A produção de etanol cresceu 24,5% em Mato Grosso do Sul na safra 2018/2019 frente a 2017/2018, saltando de 2,63 bilhões de litros para 3,27 bilhões de litros. Com esse volume, o estado ultrapassou Minas Gerais e se tornou o terceiro maior produtor brasileiro do biocombustível, atrás somente de São Paulo e de Goiás, segundo a Associação dos Produtores de Bioenergia do estado (Biosul).
Com o volume de produção atingido neste ciclo, se fosse um país, Mato Grosso do Sul, conforme dados da Associação dos Produtores Combustíveis Renováveis dos Estados Unidos, a RFA – Renewable Fuels Association, de 2018, seria o quinto maior produtor mundial de etanol. Apenas os Estados Unidos (com 60,79 bilhões de litros), o Brasil (com 29,98 bilhões de litros), a União Europeia (5,41 bilhões de litros) e a China (3,97 bilhões de litros) fabricariam uma quantidade maior do biocombustível.
Mato Grosso do Sul, de acordo com as informações da RFA, produziu nesta temporada um volume maior de etanol do que países como o Canadá, a Tailândia, a Índia e a Argentina.
Segundo o presidente da Biosul, Roberto Hollanda Filho, do etanol processado no estado 76%, o equivalente a 2,40 bilhões de litros foram do tipo hidratado, que é vendido nas bombas dos postos de combustíveis, enquanto que outros 24%, foram do anidro, que é misturado na proporção de 27,5% a gasolina.
Do etanol “Made in MS”, 90% é vendido para outros estados, como São Paulo, Paraná e Minas Gerais, e o restante é comercializado em âmbito local. No mercado sul-mato-grossense, o biocombustível tem uma fatia de 16% nas vendas de combustíveis para veículos do chamado ciclo otto, que são aqueles que utilizam etanolou gasolina.
Em 2018, Hollanda aponta que o consumo de etanol hidratado em Mato Grosso do Sul cresceu 46,5% frente a 2017. Mesmo com esse incremento, a atual participação do biocombustível no mercado sul-mato-grossense está bem distante de outros grandes produtores brasileiros, como São Paulo, onde chega a 54% do total de combustíveis comercializados; Goiás, com 55%; Minas Gerais, 41% e Paraná, 38%.
O presidente da Biosul comentou que o setor tem grande expectativa que o programa RenovaBio, que deve estar em operação em 2020, ajude a alavancar ainda mais as vendas do biocombustível no estado e no país.
“Vemos agora um momento em que existe um plano nacional de biocombustíveis. O governo federal desenhou o RenovaBio, que prevê o aumento do uso de biocombustíveis, não somente o etanol, ao longo dos próximos anos. Isso pode trazer um impulso a nossa indústria e esperamos estar prontos para atender essa nova demanda que deverá surgir no Brasil. Ele não é subsídio, não é imposto e traz previsibilidade para o mercado. No médio prazo incentiva a eficiência e pode até refletir na queda de preços para o consumidor”, explicou.
Entretanto, Hollanda não demonstrou muito otimismo com outra proposta em discussão no país para tentar aumentar a comercialização do etanol e reduzir o preço para o consumidor, a venda direta das usinas para os postos. Ele disse que atualmente a legislação impede essa comercialização, demandando entre a produção e a venda, a passagem do biocombustível pelas distribuidoras.
“Se as usinas puderem vender diretamente para os postos vão se eliminar da cadeia os custos com o frete até os centros de distribuição e a margem das distribuidoras. Mas o custo da operação não acaba, pelo contrário, deve aumentar, já que, por exemplo, caminhões com menor capacidade vão transportar o etanol das usinas aos postos. Após vários cálculos percebemos que a redução de 5% a 7% nos custos com a eliminação da passagem pela distribuidora seria quase que totalmente compensada pelo aumento nos gastos com a operação”, avaliou.
Safra mais alcooleira
Para aumentar o volume de produção do etanol de forma tão expressiva neste ciclo, o presidente da Biosul explica as usinas aumentaram a quantidade de matéria-prima, o chamado mix de produção, para o processamento do biocombustível. No ciclo 2017/2018, foi de 75% e no 2018/2019, 85%. Em contrapartida, caiu a destinação para a fabricação de açúcar na mesma comparação, de 25% para 15%.
O presidente da Biosul comentou que a opção por priorizar a produção de etanol nesta safra ocorreu em razão das melhores condições de mercado para o biocombustível. “Isso é uma resposta ao mercado. O setor consegue se adaptar ao mercado. O que está acontecendo agora é um mal momento do açúcar, por conta de práticas comerciais, de um país que tem subsídios. Isso tira um pouco o interesse do mercado do açúcar e o setor se adapta. O que temos de ter em mente é que essa variação de mix, não é tão grande, quanto muitas vezes se pensa. Não vai se deixar de fazer açúcar para fazer somente etanol. Não temos indústria para isso. Existe o mercado sim. Esse é soberano, é ele quem regula a produção do setor”.
Nesta safra, das 19 usinas em operação em Mato Grosso do Sul, 10 produziram açúcar, conforme Hollanda. Todas processaram o produto bruto, chamado VHP, 3 produziram o cristal e 2 o refinado. O volume processado chegou a 947 mil toneladas, 36,5% menor que as 1,492 milhão de toneladas do ciclo anterior. Mesmo com a queda, o estado fechou o ciclo como o quinto maior produtor brasileiro.
Do açúcar processado no estado, 74% são do tipo VHP, 24% do cristal e 2% do refinado. Do volume fabricado, 76% é destinado a outros estados e países e somente 24% ficam no mercado interno. Em 2018, o estado exportou 615 mil toneladas de açúcar, 55% a menos que 2017. A receita alcançada com o alimento no ano passado chegou a US$ 177,5 milhões, 65% abaixo do ano anterior, o que representou 3,1% de participação no ranking de exportações de Mato Grosso do Sul.
Terceiro produto no setor
Além do etanol e do açúcar, outro produto ganha espaço no setor, a bioeletricidade. Todas as unidades em operação no estado cogeraram, utilizando o bagaço que sobra do processamento do biocombustível e do alimento para produzir sua própria eletricidade. Um grupo de 12, além do consumo próprio disponibilizou energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
“Foram exportados 2.568 GWh em 2018, o que representou um crescimento de 3,5% em relação a safra passada. Essa quantidade é bem maior do que todo o consumo residencial do estado, que em 2017 ficou em torno dos 1.792 GWh. Na média, Mato Grosso do Sul é o maior exportador de bioeletricidade por tonelada de cana moída”, ressaltou o presidente da Biosul.
Matéria-prima
Hollanda apontou que o estado terminou a safra 2018/2019 como o quarto maior produtor de cana-de-açúcardo país. O volume chegou a 49,5 milhões de toneladas, recorde na história do estado, o que representou um incremento de 5,4% frente as 46,9 milhões de toneladas da temporada 2017/2018. Esse volume foi atingindo com a colheita de 648,8 mil hectares. A quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) – indicador que reflete a qualidade da cana, atingiu os 132,2 quilos por hectare, um discreto aumento de 2,74% em relação ao rendimento do ciclo anterior.
Próximo ciclo
Das 19 usinas do estado, 17 já estão moendo no ciclo 2019/2020, que começou oficialmente neste mês de abril. A primeira previsão da Biosul é de um crescimento de 3% no processamento de cana, que pode atingir as 51 milhões de toneladas. Para a nova temporada, a projeção da entidade é de uma recuperação na produção de açúcar, com previsão de crescimento de 25%, atingindo 1,1 milhão de toneladas.
A estimativa também é de uma estabilização na produção de etanol na casa dos 3,2 bilhões de litros e de um incremento de 4% na exportação de bioeletricidade para o SIN, atingindo os 2.700 GWh. Globo Rural