários para atender a meta passarão a compra-las.
Canal: Quanto ao setor sucroenergético, quais as expectativas práticas de resultados já a partir de 2020 com a implementação do RenovaBio?
Martinho: Todas as unidades produtoras certificadas terão mais um produto, os CBios, para comercializar. Temos a expectativa que esta experiência vai fazer com que as usinas passem a aperfeiçoar as melhores práticas de manejo agrícola, logístico e industrial pra melhorar o rating podendo emitir mais CBios com menos volume.
Canal: Que receita adicional as usinas poderão ter a partir do RenovaBio?
Martinho: Sabemos que o CBios terá um valor que o mercado atribuíra. Por isso, ainda não podemos afirmar qual será este valor.
Canal: E para o setor de biodiesel quais são as previsões? Será vantajoso financeiramente também?
Martinho: Exatamente as mesmas expectativas do nosso setor. O RenovaBio nasceu da parceria entre todos os produtores de biocombustíveis, com o forte apoio e comprometimento dos diversos órgãos do governo.
Canal: A produção de biogás também será beneficiada com o Programa? Como?
Martinho: Em termos de escala, se comparada ao etanol ao biodiesel, é bem menor, mas esta fonte de energia também participou de forma efetiva na construção deste programa. Portanto, terá os mesmos benefícios previstos.
Canal: O RenovaBio é considerado o maior programa de biocombustíveis do mundo. De que forma efetiva ele vai contribuir para a descarbonização do Brasil? Os reflexos poderão ser percebidos fora do País?
Martinho: Os reflexos do RenovaBio já são percebidos e comentados por vários países. O Brasil é protagonista deste inteligente programa. Vários profissionais que trabalharam no seu desenvolvimento estão sendo convidados a compartilhar as experiências em painéis internacionais.
A contribuição para a descarbonizarão será através do compromisso dos produtores de biocombustíveis, oferecendo a cada ano mais volumes de combustível renovável e a sociedade consumindo esta energia limpa, que faz bem para o meio ambiente, para a saúde, para geração de empregos e para o desenvolvimento do país.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia