Guilherme Nolasco é Produtor rural e médico veterinário com especialização em Gestão Rural, Guilherme Nolasco e assumiu a presidência da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) no terceiro trimestre de 2019. Nolasco acumula larga experiência como executivo e gestor no setor agropecuário, seja junto ao mercado privado como em órgãos públicos. Há mais de um ano, presidia o Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), tendo sido presidente também do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso por três anos (2015 a 2018). Por cinco anos, foi conselheiro e vice-presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat). É conselheiro na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Canal: Jornal da Bioenergia: Quais os principais desafios deste ramo para 2020?
Guilherme Nolasco: Acompanhamos de perto as oscilações do mercado de milho, seja em relação a preço como à produção propriamente dita. É nossa principal matéria-prima e qualquer mudança de cenário para além de determinadas faixas de preço pode impactar para acelerar ou frear o ritmo de investimentos projetados para os próximos meses.
A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) também monitora as questões tributárias nos estados com usina de etanol de milho em operação ou em vias de operar, buscando construir o melhor ambiente de negócios possível.
Outro ponto de atenção é a busca, junto ao Governo Federal, por adequações do programa RenovaBio para atender as especificidades da produção de etanol de milho, que tem distinções em relação à cana-de-açúcar.
Canal: Quais serão os principais focos frente à entidade?
Guilherme: O mercado do etanol de milho não se restringe à produção do combustível. Engloba toda uma cadeia de valor que inclui produtos como o concentrado proteico obtido a partir da destilação do grão de milho, o DDG, muito usado em confinamentos e na produção de proteína animal, de forma geral. Por se tratar de um mercado novo para a realidade brasileira, a Unem tem buscado unificar indicadores oficiais sobre oferta e demanda do combustível visando construir uma matriz de inteligência de mercado tanto para o etanol como para o DDG. Outro setor favorecido é o de biomassa, assim como as atividades de reflorestamento. Todos eles compõem nosso painel de atuação.
De forma paralela, estamos nos fortalecendo a partir da conexão mais próxima com as usinas e outros players relevantes no mercado, como entidades de classe e empresas de tecnologia e soluções que já atendem as plantas de etanol.
Canal: Qual a produção atual do produto? Há perspectivas de crescimento?
Guilherme: Chegaremos ao fim da safra 2020/21 com uma produção de 2,9 bilhões de litros de etanol de milho no Brasil, um incremento de 74% em relação ao ciclo 2019/20. A projeção para a safra 2024/25 é de 5,8 bilhões de litros, e a expectativa é atingirmos 8 bilhões de litros até 2028.
Atualmente, há 15 usinas de etanol de milho em operação e três em estágio pré- operacional – além de 23 projetos por todo o Brasil, em distintos níveis de desenvolvimento. Além dos estados da região Centro-Oeste (MT, GO e MS), há projetos em São Paulo, Paraná e Roraima.
Canal: Na sua avaliação, qual o futuro do segmento?
Guilherme: Acreditamos em expansão tanto na produção como no número de usinas em decorrência de dois principais fatores: o aumento na demanda mundial por combustíveis renováveis e uma conjuntura interna que favorece a rentabilidade dos investidores – devido à boa oferta de milho a preços acessíveis. Como já assinalamos, o segundo fator é mais fluído e depende de cenários local, nacional e internacional. Mudanças severas no mercado do milho afetarão o nosso mercado em alguma medida.
O etanol de milho brasileiro é uma realidade pujante e com benefícios para vários outros segmentos. Devido à oferta firme de milho no mercado interno, não temos entressafra, ao contrário da cana-de-açúcar, o que, a médio prazo, tende a dar mais solidez aos preços do combustível ao consumidor final. Até mesmo o mercado de proteína animal será favorecido com o etanol de milho, a partir do momento em que se ampliar o consumo do DDG como opção para a dieta animal, dando mais estabilidade ao mercado mesmo nos meses de seca, que prejudicam a qualidade das pastagens.
Além disso, é irreversível a tendência de uma migração gradativa do modelo atual, ancorado no consumo de combustíveis fósseis, para um novo ambiente muito mais voltado para os combustíveis renováveis. Esse é um caminho sem volta, e o etanol de milho brasileiro será fundamental.
Canal: Há previsão de ampliação das usinas flex?
Guilherme: Algo muito interessante no mercado do etanol brasileiro é que o investidor já compreendeu que o milho é uma valiosa opção para complementar o parque industrial já instalado de unidades a partir da cana-de-açúcar. Somente aqui, temos esse modelo híbrido de indústrias que produzem da cana e, simultaneamente, também do milho: é o que chamamos de usinas flex/full. As duas operações ocorrem concomitantemente, em processos industriais específicos, resultando em modelos de negócios únicos.
Hoje, temos cinco unidades operando na categoria full, cinco flex e cinco flex/full. Das três usinas em pré-operação, duas serão full e uma será flex/full. Já entre os projetos futuros, 19 foram idealizadas como full e quatro como flex/full.
Canal: E a consolidação do DGG?
Guilherme: Temos um desafio no mercado do DDG que é a padronização do produto, e, em consequência, sua precificação. Mas o mercado é firme e já temos usinas exportando o produto. A tendência é de crescimento devido à demanda por uma pecuária mais produtiva, mais eficiente e sustentável. Uma de nossas metas institucionais é a aproximação das entidades que representam os produtores de proteína animal e várias parcerias estão em curso, com objetivo de mostrar as possibilidades que o DDG representa, tanto para a dieta dos animais como para a gestão dos negócios na pecuária de uma forma geral.
Canal: O etanol de milho concorre ou é um complemento ao de cana?
Guilherme: O milho é um complemento essencial para dar mais escala e sustentar ainda mais o mercado do etanol de cana. A decisão será única e exclusivamente do investidor e do desenho do seu negócio. Nos últimos dias, vimos várias usinas de cana divulgarem investimentos no etanol de milho, seja com novas unidades ou com a inserção do produto em seu processo produtivo E acreditamos que esse movimento deve se manter e se ampliar.
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