Plantas geneticamente modificadas (GM) têm ajudado a aumentar a produção nos campos brasileiros e no mundo. A primeira cana-de-açúcar geneticamente modificada e comercializada é de origem brasileira e foi aprovada em meados de 2018. Mais de cem usinas da região Centro-Sul do Brasil já plantaram a CTC20BT. A expectativa do desenvolvedor, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), é que até o fim de atual safra as lavouras com esta variedade atinjam aproximadamente 4 mil hectares.
A novidade para a safra 2019/2020 é a segunda variedade geneticamente modificada, a CTC9001BT, que foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no fim do ano passado.
A CTC9001BT também é resistente à broca da cana – Diatraea saccharalis-, a principal praga que afeta as lavouras no Brasil, com prejuízos que chegam a R$ 5 bilhões por ano, devido a perdas de produtividade agrícola e industrial, qualidade do açúcar e custos com inseticidas. Esta pode ser plantada em todo Brasil, sendo indicada principalmente para ambientes com solos mais restritivos.
Outra vantagem são os ganhos na produtividade agrícola e benefícios na indústria, já que oferecem uma melhor qualidade da matéria-prima. Outro benefício é a redução de custo de até R$ 2000/ha.
Segundo o diretor de Assuntos Corporativos do CTC, Viler Janeiro, o investimento total na pesquisa do CTC em P&D nos primeiros nove meses da safra 18/19 foi de R$ 77 milhões; na safra 17/18 (12 meses) foi de R$90,5 milhões. Ele pontua que a pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia para a cana-de-açúcar iniciou-se já há algum tempo. Especificamente o projeto de desenvolvimento da CTC 9001BT teve duração aproximada média de seis anos.
Diferencias
Tanto a CTC9001BT como a CTC20BT são resistentes à broca, mas têm características distintas. A CTC20BT é principalmente plantada em ambientes favoráveis, com solos bons e com maior incidência de chuva, enquanto a CTC9001BT é indicada para ambientes com solos mais restritivos. “Além disso, a CTC20BT é normalmente colhida no meio da safra, enquanto a colheita da CTC9001BT normalmente se realiza no início da safra”, pontua Janeiro.
A nova variedade estará disponível para comercialização na safra 19/20. Viler Janeiro explica que o CTC irá trabalhar junto aos produtores, iniciando o processo de distribuição de mudas e monitoramento do plantio. “O processo de propagação de mudas é similar ao de introdução de uma variedade convencional, com crescimento gradual da área plantada uma vez que as novas plantas serão replantadas para expandir a área de plantio”.
Atualmente, o CTC desenvolve outras pesquisas relacionadas à resistência à broca. Também realizam trabalhos de variedades resistentes ao Sphenophorus levis e tolerantes a herbicidas, como o glifosato. “O dossiê científico contendo estudos e informações técnicas da terceira variedade de cana geneticamente modificada será submetido à CTNBio nas próximas semanas”, revela Viler.
Mais pesquisas
Outra empresa focada no desenvolvimento da transgenia em cana-de-açúcar é a Embrapa Agroenergia. Atualmente quatro projetos merecem destaque: variedade tolerante ao déficit hídrico, outro de tolerância da cana ao alumínio, o terceiro com modificação da parede celular para etanol 2G e uma variedade de controle biológico da broca-da-cana.
Segundo o pesquisador da Embrapa Agroenergia, Hugo Molinari, cada uma das pesquisas está em uma fase. A tolerante ao déficit hídrico será cortada em julho, e em seguida, será feitas mudas. Os testes começam em setembro.
A variedade tolerante ao alumínio ainda está na casa de vegetação. A pesquisa da modificação da parede celular está no campo na unidade de testes da Embrapa no Distrito Federal. E a variedade resistente à broca é uma parceria com uma startup PangeiaBiotech, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii ) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) vá para o campo para multiplicação com plantio agendado para o segundo semestre deste ano e ensaio para 2019.
Edição gênica para novas variedades
As pesquisas de variedades geneticamente modificadas também são realizadas pela Embrapa Agroenergia, mas para agilizar e fugir da burocracia, a entidade desenvolve pesquisas de edição gênica. É o projeto Projeto CRISPRevolution, no qual já foram investidos R$5 milhões.
Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia, explica que a entidade está se dedicando a essa ferramenta que permite adição de características nas variedades.
A principal vantagem desta edição gênica é que as variedades resultantes delas não são consideradas transgênicas. “De acordo com a Normativa 16, temos condições de classificar esta planta como uma variedade convencional. Com isso, se abre um leque enorme para comercializar. Além de eliminar o custo com a regulamentação do transgênico que pode chegar até 60% do valor da variedade”, explica.
A edição gênica é realizada com quatro culturas diferentes pela Embrapa – soja, feijão, milho e cana-de-açúcar. As pesquisas seguem a linha das variedades genéticas. Hoje a Embrapa desenvolve variedades resistentes à herbicida imidazolinonas; com modificação para parede celular para a geração de etanol 2 G e aumentar o valor nutricional da folhagem para alimentação de ruminantes; além de gene que aumenta a sacarose na cana e tolerância à seca.
O método
A tecnologia CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) que funciona como um corretor ortográfico, permitindo identificar genes de interesse no DNA de qualquer espécie e modificá-lo de acordo com as necessidades da pesquisa, sem a inclusão de genes de outras espécies. A metodologia começou a ser utilizada na agricultura em 2014.
Por meio dessa técnica é possível corrigir e criar novas situações. Um exemplo recente é um milho desenvolvido nos Estados Unidos para atender a dois segmentos − fabricação de papel e utilização na indústria alimentícia. A semente do milho tem dois tipos de amido: a amilose (25%) e a amilopectina (75%), mas para utilização nessa indústria, quanto menos amilose, melhor. Para atender a indústria, foi desenvolvido um milho modificado com a técnica CRISPR, desligando o gene que produz a amilose, o que gerou um produto com 100% de amilopectina, já aprovado como não transgênico nos Estados Unidos, apesar de ter sido modificado geneticamente.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia