Mobilidade sustentável é o caminho para o etanol

O diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Antonio de Pádua Rodrigues, conversa com o Canal – Jornal da Bioenergia sobre o valor do etanol nas bombas e sobre um futuro próximo, a mobilidade do uso do etanol e os carros elétricos.

Pádua é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração de Empresas, Serviço Social e Educação de Americana (SP), com especialização em Administração de Projetos na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo.

Canal – Jornal da Bioenergia: O preço do etanol caiu nas bombas recentemente. O que tem levado a essa redução?

Antonio de Pádua Rodrigues – Estamos em um ano atípico. Geralmente o preço cai na safra e sobe na entressafra. Neste ano aconteceu exatamente o inverso. O consumo de combustíveis do Ciclo Otto está em curva de baixa desde novembro de 2021. Assim, os estoques que estavam deficitários passaram a ser superavitário. Com isso, com a ampliação da oferta, o preço praticado ao nível do produtor reduziu, queda de até R$ 1,05 de novembro até o presente momento. Agora temos estoques suficientes para suprir o fornecimento do biocombustível na entressafra. Esse cenário deve se manter desta forma se não ocorrer alteração nos preços praticadas na gasolina.

Canal – Qual foi o impacto do clima na produção de etanol?

Pádua – Nesta safra, a região Centro-Sul perdeu 80 milhões de toneladas de cana devido ao clima, às geadas e aos incêndios que aconteceram principalmente em setembro. Com isso, produziram-se quase três bilhões de litros de etanol a menos. Essa grande redução restringiu a oferta se pensarmos no nível de demanda. Esperamos que a safra que se inicia agora em abril venha numa condição mais favorável, o clima está positivo para o desenvolvimento da planta, tem chovido bem em quase toda a região canavieira, então devemos ter uma boa recuperação da produtividade.

Canal – A venda direta de etanol para os postos foi quase nula. A Unica acredita que a Medida Provisória editada recentemente permitirá essa elevação?

Pádua – Acreditamos que elas serão muito pontuais e devem representar menos de 5% de todo o mercado. O setor é um grande atacadista, ele não tem a característica de fazer varejo. É muito difícil um produtor do interior de São Paulo, por exemplo, ter a logística para entregar o combustível nos municípios da grande São Paulo. Deve haver, sim, alguma venda muito localizada a postos de combustíveis próximos às unidades produtoras, mas a medida não deve modificar o mercado de combustíveis.

Canal – Muito se fala de mobilidade sustentável. A combinação carro elétrico e etanol pode ser uma alternativa? Por quê?

Pádua – Sem dúvida é uma alternativa a ser considerada entre as diversas rotas na transição para uma mobilidade sustentável, um exemplo são os carros híbridos flex. Outra vantagem de se usar etanol para eletrificar veículos é que, com células a combustível, os veículos poderão gerar energia elétrica a partir do hidrogênio contido no etanol. Com isso, não seria necessária uma grande alteração na infraestrutura do país. O custo seria inferior à eletrificação da frota, estimada em mais de um trilhão de reais pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Canal – Então o etanol tem espaço em um sistema sustentável de mobilidade?

Pádua – Além de ser uma alternativa para a eletrificação veicular, o uso de etanol é uma maneira simples, rápida, fácil e barata de reduzir emissões. Temos isso no Brasil e somos exemplo para diversos países. Em 2021, o Reino Unido decidiu ampliar a mistura de etanol à gasolina de 5% para 10%, e a Índia quer chegar em 2025 com 25% de mistura, meta antecipada em cinco anos. Mais de 60 países adotam ações semelhantes. É uma tendência que segue o exemplo brasileiro, mas é claro que devemos considerar as características de cada região e envolver a complementariedade de diferentes rotas tecnológicas.

Canal – Falando em sustentabilidade, a biomassa da cana-de-açúcar gerou 79% da bioeletricidade ofertada à rede em 2021. O que isso representa para o país?

Pádua – A bioeletricidade ofertada pelo setor sucroenergético é sempre uma geração estratégica para o país. Em 2021, foi equivalente a 4% do consumo anual de energia elétrica ou a 30% da geração de energia elétrica pela Usina Itaipu durante o ano. Se considerarmos que em 2021 vivenciamos a pior crise hidrológica no setor elétrico brasileiro desde 1930, a energia da biomassa da cana poupou 14% da energia capaz de ser armazenada sob a forma de água nos reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, por conta da maior previsibilidade e disponibilidade da bioeletricidade justamente no período seco e crítico para o setor elétrico brasileiro. (Canal – Jornal da Bioenergia)

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