Foto: Wagnas Cabral-Governo de Goiás

Entrevista/Marconi Perillo-Governador de Goiás-Foco na bioenergia

Goiás se destaca na produção de energia renovável com a produção de 10 mil megawatts de força hidroelétrica. Além disso, no ranking nacional, é o segundo maior produtor de etanol e de biomassa. A energia solar começa a ganhar espaço, com uma série de incentivos para mini e micro produtores.  Em entrevista exclusiva ao CANAL, o Governador de Goiás, Marconi Perillo comenta as metas para ampliar a participação de fontes de energia limpa na matriz energética goiana.

CANAL: Como o senhor avalia a posição de Goiás no contexto nacional da produção de energia limpa e renovável?

Marconi Perillo – São muito positivas as notícias do considerável crescimento das energias renováveis no Brasil.

Em Goiás, o Governo atua para cada vez mais incorporar as energias renováveis em nossa matriz energética. Temos algumas iniciativas e conseguimos apoiar empresas que estão se instalando em Goiás com o propósito de produzir equipamentos para o aproveitamento da energia solar. Nosso apoio aos produtores de bioenergia é constante e cada vez mais forte, além, é claro, especificamente aos produtores de etanol.

CANAL: O setor sucroenergético tem força no Estado. São 37 usinas que colocam Goiás em segundo lugar na produção nacional de cana e de etanol. Mas a crise que afetou as usinas nos últimos anos fez parar o investimento em novas unidades. Como o governo pretende agir para estimular este setor e fazer com que ele experimente um novo ciclo de crescimento?

Marconi Perillo – Uma coisa é certa, não fosse nosso apoio com os benefícios fiscais, hoje estaríamos amargando uma derrocada do setor. Tenho orgulho de dizer que nosso trabalho é fundamental no incentivo aos produtores do setor sucroenergético e, assim continuará porque ele é importantíssimo, inclusive, no incentivo a uma matriz energética menos poluente. Nosso governo vai estimular sempre a produção desse setor. Em todas as missões comerciais que realizamos em nossos mandatos, o etanol sempre foi ponta de lança, porque acreditamos que é uma matriz energética muito importante para nossa economia e para a melhoria do meio ambiente. Nós somos hoje um Estado que tem uma presença muito forte na geração de energias renováveis. É impressionante o quanto crescemos nos últimos 20 anos nessa área.

CANAL: Goiás precisa melhorar a infraestrutura e para isso depende muito de investimentos do governo federal. Numa crise como a atual existe uma alternativa para investir nesta área?

Marconi Perillo – Nosso planejamento visa isso com muito foco. É certo que a crise atrapalha, porque significa menos recursos arrecadados. Nós temos 21 mil quilômetros de rodovias estaduais. Metade pavimentada, metade não pavimentada. Boa parte dessa malha viária é muito antiga. Quando cheguei ao governo de novo, em 2011, a situação era caótica. Estávamos com seis mil quilômetros de rodovias deteriorados. Conseguimos recursos para reconstruir 4,5 mil quilômetros. É claro que ficou faltando um pouco e é o que estamos fazendo agora, buscando recursos para reconstruirmos neste ano pelo mais 1.100 quilômetros, que são as rodovias que estão em estado de maior degradação.

Em relação a esses 1.100 quilômetros não adianta tapar buraco, seria gastar dinheiro à toa. Estamos com um programa de manutenção e conservação atuando em quase 21 mil quilômetros de estradas asfaltadas e, assim que tivermos recursos, – e estamos trabalhando duro para viabilizarmos essa verba – vamos reconstruir esses trechos.

Reconstruir significa arrancar o velho e fazer de novo. E fazer bem feito, como nós fizemos com os 4,5 mil quilômetros na gestão passada. A nossa prioridade é a manutenção das estradas. Neste ano será destinada a verba R$ 212 milhões para fazer manutenção, conservação, reconstrução do que está estragado, e conclusão das obras iniciadas.

CANAL: A Ferrovia Norte-Sul ainda não opera plenamente e as obras da sequência do projeto estão paradas. O senhor vê alguma solução em curto prazo?

Marconi Perillo – Olha, é difícil prever. Mas eu mesmo tenho feito inúmeras incursões junto ao governo federal. As tratativas estão sendo encaminhadas e as respostas que temos do governo federal é que essa é uma obra prioritária e está praticamente pronta. Estamos vivendo um momento de dificuldades no país e isso tem atrapalhado a completa finalização da Ferrovia Norte-Sul.

CANAL: São necessários investimentos elevados também na geração e distribuição de energia. Quais a metas do governo do senhor para esta área?

Marconi Perillo – É importante deixar claro que desde janeiro de 2012 a Celg é administrada pelo governo federal. Quem administra a Celg é a Eletrobrás, o Ministério de Minas e Energia, o Governo Federal. A Celg foi federalizada, e 51% de suas ações são do governo federal. Ela foi federaliza não só porque precisava de empréstimos, mas porque seu contrato de concessão venceria em abril do ano passado e o governo federal exigiu que para que houvesse a prorrogação da concessão por mais 30 anos a Eletrobrás passaria a ser dona do controle majoritário da empresa. Então, ou o governo do Estado aceitaria essas condições para prorrogação da dívida ou haveria caducidade ou fim do contrato de prorrogação e nós ficaríamos com um problema enorme, em uma situação terrível, porque a Celg voltaria gratuitamente para o governo federal e Goiás ficaria com as dívidas.

A Celg precisa, nos próximos quatro anos de investimentos da ordem de R$ 3 bilhões. Uma das premissas para a privatização da Celg é que o comprador faça, nos dois primeiros anos, pelo menos R$ 2 bilhões em investimentos. Investimentos na construção de novas subestações, novas linhas de distribuição, para atender a demanda reprimida que temos no Estado. Nós temos hoje uma demanda reprimida de mais ou menos 600 mil consumidores. Esses investimentos vão ser feitos para que o consumidor seja atendido, para que não tenhamos esses problemas que existem hoje de uma energia que às vezes não é muito segura. Esses investimentos vão garantir a segurança energética, vão garantir que a Celg chegue a todas as casas, a todas as empresas, que muitas vezes estão segurando seus investimentos por falta de energia.

CANAL: Goiás tem um elevado potencial para parques de energia solar. Já existem tratativas e projetos de seu governo para viabilizar esse segmento. Recentemente o Estado reduziu o ICMS para produtores dessa energia. Esse benefício foi regularizado?

Marconi Perillo – Em dezembro do ano passado, Goiás sediou 4a reunião do Fórum Nacional de Secretários de Energia. Goiás, juntamente com São Paulo e Pernambuco, foram os primeiros estados a isentar de ICMS a produção e consumo de energia de origem solar para micro e mini produtores e consumidores. A miniprodução é para hospitais, shoppings, empresas, e a micro é basicamente para residências. O decreto regulamentando a isenção está sendo preparado e queremos que essa isenção comece a valer logo. Essa redução da carga tributária deve acelerar o processo de barateamento e popularização da energia solar. É o modelo do futuro.

CANAL: Há outros projetos do governo estadual na área de energia solar?

Marconi Perillo – Projetos voltados para a captação de energia, a partir de fontes renováveis, estão sendo viabilizados a partir de parceria com a empresa Jalles Machado, sediada em Goianésia, que tem experiências com o desenvolvimento de tecnologias no setor. Vamos começar essa experiência pioneira no Estado com consorciamento de cogeração solar em parceria com o grupo energético Jalles Machado. Estamos bem interessados na discussão em relação à energia solar.

Goiás recebe em abundância os raios solares na maior parte do ano e isso sustenta o investimento nesta fonte renovável. Nós não vamos aqui  produzir energia eólica, porque não é essa a nossa vocação. Mas temos muita condição de investir na energia solar. Nós temos pelo menos oito meses do ano com muito sol e nós vamos dar vazão a essa possibilidade.

CANAL: Na 21ª Conferência do Clima (COP 21),realizada em 2015 em Paris, o Brasil se comprometeu em reduzir as emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030. O que Goiás tem feito para ajudar nessa redução?

Marconi Perillo – Nós estamos procurando incentivar os investimentos em energia limpa e renovável. Nosso esforço é constante nesse sentido. Buscamos oferecer benefícios fiscais aos investidores em energia limpa e vamos atrás de empresas aqui e no exterior que queiram investir em energia renovável no Estado de Goiás. O novo acordo do clima é muito interessante e o mais importante é que se chegou ao consenso de que é necessário um esforço global para diminuir a emissão de gases poluentes e que prejudicam o clima de uma maneira geral. A crise do petróleo também ajudou a encaminhar esse entendimento.

Fontes energéticas alternativas surgem e as disputas nas negociações em torno do novo acordo giram em torno da autossuficiência energética e do mercado de exportação de energia ou do comércio da expertise tecnológica de sua geração e transmissão. O Governo de Goiás trabalha para pluralizar as fontes energéticas que garantam seu desenvolvimento e resguardar os ativos ambientais que mantém os ciclos naturais com qualidade e perenidade.

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

 

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