Investir, economizar e cuidar do meio ambiente são as premissas do produtor de leite, Antoninho Godinho de Francisco Beltrão (PR). Ele financiou 20 placas fotovoltaicas para produção de energia solar, por meio do programa Mais Alimentos do Governo Federal. A energia produzida é usada para ordenhar 18 vacas leiteiras e atender energética da demanda da fazenda.
O telhado da casa que Antoninho mora com a família é o suporte de fixação das placas, que ajudou a diminuir o custo de instalação. O produtor de leite conheceu a tecnologia de placas fotovoltaicas em uma feira da região. “O preço me assustou um pouco no início- ele investiu aproximadamente R$ 38 mil – mas é um valor que vale a pena, além de economizar e lucrar com a energia, podemos preservar o meio ambiente e investir em energias renováveis, sem queimar carvão, sem represar rios para ter a energia”, explica.
A conta de energia da propriedade chegava a R$ 500 ao mês. “Em setembro reduzimos para R$ 380 e, no mês passado, chegou apenas R$ 80. A meta é zerar a fatura e ter apenas a taxa de ligação na rede, mas isso depende muito do clima”, explica o agricultor. O excedente de energia produzido é encaminhado para o sistema de energia elétrica e é convertida em créditos junto à concessionária. Os créditos são abatidos da conta de luz.
O uso de créditos de energia foi possível a partir da resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e a revisão 687, em vigor desde o último mês de março. A regulamentação permite que cada consumidor vire produtor de energia elétrica e use os créditos junto a concessionária para abater na sua conta de luz. “A normativas da Aneel e da Companhia Paranaense de Energia (Copel) são suporte para que o produtor invista em fontes de energia renovável”, assegura Antoninho.
Agora a propriedade é alvo de visitas de agricultores interessados no modelo. “Muitos da associação nos visitam para conhecer o processo. Tem muita gente interessada em proteger a natureza. Eu também ajudei a destruir a natureza, quando percebemos a falta de água, aquecimento global temos noção que nossas atitudes podem ajudar o planeta. A geração de energia renovável é uma atitude para longo prazo”, pontua.
O programa
Antoninho é o primeiro agricultor que aderiu ao programa Mais Alimento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) que estimula a geração de renda e melhorar o uso da mão de obra familiar, por meio do financiamento de atividades e serviços rurais agropecuários e não agropecuários desenvolvidos em estabelecimento rural ou em áreas comunitárias próximas. O programa possui a linha de crédito para investimento em energias renováveis através do Pronaf Eco e o Programa Mais Alimentos, que tem como finalidades o investimento em tecnologias de energia renovável, como o uso da energia solar, da biomassa, eólica, miniusinas de biocombustíveis e a substituição de tecnologia de combustível fóssil por renovável nos equipamentos e máquinas agrícolas.
O prazo de pagamento é de até 10 anos, incluídos até três anos de carência. “Para nós, é muito importante atingir um público maior, no sentido de divulgar e alavancar o financiamento de energias renováveis com a linha de credito do Pronaf”, explica o coordenador do Mais Alimentos Nacional, André Luiz Lemes Martins.
Martins pontua que a expectativa de energia gerada é para suprir todo o consumo do agricultor, sendo que no dimensionamento do projeto, o técnico deverá considerar a quantidade de placas fotovoltaicas necessárias para suprir a demanda de energia consumida.
Os produtores que mais acessam a linha de credito do Pronaf estão na região sul do Brasil. “Especificamente para financiamentos de sistema de geração de energia eólica e solar, ainda não há uma região em destaque, já que o acordo de cooperação técnica com as associações do setor foi assinado recentemente”, pontua o coordenador do Mais Alimentos Nacional.
Mas as possibilidades do uso da energia renovável na agricultura familiar ainda são pouco conhecidas. “Acreditamos que, por meio do incentivo e da disseminação de bons exemplos de utilização, juntamente a um trabalho de sensibilização junto aos agricultores por parte de todos os agentes envolvidos no processo – Governo Federal, entidades, empresas e até mesmo as redes estaduais de assistência técnica rural – será possível promover e incrementar o uso dessa tecnologia”, reconhece Martins.
Para a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) os programas do governo são válidos. “Para fazer uma análise completa, talvez seja interessante considerar a atual situação econômica que pode dificultar investimentos para a compra e instalação, por exemplo”, explica a presidente executiva ABEEólica, Elbia Melo.
Para participar
O agricultor deve procurar o sindicato rural ou a empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) de seu estado para obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Com a DAP em mãos, a empresa de Ater do município deve ser procurada para elaborar o Projeto Técnico de Financiamento. O projeto deve ser encaminhado para análise de crédito e aprovação do agente financeiro. Com o Projeto Técnico, deve-se negociar o financiamento junto ao agente financeiro. Aprovado o Projeto Técnico, o agricultor familiar está apto a acessar o recurso e começar a implementação.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia