Foto:Eduardo Cesar/Revista Pesquisa FAPESP)

Cana transgênica no Brasil

Plantas geneticamente modificadas têm ajudado a aumentar a produção nos campos brasileiros e no mundo. A primeira cana-de-açúcar geneticamente modificada e comercializada é de origem brasileira. A cana CTC 20 Bt foi desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e passou por avaliação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que a considerou segura sob os aspectos ambiental, de saúde humana e animal.  “A comercialização desta cana brasileira é um marco que reforça o potencial e a qualidade da pesquisa nacional e coloca o país na vanguarda das pesquisas com biotecnologia de plantas”, enfatiza o diretor de Etanol Celulósico e Assuntos Corporativos do CTC, Viler Janeiro.

A cana geneticamente modificada (GM) permite o controle mais eficiente e a redução das perdas em virtude do ataque de pragas, resultando em aumento de produtividade, redução de custo e melhoria da qualidade na indústria. O uso da cana transgênica ainda pode viabilizar a expansão da cultura em áreas onde a broca da cana é uma condição limitante, contribuindo para o aumento da competitividade do Brasil na produção de açúcar e etanol.

Segundo Janeiro, o processo de introdução da nova variedade tem sido muito positivo, Desde outubro de 2017, cerca 400 hectares de mudas da variedade geneticamente modificada foram plantados nas principais usinas e fornecedores da região Centro-Sul do Brasil.

O diretor complementa que o crescimento da área com a CTC 20 Bt será gradual, uma vez que as novas plantas serão replantadas para expandir a área cultivada e não usadas para a produção de açúcar e etanol. “Este processo já ocorre na introdução de variedades convencionais e está alinhado com o cronograma de obtenção das aprovações internacionais do açúcar produzido a partir da cana geneticamente modificada”, explica.

Recentemente, a Health Canada, responsável por avaliar a segurança e o valor nutricional de alimentos no Canadá, aprovou o açúcar produzido a partir da CTC 20 Bt. Assim, de acordo com o órgão canadense, o açúcar proveniente da cana é tão seguro e nutritivo quanto os provenientes das variedades convencionais.

Exploração

O Centro de Tecnologia Canavieira ainda continua as pesquisas. O CTC ainda deve disponibilizar para o mercado outras variedades transgênicas resistentes à broca, principal praga que ataca a cultura no Brasil e causa prejuízos estimados em R$ 5 bilhões anuais ao setor sucroenergético. Viler explica que adicionalmente, o Centro trabalha no desenvolvimento de variedades resistente ao Sphenophorus levis  – bicudo da cana-de-açúcar -, além de espécies tolerantes a herbicidas e com projetos de desenvolvimento de uma cana-de-açúcar tolerante à seca. “Esses produtos estão em diferentes estágios de pesquisa e passarão pelos processos aprovação, de acordo com a legislação vigente, tão logo cheguem nesta fase”, conclui.

Outra empresa focada no desenvolvimento da transgenia em cana de açúcar é a Embrapa Agroenergia. Atualmente quatro projetos merecem destaque e seguem a mesma linha do CTC. Iniciado em 2008, a Embrapa desenvolve a variedade tolerante a déficit hídrico, que já foi a campo em duas localidades para testes– em Quirinópolis (GO) e em Valparaiso (SP)-, com o objetivo de avaliar a performance agronômica e parâmetros fisiológicos em condições reais de campo. Em parceria com o CTC, o Centro Internacional Japonês para Pesquisas em Ciências Agrícolas (Jircas), a Embrapa Agroenergia avaliou o potencial com o gene de tolerância a seca na cana, que já foi testado em outras culturas de plantas, como soja, amendoim, trigo, arroz e outras.

Os resultados em situação real de campo mostrou que o material tem uma característica interessante, tanto para a tonelada de cana por hectare (TCH) quanto o açúcar (TPH). “Mesmo passando pela seca, essas materiais conseguiram manter o TCH e a o TPH, também houve manutenção da biomassa e do açúcar em ambos os locais”.

Para reforçar os resultados, a espécie foi para uma nova unidade de testes, na Fazenda Sucupira (DF), que é credenciada pela CTNBio. “Nesta etapa vamos fazer avaliações em condições reais por mais dois ciclos na cana planta e na soca”, explica o pesquisador da Embrapa, Hugo Molinari. Ainda não há previsão de este espécie ser comercializada.

Outro estudo é a tolerância da cana ao alumínio. Grande parte do solo do cerrado tem alta taxa deste elemento químico, que é toxico para produção agrícola, inclusive para a cana-de-açúcar. A calagem e a gessagem são opções de amenizar o problema, mas existe a alternativa de gerar uma variedade tolerante ao alumínio, permitindo ganho na produtividade, com a redução das perdas.

A pesquisa iniciou em 2011 e já passou por testes em laboratórios e casa de vegetação. A próxima etapa é ir a campo. “Os resultados são bem promissores”, avalia Molinari.  Para seguir para a próxima etapa, a pesquisa procura um solo que rico em alumínio, que ainda não foi corrigido pelo homem.

Outra pesquisa em destaque da Embrapa Agroenergia é a de modificação da parede celular, isso é, a biomassa visando atender o mercado de etanol de segunda geração (2G).Atualmente, o problema é acessar esses açúcares, que estão “aprisionados” em estruturas complexas presentes nos vegetais que elevam o valor do etanol de segunda geração.

Esta nova variedade em estudo tem como objetivo reduzir os custos por meio de uma biomassa diferenciada. Com as variedades em teste já é possível extrair até 28% a mais de açúcar. “Para este estudo estamos procurando parceiros para dar continuidade e avaliar todos os parâmetros do estudo de viabilidade técnica e econômica”, explica o pesquisador.

Parcerias

Uma pesquisa iniciada em novembro 2017, em parceria com uma startup Pangeia Biotech, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) o objetivo de desenvolver variedades de cana-de-açúcar transgênica para controle biológico da broca-da-cana e facilitar o manejo da cultura com o herbicida glifosato.

Mesmo com pouco tempo de trabalho, Hugo afirma que já há resultados interessantes. O  material com dois genes Cry diferentes resistentes a broca e um gene resistente ao herbicida glifosato já esta na casa de vegetação para a realização de experimentos. Os primeiros testes já foram realizados, com a inoculação da broca nas folhas das plantas. Os pesquisadores esperaram duas semanas, para verificar se a broca ia se alimentar da cana. “Neste bioensaio tivemos sucesso. Das cerca de 120 materiais diferentes testados, 90% resistiram à broca. Agora estamos fazendo os testes com os herbicidas para fazer novos testes”, avalia. Após estas avaliações, novas serão feitos para verificar se não há efeitos indesejados, como comprometimento do crescimento da planta, redução do colmo, isso é, alguma diferença estrutural da planta mãe. “Após esta fase selecionamos os materiais que vão a campo,” explica Hugo..

 

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

 

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