Macaúba: a palmeira que gera biodiesel e pode “limpar” o passivo da aviação

Fruto da palmeira tem múltiplos usos e sua produtividade é 8 vezes superior à da soja

Você já pode ter passado por alguma palmeira de macaúba, imaginando que era apenas uma espécie de coqueiro, sem saber que tinha em seu caminho um fruto com grande potencial para produção de biodiesel. Cerca de 8 vezes mais produtivo que a soja, o fruto da Acrocomia aculeata, cujo nome popular é macaúba, chega a produzir 6.000 litros de óleo por hectare, enquanto a soja rende apenas 500 litros (e responde por 70% da produção nacional de biodiesel).

De acordo com a análise Viabilidade da macaúba para a produção de biocombustível, encomendada pelo WWF-Brasil e elaborada pela consultoria Atrium Forest, o fruto tem capacidade de produzir óleo suficiente para satisfazer de forma sustentável a crescente a procura interna e global por biodiesel sem exigir uma mudança no uso da terra e sem reduzir o rendimento das pastagens.

O fruto desta palmeira nativa do Brasil tem múltiplos usos e pode ser transformado em óleo vegetal, ração animal e um denso granulado de biomassa que tem diversas aplicações industriais. Além disso, é uma opção sustentável para a produção de óleo vegetal, uma vez que a espécie também cresce fora das zonas de floresta tropical, precisamente no Cerrado brasileiro, e pode ser plantada em sistemas agroflorestais ou consorciada com pastagens já existentes.

“Há uma necessidade urgente de reduzir o uso de energias fósseis, como o querosene, no setor de aviação, que está buscando inovações em termos de combustível limpo. A macaúba é uma excelente opção para gerar escala no uso de energia renovável e como combustível para aviação”, explica Ricardo Fujii, coordenador de conservação do WWF-Brasil.

A análise apresenta o potencial energético da macaúba, aponta estratégias opcionais de plantio compatíveis com o estágio atual de mercado e desenvolvimento da espécie, e avalia a viabilidade econômica do cultivo da macaúba em sistemas agroflorestais com integração lavoura-pecuária-floresta, inclusive em áreas degradadas como o corredor agrícola no Centro-Oeste. Também pode ser cultivada amplamente no Cerrado, principalmente consorciada com pastagens extensivas, alcançando produtividade satisfatória.

As 263 pesquisas científicas usadas para a elaboração da análise indicaram também que a tendência é de regeneração das pastagens, visto que a macaúba contribui para a melhoria da estrutura do solo, o aumento da infiltração da água pluvial e a retenção de água em decorrência de seu sistema radicular. “A macaúba é a espécie de menor risco técnico e econômico entre as candidatas a fornecer matéria-prima à produção de biodiesel e bioquerosene, dado que estão bem adiantadas as pesquisas sobre a cultura, já objeto de diversos pequenos projetos em andamento”, destaca Fujii.

Além do biodiesel e bioquerosene, é possível produzir tortas e rações de excelente qualidade para a alimentação animal, produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos diversos. Desse modo, a macaúba pode contribuir para introduzir a agroindústria em regiões com economia pouco dinâmica e elevados indicadores de pobreza, promovendo geração de renda e empregos.

A viabilidade econômico-financeira da adoção da macaúba em regimes consorciados é altamente influenciada pelo carbono capturado e pelo valor auferido com ele. Por essa razão, a macaúba torna-se mais atrativa à medida que os mercados de carbono voluntários e obrigatórios se consolidem. (Assessoria WWF-Brasil)

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