Perspectivas para o etanol pós-pandemia

O uso de etanol registrou queda de 16,7% nos seis primeiros meses deste ano no país. De janeiro a junho de 2020 foram consumidos 8,96 bilhões de litros. No mesmo período do ano passado, foram 10,76 bilhões de litros, uma queda de quase 17%. Nos principais estados consumidores, a redução média foi de 15,1%, variando entre 7,9% no Mato Grosso a 21,7% no Paraná. Os dados são da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Mas especialistas afirmam que a recuperação, não apenas do etanol, mas de todos os combustíveis, em especial do Ciclo Otto, ainda não há datas, mas em um futuro. Para se mensurar, já no último mês de julho foram comercializado quase 1,6 bilhões de litros de etanol hidratado para as distribuidoras.

Segundo o Consultor Sênior em Gerenciamento de Riscos – Açúcar, Etanol e Moedas da StoneX Brasil , Murilo F. Aguiar, o mercado ainda não regularizou, mas aqueceu no mês de julho, que até então é o maior mês de venda desde fevereiro. “Só que ainda está bem abaixo de níveis médios de demanda se comparamos com 2019. Tivemos um sinal importante de retorno da demanda, mas ainda precisaremos de um pouco mais de tempo para voltar à normalidade. Com base nas nossas projeções para o ciclo Otto de combustíveis, a StoneX ainda projeta para os meses vindouros uma retração de consumo frente o que foi 2019”.

A StoneX estima que para o ano de 2020 haverá uma redução de consumo em 9,5% nos combustíveis base no Ciclo Otto para a Região Centro-Sul do país, ou seja, o menor volume em anos. “Para se ter ideia, fecharíamos 2020 com consumo de 37,2 bilhões litros para a região Centro-Sul, menor inclusive que o ano de 2018, afetado pela greve dos caminhoneiros, no qual o consumo foi de 39,5 bilhões litros. Portanto, para voltar ao consumo normal, dependeremos muito da retomada da atividade econômica e isso demanda tempo”, explica Aguiar.

O diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, afirma que é difícil prever quando a demanda voltará ao normal. “Acompanhamos as autoridades revendo datas para retomada de alguns serviços, como escolas, então estamos acompanhando e adequando nossa estratégia”, pontua.

O Diretor da Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho é mais otimista. Para ele, “a recuperação do “antigo normal” se faz na forma de “V”, ou seja, a recuperação está caminhando rápido com o retorno da vida sendo aberto em São Paulo e outros estados”.

A safra

Todo o setor foi afetado pela pandemia. Mas, Padua pontua que com mais intensidade as unidades que somente produzem etanol e respondem por 30% da produção, com 17% na quantidade de cana processada. “Antes da pandemia as unidades que produzem açúcar e etanol já tinham em seu planejamento uma maior produção de açúcar, mas isso foi acentuado pela queda na demanda”.

Porém, quanto ao processo produtivo, o andamento da safra continua dentro de da normalidade, pois as empresas se preparam para enfrentar a pandemia, com protocolos em todas as atividades, seja agrícola ou indústria, administrativa, logística etc.

Para a Canaplan, a safra atual não foi impactada pela questão do cornavirus. Mas, em função da seca deve terminar um pouco antes, porém com indicadores positivos. “Os efeitos importantes da safra seriam os relativos aos preços, que iniciado com muito medo pela pandemia, mas já passou. E os valores já estão ao mesmo nível da safra anterior e devem fechar um pouco melhor do que a safra 2019/20. Portanto, o impacto do Covid-19 na safra foi pequeno”, explica Luiz.

O mix

As usinas já estavam se preparando para uma safra mais açucareira – o produto é mais rentável para as usinas -, deixando a produção de etanol menor. A pandemia sem dúvida confirmou e estimulou ainda mais a produção do adoçante.

O mix atual é de 47% açúcar e 53% etanol. Em 2019, o observado no mesmo período de 2019, respectivamente 35% e 65%. “Com isso, a produção de açúcar está até o momento 47% superior do que o registrado no ciclo anterior, chegando a 19,7 milhões de toneladas até 1º de agosto”, revela Antonio de Padua Rodrigues.

“O açúcar está com preços excelentes. Usinas que não exportavam,  iniciaram a exportação de açúcar cristal, já que o preço justifica os custos de transporte até os portos mesmo de regiões mais distantes. O dólar muito alto e o apetite chinês têm realmente favorecido muitas as exportações de commodities, percebemos isso pela balança comercial do agronegócio”, enfatiza Murilo Aguiar.

Ele complementa que no mercado externo, por exemplo, na Tailândia, o segundo maior exportador de açúcar, que teve quebra de safra em 2019 devido à maior seca dos últimos 40 anos, ainda estima uma nova retração de safra de 10% devido à continuidade de baixa precipitação. “Alguns players do mercado, como China, Indonésia e Paquistão têm mostrado interesses de compra de açúcar. Inclusive têm realizado muitas compras e aprovações de novas cotas para importação, sustentado os preços atuais de mercado. Esse sentimento de demanda fortalecida juntamente com expectativa de nova quebra na Tailândia e da União Europeia tem sustentado o interesse comprador no mercado, subindo mesmo com alta do câmbio doméstico, gerando preços extremamente atraentes para o produtor, o qual se aproveita para travar receita futura para 2021 e 2022”, explica o consultor da StoneX Brasil.

Milho

A produção de etanol de milho vem crescendo de forma linear nos últimos meses e há boas expectativas para o futuro. Dados da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), de no acumulado de janeiro a maio de 2020, houve um crescimento de 93% em relação à produção no mesmo período de 2019. A projeção para 2020 inicialmente era de 2,9 bilhões de litros, mas caiu para 2,5 bilhões de litros.

Segundo o presidente da Unem, Guilherme Nolasco, a pandemia e a alta volatilidade dos preços do petróleo e seus derivados afetaram todos os combustíveis, com diminuição da demanda e representativa queda nos preços. “Mas os farelos de milho – DDG; DDGs; WDG – resultantes do processo produtivo do etanol desempenharam importante papel neste momento, tendo forte demanda e preços em alta, trazendo uma grande contribuição no resultado final da atividade”, explica.

Recuperação

Para Padua, o que mais preocupa é a ameaça em aumento das importações dos Estados Unido, criando um problema em especial os produtores no Nordeste.  Já para o Diretor da Canaplan, os fatores para a recuperação do setor estão em função dos preços, que tendem a ser positivos para esta safra e para a próxima safra. “Com isso, espera-se que tenha uma redução no endividamento e que a melhoria da margem leve o setor a voltar a investir em produtividade”.

Como fatores positivos para o setor, os especialistas citam o RenovaBio, que já está em vigor, e recentemente obteve uma vitória, quando o Congresso optou por uma tributação justa de 15% no imposto do CBIO, que favorece o mercado e também beneficiar o setor, ajudando a mitigar os efeitos da crise.

 

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

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