Gargalos da indústria goiana

As dificuldades e a competitividade da indústria e a agroindústria goiana foram abordadas em uma entrevista com o presidente reeleito da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), o empresário, Sandro Mabel.

CANAL – JORNAL DA BIOENERGIA: Quais os maiores desafios do setor industrial goiano?

SANDRO MABEL: Não só o setor industrial goiano, mas toda a economia está passando por um período desafiador. O momento atual é de recuperação, mas vem seguido de um período de importantes quedas na atividade produtiva. O legado que a pandemia deixou vai ser superado, porém tendo que contornar algumas adversidades.

Para Goiás, o grande desafio é a competitividade de nossa indústria. Precisamos de investimentos que visem à melhoria na produtividade das empresas. O uso de novas tecnologias e a qualificação da mão de obra, principalmente para lidar com essas tecnologias, devem ser o foco. Goiás tem representatividade na economia nacional, porém carece de políticas públicas de incentivo à industrialização, que visem ao aumento da produtividade.

Goiás está na terceira posição do ranking dos Estados fabricantes de medicamentos, somos o segundo maior produtor nacional de etanol e o quarto maior na produção de açúcar. Temos, ainda, a indústria de alimentos e bebidas, da mineração e de automóveis com destaque no ranking nacional. Isso revela uma economia dinâmica e variada.

Sendo assim, o principal desafio hoje é melhorar a competitividade e a produtividade da atividade industrial, com uma política industrial que enxergue as particularidades e oportunidades de nosso Estado.

01CANAL: Quais os gargalos para a agroindústria?

SANDRO MABEL: Os gargalos são vários, contudo, alguns são mais determinantes do que outros para a expansão agroindustrial no Estado, como é o caso da disponibilidade energia, principalmente no interior, onde há várias plantas agroindustriais com investimentos parados por não terem o insumo disponível. Essa variável é um importante gargalo para a agroindustrialização da agropecuária goiana. Sem energia, não há agregação de valor dos produtos agropecuários, não há segurança no fornecimento de suprimentos entre os elos das diversas cadeias produtivas no Estado, não há demanda por trabalhos técnicos e consequentemente geração de maior renda, não há geração de impostos, não há incentivos à migração para o interior do Estado e não há atratividade para os grandes investimentos industriais. O cenário é desafiador para a expansão da agroindústria. Além da falta de energia no Estado, estamos num cenário de encarecimento da energia no mundo todo, o que vai exigir maior articulação e coordenação entre as entidades empresariais e o poder público.

Além dessa questão energética, o desenvolvimento tecnológico é um fator transversal para todos os setores produtivos, e não é diferente na agroindústria. Nesse sentido, o desafio está, também, no aumento da eficiência da mão de obra com uso eficiente da mecanização na atividade rural, aumento e melhoria na utilização de insumos como defensivos e fertilizantes, pensando de forma sustentável em conformidade com o mercado mundial, e melhoria na acessibilidade às ferramentas de gestão e automatização de processos. Tudo isso com foco no aumento da competividade e da produtividade do setor.

CANAL: O atual governo estadual, que foi reeleito, tem desenvolvido algumas políticas pró-indústria, com incentivos fiscais. Mas é o suficiente?

SANDRO MABEL: Incentivos fiscais são uma ferramenta para corrigir as distorções do mercado. Goiás tem seus atrativos, mas o eixo Rio-São Paulo ainda é a escolha da maioria das indústrias para a implantação de suas unidades produtivas, por ficar próximo dos grandes mercados fornecedores e consumidores, o que reduz custo de produção e facilita o escoamento dos produtos.

Então uma política de incentivos fiscais e de desenvolvimento é necessária, quase obrigatória, porém está longe de ser o suficiente. Precisamos de uma política industrial bem desenvolvida e consolidada, com visão e projeção de futuro. Não basta o Estado oferecer um programa de incentivos fiscais; é preciso que essa política e, ainda, as obrigações tributárias acessórias sejam aperfeiçoadas, simplificadas e modernizadas.

Além da questão tributária, as políticas pró-indústrias devem visar também programas de apoio à inovação tecnológica, capacitação e qualificação da mão de obra, numa unificação de desenvolvimento industrial, científico e tecnológico.

CANAL: Quais foram os principais desafios para a retomada econômica?

SANDRO MABEL: Ainda estamos passando por vários desafios. A retomada está sendo desenhada, mas ainda temos um longo caminho pela frente. As quedas acumuladas dos últimos anos seguem vagarosamente sendo revertidas, mas muito se perdeu. Existe uma discussão de desindustrialização que o País tem vivenciado, e os últimos acontecimentos agravaram ainda mais esse cenário.

A questão tributária é um grande desafio para fomentar o crescimento e o investimento no setor industrial. Não bastasse a complexidade do sistema tributário, muitas vezes a alta carga tributária brasileira desestimula o investimento. A falta de mão de obra qualificada é outro entrave no desenvolvimento industrial.

Portanto, para reverter o quadro atual e garantir, finalmente, a retomada da economia, os desafios são muitos, mas principalmente, aumentar a competividade com foco na inovação tecnológica, desenvolver uma política direcionada à educação com foco no mercado de trabalho e na qualificação da mão de obra, além de apresentar uma política de ampliação e melhoria no acesso das empresas aos financiamentos produtivos, dando um suporte subsidiado, e por último, mas não menos importante, trabalhar numa reforma tributária, que simplifique e reduza a carga tributária atual.

CANAL: O senhor é um empresário de sucesso, qual o motivo que o fez querer continuar liderando a Fieg?

SANDRO MABEL: A decisão de seguir à frente do Sistema Fieg, incluindo as instituições Sesi, Senai e IEL, decorre da percepção de que ainda há muito por fazer, diante do desafio de Goiás formar, até 2025, mais de 300 mil profissionais para a indústria do futuro, apontado pelo Mapa do Trabalho Industrial do Senai. Eu nunca havia trabalhado com educação, área pela qual me apaixonei, tal qual sou apaixonado pela indústria, ao comandar Sesi e Senai, instituições que, tenho certeza, podem ajudar a vencer esse enorme desafio de formar bons profissionais, profissionais campeões para uma indústria campeã, como é a nossa. Igualmente, há no horizonte um outro desafio hercúleo caracterizado pelo recente processo de desindustrialização que não só o Estado de Goiás, mas que todo o País vem sofrendo, em que também confiamos no potencial do Sesi, Senai e IEL para fazer com que as indústrias cresçam mais e se desenvolvam mais rumo à produtividade e competitividade. Não só eu acredito nisso, mas todos os diretores da Federação das Indústrias do Estado de Goiás, de nossos sindicatos industriais, os quais entenderam que posso ser importante nesse processo por ser uma pessoa que gosta de desafios. Então, abraçamos essa nobre missão de ajudar o Estado, as indústrias de Goiás, a superar essas dificuldades conjunturais. Em meio a tudo isso, conseguimos, com política estratégica e arrojada de contenção de despesas, levantar recursos para investir, até 2026, mais de meio bilhão de reais na Rede Sesi e Senai no Estado, visando à sua modernização e expansão, num processo que já estartamos, ao desenvolver projetos ousados como a construção da Escola Plus Sesi e Senai, em Goiânia, além de elevar as Faculdades Senai a um outro patamar, tornando-as referências em automação industrial, em engenharia e também em inteligência artificial para formar bons profissionais nessas áreas. Portanto, já conseguimos muito nesses quatro primeiros anos de gestão e vamos avançar muito mais.

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