Mercado de soja pode ficar ainda mais acirrado

 A oferta restrita de soja em grão no Brasil, agravada pelo atraso da colheita da safra 2020/21, já se reflete também no mercado de derivados. A oferta é limitada também no óleo e no farelo e em alguns pontos do país representantes do setor de proteínas animais chegaram até mesmo a relatar dificuldades de encontrar farelo para comprar.

Enquanto isso, neste cenário, os preços permanecem em patamares historicamente altos, acima de R$ 2800,00 por tonelada, podendo superar os R$ 2900,00 em algumas regiões. Afinal, além da demanda interna, as exportações do derivado também continuam a rodar neste início de 2021 e, de acordo com números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), já foram embarcadas 788,6 mil toneladas. O ritmo está dentro da normalidade, e em todo janeiro de 2020, os embarques somaram 1,050,3 milhão de toneladas.

No Rio Grande do Sul, estado que concentra um enorme potencial processador da oleaginosa no país, a oferta do grão está limitada e cara para a indústria. Assim, o esmagamento já se mostra mais lento neste início de ano.

“A indústria de carnes já se ressente do custo da matéria prima e para termos um exemplo, a indústria de ovos está perdendo R$ 1,00 por bandeja devido aos altos custos de produção. Vemos na gôndola a repercussão dos preços altos. Óleo de soja com preços nunca vistos antes”, explica Rita De Baco, analista de mercado e diretora da De Baco Corretora.

Na análise de Rita, a situação deve se agravar, principalmente no segundo semestre, quando o pico de demanda por farelo é maior no setor de proteínas animais, e com a corretora estimando a safra brasileira de soja em 128 milhões de toneladas. “O segundo segundo semestre de 2021 será bem mais demandado e com menor estoque, já que muita da soja atual está comprometida com renegociações de contratos”, diz.

Para Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities, essa condição de oferta ainda muito limitada de matéria-prima deverá se normalizar em mais algumas semanas, com a colheita ganhando mais ritmo, principalmente em fevereiro.

E essa melhora é esperada também por Ariovaldo Zani, presidente do Sindirações. “Na virada do ano ouvimos muitos rumores com os compradores com dificuldades para adquirir o farelo. Já nestes primeiros dias de janeiro a situação parece um pouco melhor. A oferta está mais restrita, mas não está faltando”.

No mercado internacional, os preços do farelo de soja também estão elevados, ainda como explica Vanin. “A falta de soja nos Estados Unidos, com muita exportação, vai puxar o farelo e o óleo por lá”, diz, lembrando que a disputa entre as demandas externa e interna norte-americana será tão intensa quanto aqui no Brasil. Ainda assim, o analista acredita que há uma tendência que o esmagamento no país possa ser reduzido nesta temporada.

Além de Brasil e Estados Unidos, há ainda um cenário semelhante na Argentina. “O esmagamento por lá também está lento, o clima ainda preocupa, os produtores não vendem e isso deixa o mercado esvaziado”, explica Vanin. Assim como no Brasil, na medida em que a safra for se concluindo, a colheita for iniciada e os negócios forem retomados, a tendência é de que o processamento de soja no país, que é o maior produtor e exportador mundial de farelo e óleo.

Na China, as margens de esmagamento já não estão tão boas como antes e pode haver uma pontual redução de demanda, mas nada que possa mudar a curva de forte crescimento das importações de soja. “A soja ficou muito cara e os chineses estão agora tentando fazer margem com o que já foi comprado”, afirma o analista.

Mais do que isso, explica ainda que “farelo e óleo caíram na China, e poderá haver mais estoques de alimentos por lá do que o necessário. As viagens durante o feriado do Ano Novo Lunar (o mais longo e importante do país) diminuirão, isso é fato (em função do coronavírus). E com essas margens ruins, ou a soja abaixa, os sobem (os preços) farelo e óleo”, complementa.

Ainda na análise de Vanin, as compras da China no pós feriado deverão acontecer, porém, podem se mostrar um pouco mais lentas do que se espera, já que a nação asiática está bem coberta no curto prazo. Notícias Agrícolas

 

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