A cana-energia também conhecida como “super cana” é uma variedade genética desenvolvida com mais folhas e fibras e dedicada para ser matéria-prima na produção de energia elétrica ou etanol de segunda geração, a partir da palha e do bagaço e para produção de químicos a partir de material celulósico. Assim, a característica desta variedade é ter muita folha e baixo teor de açúcar. Embora muito mais produtivas do que a cana convencional, um dos obstáculos do maior uso desta variedade é a dificuldade de cristalizar a sacarose de seu caldo para produção de açúcar de mesa – que é o produto mais rentável para as usinas.
A pesquisa
Assim, a um grupo de pesquisadores do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) desenvolveu uma levedura a partir da levedura comercial Pedra 2 – uma das mais utilizadas no Brasil para produção de etanol desenvolvida na Usina da Pedra –, que possibilitou superar essa dificuldade. A levedura comercial, ainda sem nome, foi patenteada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e já pode se utilizado comercialmente no setor sucroenergético.
A pesquisa multidisciplinar envolveu pesquisadores da área de biologia molecular, processos e industrial e foi desenvolvida por Paulo Eduardo Mantelatto, Jaciane Lutz Ienczak, Leandro Vieira dos Santos, Tassia Lopes Junqueira, Charles Dayan Farias de Jesus e Gonçalo Amarante Guimarães Pereira sob a coordenação da responsável pelo programa de Cana-Energia do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Maria Carolina Grassi.
No caldo da cana-energia são encontrados basicamente três tipos de açúcares: glicose, frutose e sacarose. O último é o açúcar de mesa, mas índice do mesmo da “super cana” não é alto, assim, quando se tenta cristalizar o caldo o processo não é realizado. Diferentemente da cana tradicional, que a quantidade da sacarose é alta. “Na cana tradicional a cristalização é fácil. Na cana-energia, o índice dos outros açucares atrapalha no processo”, explica Carolina.
A levedura modificada consome apenas a glicose e a frutose do caldo da “super cana”. A novidade desenvolvida em laboratório consome primeiro os açucares não utilizados na cristalização, produzindo o álcool a partir disto e, depois, o açúcar que sobrou, que é apenas sacarose, é facilmente cristalizado.
Com o uso da levedura modificada, a produção de açúcar varia de acordo com a variedade da cana-energia. “Com o uso da levedura a cana-energia terá a mesma concentração da cana tradicional ou até um pouco mais, o obstáculo da cana energia que era a produção de açúcar foi resolvido”, pontua.
A “Super cana”
Esta variedade genética é obtida a partir do cruzamento de Saccharum officinarum – selvagem e rica em açúcar – e Saccharum spontaneum – selvagem e rica em biomassa-, que apresentam maior teor de fibras e robustez. E já está no mercado sendo desenvolvida atualmente pelas empresas privadas – Vignis, GranBio- e pelas agências governamentais – Instituto Agronômico (IAC) e Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa).
A ideia inicial da cana-energia é uma variedade com muita biomassa e uma alta produtividade. Por isso, para se mensurar, um hectare de cana-energia gera 170 toneladas, já a tradicional o resultado é de 90 a 95 toneladas por hectare. Em fibras, a primeira tem 27% na composição e a segunda entre 15 a 17%. Esses valores são variáveis. Mas, no entanto, o mercado de açúcar é muito grande. Mas neste quesito, a cana-energia apresenta um número inferior a tradicional, em média 8,5% por indivíduo, quanto a tradicional é de 12%.
Para o investidor, aumentar a produção de açúcar da cana-energia é um caminho viável. Segundo Maria Carolina Grassi, a cana-energia pode ser a solução para a perda de produtividade nos canaviais brasileiros. “Nos últimos anos a produção decresceu devido à mecanização, no qual houve o aumento do pisoteio dos canaviais pelas máquinas, perdendo a rebrota da cana na próxima safra”, explica.
Ainda está em estudo, mas cana-energia se apresenta também mais resistente em comparação a tradicional, sofre menos com o estresse hídrico – ausência ou chuva em excesso – , resiste mais as pragas e consegue possui uma média de corte superior, uma média de dez cortes. A tradicional chega a cinco cortes decrescentes.
Canal-Jornal da Bioenergia