Entrevista/Plínio Nastari: novo fôlego para o setor sucroenergético

 

Plínio Nastari é mestre e doutor em economia agrícola pela universidade Iowa State University. É presidente da consultoria Datagro. Foi professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV), de São Paulo, durante 17 anos. Desde 1978, acompanha as diferentes fases do desenvolvimento do setor sucroenergético. Em consultorias para o governo federal, atuou como membro de grupos técnicos em áreas relacionadas ao planejamento energético, mudanças climáticas, desregulamentação, integração e disputas comerciais. Foi o economista responsável pelas disputas envolvendo açúcar, bananas e pneus na Organização Mundial do Comércio (OMC), e etanol na Corte Internacional do Comércio, em Washington (EUA).

Canal: Na sua avaliação, como está sendo o desempenho das usinas nesta safra na região Centro-Sul?

Na região Centro-Sul, a safra 16/17 está sendo marcada por um clima mais seco do que o normal, baixa qualidade da matéria-prima, ATR baixo em várias regiões importantes e infestação de pestes e doenças acima da média. Os preços do açúcar e do etanol estão mais elevados do que no ano anterior, com um spread significativo a favor do açúcar, o que explica o mix mais açucareiro este ano.

Canal: Qual a tendência de produção de etanol, açúcar e bioeletricidade para este segundo semestre?

A safra atual está caminhando de forma acelerada e dentro de poucos meses muitas usinas começarão a moer cana que ainda não completou o seu ciclo de crescimento. Na safra passada, a moagem ficou atrasada pelo excesso de chuvas e canas foram moídas no final de 2015 e começo de 2016. Este ano, o clima seco tem acelerado o ritmo de moagem.

O preço spot da energia está muito baixo e isso tem feito com que o valor do bagaço tenha caído significativamente. As previsões mais recentes indicam que o fenômeno La Niña dever ser de média a baixa intensidade. Portanto, não é possível determinar com segurança se o segundo semestre continuará sendo mais seco do que o normal, até porque este fenômeno atinge mais intensamente a Região Sul, e com menos certeza o Sudeste.

Canal: Os preços pagos ao produtor estão remuneradores? Vão seguir assim?

Tudo indica que os preços do açúcar e do etanol continuarão se valorizando até a entressafra. O preço do etanol deve, entretanto, continuar sendo influenciado pelo teto definido pelo preço da gasolina nas refinarias.

Canal: O endividamento das usinas é acentuado e tem gerado dificuldades para as empresas? Esse cenário tende a melhorar?

Na safra atual, um número maior de grupos econômicos dentro do setor vai gerar caixa suficiente para cobrir os juros da dívida. Mas a situação ainda é delicada para todo o setor e é preciso mais do que tudo que seja estabelecida a regra de competitividade entre o etanol e a gasolina no longo prazo.

Canal: O governo federal tem atendido as demandas do setor sucroenergético? O afastamento da presidente Dilma atrapalhou ou ajudou?

O governo interino ainda não definiu nenhuma política de longo prazo para a área energética, mas aparentemente melhorou o diálogo entre o governo e o setor privado. É esperado que após a definição do impeachment as coisas fiquem mais claras.

Canal: A crise que afeta as usinas está mesmo se dissipando ou tempos difíceis ainda virão?

A crise está sendo parcialmente amenizada com o atual cenário de preços mais elevados, mas ainda permanecem incertezas pelo peso da dívida e a falta de um plano para o setor.

Canal: Como a crise afetou a produtividade das áreas agrícola e industrial das usinas? Como compensar esse quadro daqui pra frente para evitar prejuízos?

A crise reduziu a aplicação de recursos e tecnologia nas áreas agrícola e industrial. Isso tem aumentado a fragilidade dos canaviais a intempéries e ao ataque de pragas e doenças. Na área industrial, tem resultado em mais paradas para manutenção, que este ano passou a ser feita durante a safra.

Canal: O cenário futuro para bioeletricidade é positivo?

Sim, muito positivo! A energia térmica de biomassa é a que vai responder mais rapidamente ao aumento de consumo que deverá ocorrer quando for retomado o crescimento econômico.

Canal: Quanto a região Centro-Sul deverá produzir este ano de açúcar e etanol? Os números da previsão vão se cumprir?

Para a região Centro-Sul estamos prevendo uma produção de açúcar de 34,1 milhões de toneladas e uma produção de etanol de 26,1 bilhões de litros. A bioeletricidade excedente entregue no grid deve atingir cerca de 24.000 GWh.

 

Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia

 

 

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