A Volkswagen encontrou uma forma de desenvolver automóveis eletrificados sem perder sua vocação de fabricante dos chamados carros “de entrada”, ou, mais populares. Numa parceria entre as equipes da montadora no Brasil, Índia e a Skoda, marca do grupo que atende parte da Europa, será desenvolvida uma nova plataforma de um veículo híbrido que poderá ser abastecido com etanol.
“Com o avanço das novas tecnologias os carros de entrada estão cada vez mais caros”, afirma Alexander Seitz, que acaba de assumir a presidência da Volks na América Latina. A vantagem da parceria, diz o executivo, é alcançar escala e, consequentemente, redução de custos. Na Europa, diz ele, o foco do novo projeto serão mercados como Espanha, Itália e outros com potencial para carros de entrada.
Seitz quase não dá pistas de quando o veículo com essa nova plataforma será lançado no Brasil. O executivo fala em “alguns anos” e que o projeto não está exatamente no começo, mas, também não em fase avançada.
Faz pouco tempo que a matriz da Volkswagen autorizou esse projeto, encaminhado pelo argentino Pablo Di Si, antecessor de Seitz e hoje o comando da montadora na América do Norte.
Foi Di Si, incansável defensor do etanol brasileiro, quem preparou o terreno para obter o aval da matriz. Mas caberá a Seitz equacionar custos para o projeto vingar.
“Vocês sabem, eu sou um contador”, disse ontem, depois da inauguração de um centro de pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis, na fábrica da Volks em São Bernardo do Campo (SP), base da maturação do novo projeto.
Aos 60 anos, o executivo alemão passou anteriormente pelo Brasil, onde, além de aprender português e casar com uma mineira, no cargo de vice-presidente de compras ficou conhecido, principalmente pelos fornecedores, pela austeridade com custos.
Antes de retornar ao Brasil este ano, Seitz foi vice-presidente da Volks na China e membro do conselho da Audi, com responsabilidade por finanças e controladoria.
O executivo diz que agora, com a parceria, a Índia, que pretende ampliar o uso de etanol na sua frota, vai absorver o conhecimento do Brasil com esse combustível. Já na Europa, os novo híbrido de entrada funcionará com gasolina.
A Volks pretende encontrar um jeito de estimular o consumidor brasileiro a dar preferência ao uso do etanol como forma de contribuir para a descarbonização. “Acabou essa coisa de mistura que no passado até eu achava interessante fazer quando dirigia um Gol”, diz o executivo.
Da mesma forma, a empresa também quer achar meios de convencer o consumidor de que não é mais tão verdadeira a conta dos 70%. Nas primeiras gerações de carros flex abastecer com etanol só valia a pena se o valor desse combustível equivalesse a 70% do preço da gasolina. Nas mais atuais, os motores foram desenvolvidos para ter melhor rendimento com etanol, segundo os técnicos da Volks.
Além dessa nova relação com o consumidor, estudos sobre biocombustíveis, pesquisa de materiais mais sustentáveis e formas de reciclar materiais e peças estão na lista das atribuições do centro inaugurado ontem.
O trabalho não se resumirá à equipe da Volks. A montadora fez parceria com sete empresas e dez universidades, além de entidades voltadas à pesquisa.
Segundo Seitz, globalmente a Volks também trabalha no desenvolvimento de carros de entrada totalmente elétricos. “Estudamos quando um projeto similar poderá vir para cá”, destaca.
A direção mundial da companhia assumiu o compromisso de todas as suas operações e produtos atingirem emissão zero de carbono em 2050. E, recentemente, anunciou que a partir de 2033 produzirá apenas modelos 100% elétricos na Europa.
À medida, portanto, que o programa de lançamento de carros “abastecidos” na tomada acelera na Europa, Seitz assume o desafio de ampliar o fornecimento de híbridos a mercados ainda não maduros para a total eletrificação. “Viveremos uma pluralidade de tecnologias”, afirma o chefe da engenharia da Volks na América Latina, Mathias Michniaki. Valor Econômico