A agricultura brasileira, ao longo das últimas três décadas, foi o setor da economia brasileira que mais apresentou ganhos de eficiência e da produtividade total dos fatores. Embora ainda seja recorrente pensar na atividade agrícola, como uma atividade de baixa intensidade tecnológica, foi exatamente os níveis crescentes de adoção de novas tecnologias que permitiram a contínua evolução da produtividade agrícola no Brasil.
Embora a disseminação tecnológica seja comum a praticamente todas as culturas agrícolas, merece destaque o ocorrido nas culturas do algodão, do milho e da soja, onde além dos maiores níveis de adoção da mecanização agrícola, proteção de cultivos com defensivos, o melhor manejo do solo e da sua fertilidade e o uso de genética melhorada e adaptada as diferentes regiões de produção no país, a grande ruptura tecnológica desse período, nessas três culturas, foi a adoção dos eventos de biotecnologia, com variedades e híbridos transgênicos com tolerância a herbicidas e resistência a insetos.
Após a sua desregulamentação, pela Lei 11.105/2005, a adoção de eventos de biotecnologia rapidamente ganhou os campos brasileiros nas culturas do algodão, do milho e da soja, com as taxas de adoção tendo atingindo patamares superiores a 90% da superfície cultivada já no começo dos anos 2010 [CÉLERES®].
A adoção dessas tecnologias ocorreu num ambiente de robustez institucional, regulatória e tecnológica onde, milhares de produtores rurais, em decisões individuais, tomaram a decisão de escolher soluções tecnológicas que proporcionassem ganhos diretos, expressos no crescimento da produtividade agrícola, mas também permitindo ganhos diretos em atributos ambientais [maior eficiência produtiva, menor uso de recursos naturais, menores emissões de gases de feito estufa entre outros atributos], e também benefícios econômicos no downstream da atividade agrícola, com maiores excedentes exportáveis e de abastecimento do mercado interno, permitindo custos de produção mais baixos para a indústria de proteína animal e de alimentos, aumentando o excedente de mercado.
Embora as culturas do algodão, milho e soja aqui enfatizadas não representem a totalidade do agronegócio brasileiro, é reconhecida a relevância que essas cadeias têm na composição do agronegócio como um todo, em especial a cadeia produtiva da soja.
Porém, é importante frisar que, numa análise mais detalhada, dos saldos efetivos de comércio exterior, o agronegócio brasileiro, em função da combinação de uma série de elementos que permitiram os robustos crescimentos da produtividade e eficiência do setor, respondeu pela sustentabilidade dos saldos comercial ao longo das últimas três décadas aqui analisadas.
Voltando ao tema da adoção da biotecnologia, como agente de transformação tecnológica na agricultura brasileira, merece destaque a longa curva de aprendizagem que os agentes envolvidos nesse setor tiveram ao longo das últimas três décadas.
Tomando novamente o caso da soja, os produtores brasileiros, desde a autorização do uso da tecnologia da soja transgênica, cultivaram mais de 400 milhões de hectares com as centenas de variedades de sementes de soja autorizadas pelo Ministério da Agricultura e que contém as diferentes biotecnologias aprovadas pela CTNBio [CÉLERES®].
O plantio contínuo e disseminado destas tecnologias permite não só aos produtores rurais, o contínuo melhoramento das características tecnológicas e de produção, suportado por consideráveis investimentos de cunho financeiro e de tempo dedicado a essa curva de aprendizagem.
Milho
No caso do milho, mesmo com a liberação pela CTNBio tendo ocorrido apenas no final dos anos 2000, o plantio contínuo dos híbridos contendo os eventos de biotecnologia aprovados foram cultivados – de forma acumulada – em quase 140 milhões de hectares.
Tal como no caso do cultivo da soja, o plantio contínuo e recorrente, nas mais diferentes regiões do Brasil, com suas variações de condições de clima, de solo e demais fatores agronômicos, possibilitaram aos agricultores e aos desenvolvedores das biotecnologias, amplas condições para observarem os efeitos inicialmente previstos em laboratórios, atuarem de forma efetiva nas condições reais de produção em milhares de propriedades rurais no país.
Não menos relevante, apesar da melhor área total cultivada quando comparada a dimensão da cultura do milho e da soja, desde a sua aprovação no Brasil, mais de 8 milhões de hectares de algodão tiveram o uso de cultivares contendo tecnologias transgênicas aprovadas pela CTNBio.
Como atividade de pesquisa regular, a Céleres® entrevistou e pesquisou o uso das tecnologias transgênicas aprovadas no Brasil desde o começo dos anos 2000 que somam área cultivada acumulada próxima de 400 mil hectares, nas culturas do algodão, milho, soja e, recentemente, cana-de-açúcar.
Ao entrevistar centenas de produtores rurais, nas principais regiões produtoras das culturas em questão, a Céleres® apurou e mensurou benefícios diretos e indiretos gerados por esses usuários das biotecnologias, em especial aqueles de cunho agronômico, econômico e socioambiental.
Do ponto de vista econômico, a adoção da biotecnologia agrícola no Brasil possibilitou a geração de benefícios incrementais da ordem de US$ 50 bilhões/ano, nas três culturas aqui consideradas, quando incluído temas como a redução dos custos diretos de produção, via ganhos de eficiência, aumento do excedente produzido, pelo maior volume de produto colhido e comercializado a preços de mercado e por fim, as próprias taxas tecnológicas, que retornam o investimento em pesquisa e desenvolvimento feito pelos detentores destas tecnologias.
Em última instância, o benefício econômico gerado pela adoção da biotecnologia transborda a outros setores da economia, seja pelos próprios produtores rurais ou pela indústria, circulando na economia das centenas de municípios brasileiros que têm envolvimento direto com a produção agrícola.
Além do acompanhamento dos benefícios diretos e indiretos, a Céleres® também monitorou, sob os requisitos das resoluções normativas 9 e 25 da CTNBio, os possíveis efeitos adversos ao meio ambiente, das características de biossegurança destas tecnologias, através de entrevistas presenciais com os produtores rurais que usam tais produtos em seus campos.
Nesses programas de monitoramento, ao longo de vários anos, não foi reportado nenhum efeito adverso, de biossegurança, destas tecnologias, o que torna evidente a segurança técnica desses produtos, que por sua vez, passaram pelo crivo do corpo técnico dos membros da CTNBio, e das próprias empresas desenvolvedoras destas tecnologias, antes da sua efetiva introdução nas condições de produção da agricultura brasileira.
Em resumo, pode se afirmar que:
Mais de 550 milhões de hectares acumulados desde a sua introdução proporcionaram expressiva curva de experiência aos produtores e empresas de biotecnologia no Brasil
Como benefícios diretos, os produtores rurais capturaram valor através da redução dos custos de produção e ganhos diretos na produtividade física das culturas transgênicas
Também geraram ganhos ambientais expressivos, com a melhor utilização de recursos naturais (água, diesel e terra agrícola)
Como benefícios indiretos, a biotecnologia agrícola contribuiu para a melhor eficiência produtiva nas culturas, otimizando o tempo com operações de manejo agrícola
Iniciando pelo Rio Grande do Sul, a biotecnologia agrícola se espalhou e consolidou em todos os estados com relevância na produção de algodão, milho e soja
Mais de 80 tecnologias foram aprovadas nesse período, amparadas por um ambiente regulatório moderno, funcional e eficiente
Atinge e beneficia produtores rurais pequenos, médios e grandes
Tecnologias transgênicas se tornaram o padrão tecnológico junto aos produtores brasileiros, independente da sua geografia, nível tecnológico e escala de produção
O uso da biotecnologia agrícola no Brasil já pode ser considerado como consolidado, com as taxas de adoção nas três principais culturas (algodão, milho e soja) superiores a 90% da área total
Aliado ao uso de outras tecnologias, a biotecnologia agrícola tem auxiliado no incremento da eficiência produtiva dessas três culturas, tornando a produção agrícola mais sustentável e reduzindo a pressão de crescimento de área
Ganhos de produtividade associados ao uso da biotecnologia permitem uma superfície plantada da ordem de 7,0 milhões de hectares menor do que se não houvesse o uso dessas tecnologias
Os ganhos tecnológicos, incluindo o uso da biotecnologia, permitem a consolidação e mesmo a expansão da competitividade brasileira nos mercados globais de algodão, milho e soja
Porém, mesmo com a posição consolidada e madura da adoção da biotecnologia agrícola no Brasil, é importante ter em mente os seguintes desafios para preservar a competitividade duramente construída ao longo das últimas décadas no setor agrícola local:
O ambiente tecnológico das duas últimas décadas teve energia suficiente para prover ganhos expressivos de eficiência para os produtores de algodão, milho e soja no Brasil, não só com o apoio da biotecnologia agrícola, mas de outros componentes tecnológicos
A consolidação do ambiente institucional permitiu que investimentos do setor público e, notadamente, do setor privado, atuassem de forma conjunta, resguardados por marcos regulatórios transparentes e funcionais
O momento atual aponta para novos desafios visando a manutenção da eficiência produtiva e reforçando a importância da constante inovação tecnológica e científica
Outros componentes tecnológicos como a nanotecnologia, a agricultura de precisão e a convergência tecnológica de outras tecnologias tradicionais no meio agrícola passam a ser considerados, em consonância com a adoção da biotecnologia agrícola, de forma sincronizada
Os resultados obtidos ao longo de anos de monitoramento por parte da Céleres® mostram que, apesar dos receios, retrocessos e avanços ao longo do tempo, tem-se observado a evolução constante das relações institucionais nas cadeias produtivas. Anderson Galvão – engenheiro agrônomo e administrador de empresas, fundador e CEO da Céleres.