No Brasil, a cana-de-açúcar é a principal matéria-prima para a produção do etanol. De acordo com números da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a expectativa para a safra 2017/21018 é a produção de 24,7 milhões de litros de etanol na Região Centro-Sul do país, o que representa uma redução de 3,71% em comparação a safra de 2016/2017. Apenas de milho, a União, em conjunto com demais sindicatos e associações do Centro-Sul, estima produção de aproximadamente 300 milhões de litros.
A produção brasileira de etanol do grão cresceu mais de 532% nos últimos quatro anos. Na safra 13/14, foram produzidos 37.036 m³ de etanol do cereal. Já na seguinte foram 84.882 m³, na 2015/2016 foram 141.289 m³ e na última 234.147 m³.
Na Região Centro – Sul do Brasil, apenas dois estados produzem etanol a partir do milho. Goiás conta com a usina da SJC Bioenergia, a São Francisco, em Quirinópolis. Já o Mato Grosso foi o pioneiro e hoje conta com três unidades produtoras – Libra, em São José do Rio Claro; Usimat, em Campos de Julho e Porto Seguro, em Jaciara. Há previsão de inauguração da Fiagril para o segundo semestre de 2017.
Geralmente a produção de etanol de milho era para o período de entressafra e com o objetivo de permitir um fluxo de caixa contínuo, mas especialmente no Mato Grosso, a produção visa agregar valor ao milho, não exportando o grão in natura, e consumir o excedente da safra.
Em Goiás
A Usina São Francisco, em Goiás, produziu na safra 2016/2017 87,7 milhões de litros do combustível. A expectativa para a produção atual é de 125 milhões de litros, um incremento de 55% em relação a anterior. “O projeto da SJC é arrojado e não produz o etanol de milho apenas na entressafra. A usina trabalha 330 dias por ano”, explica o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) para área de cana-de-açúcar e bioenergia, Alexandro Alves.
Na usina em solo goiano, o etanol é um subproduto do milho e não o foco da fabricação. O mesmo grão produz três distintos produtos: o etanol que é retirado do amido, com as proteínas o DDG (ração animal, sigla em inglês para grãos secos por destilação, usado na alimentação animal, o óleo e o xarope de milho) e com óleo, os combustíveis e o biodiesel. “A Usina de Quirinópolis é uma das mais modernas no mundo”, pontua Alves.
Em 2016, a Usina São Francisco produziu 87,7 milhões de litros de etanol do cereal, já na atual safra a expectativa é incrementar a produção em 55%, chegando a 125 milhões de litros.
Diferenciais
Em Goiás, dados da Faeg indicam que a produção de etanol a partir do milho é mais cara do que a da cana. O rendimento por hectare na cana é 90 toneladas, já no milho é de apenas dez toneladas. O custo de produção é de 40 centavos de dólar na cana, já no milho é de 55 centavos. E a produção do milho é inferior, o hectare de cana produz oito mil litros, já o grão é de três a 3,5 mil litros.
“A viabilidade da produção depende muito da logística e da disponibilidade do milho”, complementa o consultor da Faeg, já que as finalidades da produção do etanol das duas matérias-primas são diferenciadas. Na cana, o etanol é o produto e no milho é o subproduto. “Em Mato Grosso, por exemplo, é mais barato, mas o custo depende de cada usina”, complementa o presidente da Câmara Setorial da Soja, órgão ligado ao Ministério da Agricultura, e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja – MT), Glauber Silveira.
A Unica explica que essa produção é uma alternativa para uso do milho em localidades com excesso de oferta do produto, caso do Mato Grosso, e geração de receita na entressafra.
O Consultor em Gerenciamento de Risco – Açúcar & Etanol da INTL – FCStone, Murilo Aguiar, pontua que a perspectiva é aumentar a produção. Mas é importante verificar se o preço da tonelada do grão está favorável. “O que pode ser economicamente viável no Mato Grosso pode não ser em outro estado”, explica.
O consultor pontua que uma vantagem do cereal em relação a cana é a possibilidade de estocagem. Após ser colhida a cana-de-açúcar tem poucos dias para ser moída, se não perde a sacarose, e consequentemente, há redução do produto. Já o milho pode ser estocado, permitindo uma flexibilidade para a usina.
A maior produção no país
O Mato Grosso é o pioneiro no Brasil a produzir etanol a partir do milho desde 2012. Para a próxima safra são esperados colher 24 milhões de toneladas apenas no Estado, que é o maior produtor do grão no país. Destes, aproximadamente 690 mil toneladas serão dedicadas para a produção de etanol, resultando em 277 milhões de litros do combustível.
Na safra 2016/2017 foram produzidos 153 mil metros cúbicos de etanol de milho, o que representa 20% da produção de etanol do Estado do Mato Grosso. No Estado, três usinas produzem etanol a partir do milho. A Porto Seguro e a Usimat produzem apenas na entressafra, já a Libra produz concomitante. No segundo semestre de 2017 será inaugurada a Fiabril que será dedicada 100% para a produção de etanol de milho.
Na atual safra, o Brasil vai produzir 100 milhões de toneladas de milho, mas consome apenas 55 milhões. “Temos excesso de milho, em toda safra produzimos mais milho que consumimos, precisamos aumentar o consumo”, pontua Glauber Silveira. E um caminho é a produção de etanol, que além de ser um novo produto que agrega valor à produção, é favorável ao meio ambiente, reduzindo o uso de gasolina, que é mais poluente.
Para ajudar na comercialização do grão, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizou três leilões de apoio aos produtores de milho em Mato Grosso. Foram negociados 856,5 mil toneladas do grão. Além de 7,4 mil contratos para venda de milho em grãos ofertados na operação, das safras 2016/17 e 2017/18, também para o estado de Mato Grosso.
O diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado de Mato Grosso (SindAlcool/ MT), Jorge dos Santos, destaca que o Estado deseja agregar valor ao milho, assim manufatura o mesmo. O foco é a produção do DDG. Do resíduo do milho desta produção é produzido o etanol.
Futuro
O presidente da Aprosoja complementa que o crescimento do consumo nos próximos anos deve ser ampliado em torno de 500 mil a um milhão de toneladas ao ano. “Ou seja, em 2019 já consumiremos de três a quatro milhões de toneladas de milho para etanol. Para se mensurar, a produção de etanol de milho em Mato Grosso nos próximos anos deve superar ao da cana”, explica. A expectativa é que em 2018 a produção de combustível a partir do grão no estado ultrapasse 600 milhões de litros.
Para chegar a essa patamar, Mato Grosso já tem em andamento alguns projetos. Toda usina de etanol de cana mato-grossense desenvolve estudo de viabilidade para se tornar também de milho. “É um custo baixo essa adequação, pois a usina já tem a maior parte dos equipamentos, como caldeira, e destilaria. Precisa apenas adquirir moedores de milho e tanques de cozimento”, exemplifica o presidente da Aprosoja.
Assim, a produção de etanol de milho no Estado promove o consumo do grão durante o ano todo. “Para a Aprosoja e para os produtores o importante é o consumo e a agregação de valor, quanto mais pudermos consumir no estado mais se gera riqueza”, esclarece Glauber.
Governo Federal defende aumento na fabricação de etanol de milho
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, disse recentemente que o Brasil tem tudo para avançar na produção de etanol de milho. “Precisamos buscar alternativas para essa cultura. No Centro-Oeste, grande produtor do grão do país, os produtores estão avaliando a possibilidade de ter um programa de etanol produzido com milho.”
Ele lembrou que a safra brasileira de milho deve ser de 93 milhões de toneladas neste ano, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “É uma cultura que cresce no país, não só porque precisamos do produto, mas também porque a nossa agricultura necessita dela”, acrescentou, referindo-se ao cultivo em rotação de soja e milho. “Não há como fazer agricultura, principalmente no Centro-Oeste e no Paraná, sem o milho.”
Na opinião do ministro, o Brasil tem que buscar formas para potencializar o aproveitamento da produção de milho. “Não há onde vender o milho que está sobrando aqui. Então, temos que criar alternativa para usá-lo.” Como exemplo, citou os norte-americanos: “Os Estados Unidos se transformarem, em poucos anos, no maior produtor do etanol a partir do milho, fazendo frente ao Brasil, que fabrica o produto a partir de cana-de-açúcar.”
Para Maggi, os produtores de milho não devem ter medo de defender o seu uso para fabricar etanol. “Não vamos concorrer com alimentos de forma nenhuma. É uma riqueza que o Brasil tem e precisa estimular sua utilização.” De acordo com o ministro, já há usinas flex no Mato Grosso, que produzem etanol a partir de cana e de milho. “E em julho será inaugurada a primeira planta de fabricação de etanol apenas de milho, em Lucas do Rio Verde.”
Ana Flávia-Canal-Jornal da Bioenergia