Entrevista com Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) . Ele é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração de Empresas, Serviço Social e Educação de Americana (SP), com especialização em Administração de Projetos na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo.
Padua é membro da equipe da Unica desde 1990, exerce o cargo de diretor Técnico desde 2003. Foi coordenador de Administração e Finanças do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar (Planalsucar) e supervisor Administrativo-Financeiro dos projetos financiados pela Secretaria de Tecnologia Industrial (STI) do Ministério da Indústria, Comércio e Tecnologia (MICT). Em 1983, implantou junto aos fornecedores de cana o Sistema de Pagamento de Cana por Teor de Sacarose (SPCTS), junto ao qual atuou como consultor até 1990.
Canal – Jornal da Bioenergia: Quais as perspectivas das Unica para a safra 2021?
Padua: As condições climáticas foram favoráveis para a colheita na safra 2020/21, com bom aproveitamento de tempo de moagem, porém negativas para o desenvolvimento da cana soca. Além desse aspecto, a quantidade de incêndios criminosos em áreas já colhidas e que seriam colhidas vai impactar a produtividade da safra que se inicia. Soma-se a isso o veranico do mês de março, trazendo perspectivas negativas também no primeiro terço da colheita, afetando a produtividade.
Canal: Qual será o mix para este ano?
Padua: Com a redução da oferta de cana-de-açúcar e também do teor de sacarose, tanto a produção de açúcar como a de etanol serão reduzidas na mesma proporção. Como aconteceu na safra 20/21, haverá um equilíbrio entre oferta e demanda de etanol. Já o etanol de milho vai continuar crescendo, com contribuição importante na oferta, especialmente na entressafra da cana.
Canal: A Unica acredita que a pandemia pode influenciar no mix desta safra?
Padua: Não, pois conforme aconteceu na última safra, as empresas otimizaram a produção de açúcar e não houve aumento na capacidade de cristalização. A alteração no mix – seja para cima ou para baixo- pode acontecer em função do teor de sacarose, da qualidade da matéria-prima e, principalmente, pelo fator pureza do caldo.
Canal: A primeira quinzena de março foi dedicada a produção de etanol. Há possibilidade de uma mudança?
Padua: No início de safra, a baixa qualidade da matéria-prima favorece a produção do etanol em detrimento do açúcar. O resultado do mix depende da proporção da produção entre as unidades anexas que fazem etanol e açúcar e as dedicadas a etanol.
Canal: “Levantamento preliminar conduzido pela UNICA e demais associações do Centro-Sul indica que 24 unidades devem iniciar a moagem de cana na segunda quinzena de março, tendo ao final do mês 54 usinas em operação no Centro-Sul. Esse número é inferior às 87 unidades que estavam em operação em 31 de março de 2020.” Foi confirmada essa informação? Por que essa redução?
Padua: Alguns produtores estão dando mais tempo para a planta se desenvolver, já que houve falta de chuvas ano passado e incêndios criminosos em algumas localidades, que acabaram matando os brotos.
Canal: Quantas usinas vão moer ou estão moendo nesta safra? Houve redução em relação ao ano passado?
Padua: Duas novas unidades no estado de São Paulo estão previstas para iniciarem a moagem e uma unidade dedicada a produção de etanol de milho será inaugurada. A expectativa é de que no Centro-Sul 270 unidades operem nesta safra.
Canal: Qual a previsão de data de encerramento da safra?
Padua: A previsão de encerramento de safra depende da oferta de cana, que depende do clima no decorrer da safra. Impossível prever, porém todas as empresas querem terminar antes de dezembro, quando inicia o período chuvoso, que dificulta a colheita. No Mato Grosso do Sul, que tem clima diferente, temos safra praticamente durante os 12 meses.
Canal: As condições climáticas já começaram a afetar a safra?
Padua: As condições climáticas são um ponto chave para o bom aproveitamento da cana-de-açúcar, influencia no crescimento e no ATR. Como em qualquer cultura agrícola é preciso ter chuvas no momento e quantidade certos. Períodos secos, no momento certo, beneficiam o aproveitamento de moagem.
Canal: Qual o principal destino da produção de etanol? E de açúcar?
Padua: Nessa última safra 38% da oferta do ATR teve como destino o mercado externo na forma de açúcar e etanol e 62% foi para o mercado interno, em forma de açúcar, etanol carburante e etanol para outros usos, como higiene, bebidas, perfumarias, etc.
Canal: Quais as perspectivas para a produção de etanol de milho para a safra 2021?
Padua: A produção de etanol de milho tem tido avanços consistentes no Brasil, em destilarias dedicadas e flex, que processam milho e cana. O grão tem a vantagem de estar disponível o ano todo. Acreditamos que o etanol de milho continuará contribuindo para suprir a demanda interna, especialmente em estados com menor oferta de cana e nas entressafras.
Canal: Qual o principal destino deste combustível a base de milho?
Padua: Assim como o de cana, o etanol de milho tem como principal destino o mercado interno brasileiro.
Canal: Qual foi a produção de etanol de milho em 2020? Superou a expectativa?
Padua: O etanol feito a partir do milho alcançou 2,57 bilhões de litros na safra recentemente encerrada, o que representa um avanço de 58,13% em relação à safra 2019/20. Com isso, a participação do biocombustível no volume total de etanol no Centro-Sul foi de 8,45%.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia