Muitos acreditam que a ida das máquinas para o canavial ocasionou o aumento das impurezas, mas não é bem assim. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) analisou os dados entre os anos de 2008 e 2014. A pesquisa identificou que na colheita de aproximadamente 385 milhões de toneladas de cana, a impureza vegetal da cana queimada com colheita manual foi de 6% e na colhida mecanicamente foi de 5,6%.
O consultor e produtor Luiz Carlos Dalben explica que o profissional bem preparado sabe ajustar a colheitadeira para separar a cana da palha. “O índice de 5 a 6% de palha na cana é normal e não causa interferência no processo”, afirma.
Para o CTC, a mecanização não é a vilã. Dois fatores têm contribuído para o aumento da impureza vegetal na cana moída no decorrer dos anos. O primeiro é a menor limpeza no campo, que significa redução de perdas de cana. O segundo é o aumento de impureza vegetal na usina, que significa mais biomassa para cogeração de energia elétrica.
Impurezas
Muitas vezes, por falta de técnica, a usina recebe um material com muitas impurezas que interferem no ATR (açúcares totais recuperáveis) e também no processo de moagem.
Ponteiras, palhas e outros resíduos diminuem a densidade de carga e aumentam o valor do transporte da cana até a usina, gerado pelo aumento de viagens. Quanto maior o percentual de palha mais leve fica a carga, diminuindo o peso.
Os prejuízos na usina
O maior volume de impureza vegetal ocupa o espaço de processamento da cana, reduzindo a capacidade operacional da usina, além de aumentar as perdas de eficiência de extração do caldo, pois onde há palha no lugar da cana, há uma perda de capacidade e também uma perda de sacarose. Esse açúcar é arrastado junto com a palha e bagaço, ou seja, a palha entra sem açúcar e sai com açúcar.
Além disso, se a palha e as impurezas minerais não forem separadas da matéria-prima antes de ser processada, haverá danos aos equipamentos, em especial nas moendas ou difusores.
O sócio da Fundamento Consultoria Industrial, Paulo Roberto Dalben explica que no caso do difusor a situação é mais grave, porque prejudica muito a eficiência de extração do caldo, formando camadas impermeáveis e dificultando a passagem do caldo pelas fibras da cana em processo de difusão. “A palha também isola o fluxo de circulação de caldo no processo do difusor criando o que chamamos de bucha d’água no interior do difusor. Além de diminuir a capacidade de extração, a capacidade horária dos equipamentos fica reduzida proporcionalmente ao percentual de impurezas vegetais recebidas junto com a matéria prima”, explica.
Para Paulo Roberto, a impureza mineral é o maior abrasivo que existe em uma unidade industrial. “Todos os equipamentos que têm contato com este abrasivo sofrem desgastes severos e são responsáveis por grande parte dos custos de manutenção de uma unidade industrial, reduzindo a vida útil dos equipamentos instalados”, orienta.
Assim, as perdas são significativas tanto na redução da eficiência operacional, na redução de capacidade e na manutenção mecânica para reparar os equipamentos danificados pela abrasão.
Como evitar?
Um bom método de evitar o excesso de impurezas são os sistemas de separação. Algumas usinas usam como opção, o sistema de limpeza a seco, através da instalação de uma estação situada anterior à moagem.
O CTC desenvolveu um sistema que possibilita a retirada de até 70% das impurezas vegetais das cargas que chegam à usina e destina esta biomassa para as caldeiras, onde é queimada para cogeração de energia.
A consultoria Fundamento também desenvolveu o sistema de separação de palha, que funciona no circuito de transporte de cana picada. Segundo Paulo Roberto, este sistema é recomendado para limpeza da cana recebida em moedas dosadoras, na qual não existe a mesa alimentadora de cana. “A eficiência da separação depende dos estágios de sopragem e pode ser superior a 60%”, complementa.
A limpeza da cana já é realizada em grande escala em São Paulo, e está avançando pelo Paraná e Mato Grosso. Para os especialistas as unidades que buscam aumentar a eficiência e reduzir seus custos de manutenção devem adotar essa medida. “As impurezas vegetais que entram nas usinas estão na ordem de 7 a 10%, se conseguirmos separar 50%, é mais 3.5 a 5% de capacidade que ganhamos em nosso processamento e também é 50% de desgaste a menos em nossos equipamentos”, afirma Paulo Roberto.
Palha é alternativa
A palha também pode ser um bom negócio. Para se mensurar, um hectare de terra cultivada produz, em média, 75 toneladas de cana e 22 toneladas de palha. Dessa palha, parte sai dos canaviais como resíduo junto da cana, mas a maior quantidade fica no solo para benefícios agronômicos do solo, como ciclagem de nutrientes e controle de plantas daninhas.
Uma sugestão é coletar a palha para ser aditivo ao bagaço nas caldeiras, e assim, produzir mais energia. Para o consultor e produtor Luiz Carlos Dalben, a palha é um novo produto para a geração de riquezas.
Mas antes da coleta é importante fazer a análise de viabilidade técnica e financeira para recolhimento de palha, desde a saída do canavial ao fornecimento de energia.
Segundo o consultor de Negócios e Projetos do Grupo Fragmaq, Carlos Wilson Zanchini, o estudo de implantação do projeto define até mesmo o que se deve ser retirado do solo e a avaliação financeira. Ele indica o enfardamento da palha e encaminhamento para a usina para cogeração de energia.
A palha tem poder calorífico maior que o bagaço. “Cada tonelada de palha para a geração de energia é equivalente a 1,8 toneladas de bagaço”, ilustra Zanchini. Com o aumento da matéria – prima, com a inserção da palha, há aumento da cogeração, assim, a usina produzirá por mais tempo durante o ano. A produção energética só será paralisada para a manutenção. A usina fará a cogeração não apenas durante a safra, que dura entre 180 e 190 dias, mas durante 300 dias do ano.
Cejane Pupulin -Canal-Jornal da Bioenergia