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Retrospectiva 2020/ Esgoto que se torna energia

O esgoto das cidades pode ser utilizado como energia e atender as necessidades da população. Mas infelizmente, este potencial é pouco utilizado no Brasil. Segundo a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás) menos de 6% do que poderia ser produzido, considerando o esgoto que já é coletado hoje, é direcionado para Estações de Tratamento (ETEs).

Segundo a Associação, atualmente com as atuais ETES pode-se produzir cerca de 1,1 milhão de m3 de biometano, o que equivale a cerca de 1 milhão de litros de diesel diários, ou 1,5 TWh de energia elétrica por ano. Considerando todo o esgoto produzido no país, coletado e tratado ou não, esse potencial sobe para 2,2 milhões de m3 diários de biometano ou 2,9 TWh de eletricidade.

Nos atuais tempos, o esgoto não é mais  visto como um detrito, mas como um insumo. Para a gerente executiva da ABiogás, Tamar Roitman, a sociedade saiu de uma  economia linear, em que o esgoto era visto apenas como um resíduo a ser tratado para se enquadrar nos parâmetros de disposição final, o que de toda forma, gera impactos nos corpos hídricos e na saúde da população. “Hoje, vemos a compreensão de que esse resíduo é uma fonte de energia, que gera novas receitas ou redução de custos para a ETE, além de possibilitar a produção de biofertilizantes”, pontua.

Funcionamento

O biogás é coletado  ainda na estação de tratamento. Grande parte das ETEs no país utilizam sistemas de tratamento que já levam à produção deste gás. Por ser um fenômeno natural, sem esses sistemas de coleta e tratamento, o gás é simplesmente queimado, sem o aproveitamento energético.

Mas de forma geral, essa energia pode ser usada para geração de energia elétrica,  térmica e até mesmo para uso de combustível veicular. O biogás pode ser utilizado para consumo na própria ETE.  “As estações de tratamento têm um alto consumo de energia, que corresponde a 3% de toda a energia elétrica consumida no Brasil, um custo que chega a R$ 400 milhões para uma população de 100 mil habitantes. Portanto, a produção do biogás é não apenas sustentável em termos ambientais, como também vantajosa economicamente”, explica Roitman.

Apenas na própria ETE o biogás tem diversos usos. Ele pode ser utilizado na queime em flares, no uso térmico em caldeiras, na cogeração com biogás em motores ou turbinas, no uso direto nos sopradores ou centrífugas, como combustível auxiliar na incineração de lodo. Além da injeção na rede de gás natural, no posto de abastecimento de gás, na cogeração de energia em motor a gás natural, no posto de abastecimento de H2, na produção de energia térmica e elétrica com células a combustível.

Futuro promissor

Considerando o novo marco do saneamento, o setor de biogás vê com otimismo o crescimento do aproveitamento energético das estações de tratamento de esgoto. Além de ser imprescindível para melhorar a saúde da população, o aumento da coleta e tratamento de esgoto no país representa uma importante fonte de energia e receitas para o setor de saneamento.

Um bom exemplo

Os estados de São Paulo e Minas Gerais são os que possuem mais plantas de biogás em ETEs. O setor de produção de biogás no Brasil, até 2019, contava com 524 plantas de usinas em operação produzindo 1,3 bilhão de m³. Os números são da ABiogás.

De acordo com a Associação, se destacam os estado que possuem maiores  percentuais de coleta e tratamento de esgoto, “Já que boa parte dos investimentos já foi feita e a implantação de uma unidade de produção de biogás é muito mais fácil. Nesse sentido, além de São Paulo e Minas Gerais, destacamos o Paraná, Roraima e o Distrito Federal”, revela.

Desde abril de 2018, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) utiliza o biogás gerado no tratamento do esgoto para movimentar frota de 38 veículos. O biogás é purificado chegando a biometano, que é equivalente ao gás natural.

Além disso, o Brasil tem um dos cases de maior sucesso no mundo na área de biogás em aterro sanitário, que é o da usina da Ecometano no aterro sanitário municipal de Caucaia, no Ceará, que recebe resíduos da região metropolitana de Fortaleza. No último mês, o percentual de biometano na rede da companhia de gás local, a Cegás, chegou a quase 40%, um índice que nem países europeus como Suíça e Alemanha, que estão no topo da produção de biogás no mundo, já atingiram.

 
 Canal-Jornal da Bioenergia

 

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