Etanol brasileiro para substituir o petróleo

O Brasil tem a capacidade de produzir o etanol para substituir 13,7% do petróleo consumido no mundo. Um estudo identificou que para isso, é necessário aumentar a produção da cana-de-açúcar no território brasileiro em áreas que não são de preservação ambiental ou destinadas à produção de alimentos.

Além disso, essa substituição pode ajudar a reduzir as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) em até 5,6% em 2045 e impedir o aumento da temperatura do planeta, já que o etanol é menos poluente que a gasolina e outros combustíveis fósseis. Devido ao lançamento de gases tóxicos, a temperatura subiu 0,75 graus em comparação a Revolução Industrial e, se a poluição continuar, a expectativa que chegue em 2030, mais elevada em 1,5 graus.

Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP), que é um dos autores do artigo e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, Marcos Buvkeridge, a expansão dos canaviais brasileiros permite a redução da queima de combustíveis fosseis, conforme definido na COP-21, em Paris, em 2015. Buvkeridge destaca ainda que para reduzir a emissão de gases de efeito estufa deve-se parar com as queimadas na Floresta Amazônica e produzir mais etanol.

A pesquisa

Para estudar a expansão do cultivo de cana-de-açúcar no Brasil, os pesquisadores utilizaram um software desenvolvido na University of Illinois Urbana-Champaign que simula o crescimento de plantas como a cana-de-açúcar por hora e com base em parâmetros como composição do solo, temperatura, incidência de chuva e de seca. “O Brasil tem área, tecnologias de plantio em cana e desenvolvimento na produção de álcool de segunda geração. O potencial existe, mas faltam políticas governamentais. O Governo tem que querer fazer”, explica  o professor. Ele ainda pontua que para o mundo acreditar no poder do etanol brasileiro, é necessário desenvolver uma boa gestão interna do setor sucroenergético brasileiro e, com isso, conseguir a confiabilidade do exterior.

O trabalho foi desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Feagri-Unicamp), do Instituto de Biociências (IB-USP) e da Escola de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo, em colaboração com colegas da University of Illinois Urbana-Champaign e da Iowa State University, dos Estados Unidos, além da University of Copenhagen, da Danish Energy Association e do National Center for Supercomputing Applications, da Dinamarca, e da Lancaster University, do Reino Unido. O estudo contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol. A pesquisa calculou que crescimento da área de plantio deve ser iniciado o quanto antes. “Temos pouco mais de uma década para nos adequar”, revela. O estudo simulou três diferentes cenários.

No primeiro, a expansão do cultivo dos canaviais é limitada às atuais áreas de pastagem que poderiam ser substituídas por lavouras de cana, apontadas pelo Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar (Zae Cana), lançado em 2009 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Já no segundo a produção considera o aumento na demanda de alimento nas próximas décadas devido ao aumento populacional. Neste cenário, os canaviais expandiriam além das áreas disponíveis para cultivo identificadas pelo Zae Cana, como também para aquelas que não serão necessárias para plantio de culturas alimentares e alimentos para animais e que poderiam ser disponibilizadas para lavouras de cana. O terceiro panorama é igual ao segundo, com a diferença de que inclui áreas de vegetação natural e seminatural que poderiam ser convertidas legalmente em lavouras de cana.

As análises indicaram que o cultivo de cana para produção de etanol poderia ser expandido para entre 37,5 milhões e 116 milhões de hectares nos três cenários. Dessa forma, o etanol obtido da cana poderia fornecer o equivalente a entre 3,63 milhões e 12,77 milhões de barris de petróleo bruto por dia em 2045 no cenário estimado de mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que se asseguraria a preservação de áreas de florestas e as destinadas para produção de alimentos. Com esses panoramas é possível diminuir entre 3,8% e 13,7% o consumo de petróleo bruto e entre 1,5% e 5,6% as emissões líquidas globais de CO2 no ano de 2045 em relação aos dados de 2014.

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

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