Formas de produzir e utilizar um novo catalisador para produção de biodiesel, que pode ser recuperado ao final do processado e utilizado novamente. Macrofungos que removem substâncias tóxicas de tortas para oleaginosas – permitindo que elas sejam utilizadas como ração – e, ao mesmo tempo, produzem cogumelos para alimentação humana. Novas linhagens de microrganismos que, após passarem por engenharia genética, são capazes converter em etanol e químicos açúcares que as leveduras utilizadas atualmente nas usinas não conseguem. Os estudos que estão chegando a todos esses produtos vão estar em exposição, na próxima semana, em Brasília/DF, durante o II Encontro de Pesquisa e Inovação da Embrapa Agroenergia (EnPI).
Os trabalhos são realizados por estudantes e profissionais que atuam como colaboradores nos laboratórios da instituição e têm como objetivo aprimorar as matérias-primas, insumos e processos para a cadeia produtiva de biocombustíveis, bem como para o aproveitamento de coprodutos e resíduos.
Além dos experimentos com novos catalisadores, as pesquisas que têm como foco os processos de produção de biodiesel apresentam resultados dos testes para produção do biocombustível com óleo de pinhão-manso e da avaliação da proporção adequada de sebo bovino a ser misturada no óleo de soja para não comprometer a qualidade do biodiesel. Também incluem o teste de aditivo para manter a estabilidade exigida pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no biodiesel produzido a parte do óleo de soja.
Pensando em uma produção mais limpa desse biocombustível, pesquisas nos laboratórios da Embrapa Agroenergia procuram também microrganismos e macrofungos que geram lipases, enzimas capazes de substituir os catalisadores químicos. Estudos divulgados no EnPI utilizaram a cana-de-açúcar e os frutos e resíduos do processamento de dendê para buscar ou cultivar esses ativos biológicos.
O dendê é objeto de muitas pesquisas na Embrapa Agroenergia, já que, em virtude da alta produtividade de óleo da planta, há uma grande expectativa de que ela se torne matéria-prima para biodiesel e biocombustíveis de aviação. Por isso, no evento da próxima semana, os visitantes poderão conhecer um trabalho que define protocolos para análise das raízes de plantas doentes assim como o resultado de um estudo de análise de cromossomos do caiaué, palmeira da região amazônica que pertence ao mesmo gênero do dendê.
Etanol
Por ser o principal biocombustível presente no dia a dia dos brasileiros, o desenvolvimento de soluções para a cadeia produtiva do etanol é outro alvo que se destaca nos resumos que serão apresentados. Neste caso, microrganismos e enzimas são objetos de estudo recorrentes, já que a segunda geração do etanol, que começou a ser inserida no mercado brasileiro, está baseada na desconstrução de biomassas como o bagaço e a palha da cana-de-açúcar. As ações envolvem desde a prospecção de bactérias, fungos e leveduras, muitas vezes apenas pela análise do DNA, até a transformação genética dos microrganismos para que eles consigam, por exemplo, converter no biocombustível a xilose. Este é um tipo de açúcar abundante nas biomassas, mas que as leveduras utilizadas hoje nas usinas não conseguem fermentar eficientemente como fazem com a glicose a sacarose.
Ao mesmo tempo em que uma equipe busca microrganismos para serem inseridos na cadeia produtiva do etanol, outra procura exatamente o contrário: identificar bactérias, fungos e até arqueias indesejados na usinas por comprometerem o rendimento da produção. Estarão em exposição no EnPI os resultados do primeiro estudo que utilizou para isso uma metodologia chamada Metagenômica, que identifica os microrganismos apenas pela análise do DNA, permitindo a exploração da imensa gama de linhagens que não se conseguiria cultivar em laboratório.
Técnica semelhante foi usada em um trabalho para identificar microalgas de biomas brasileiros. Microalgas têm alta capacidade de produção de biomassa e, por isso, também são objeto de estudo na Embrapa Agroenergia. Além deste, serão expostos resultados de pesquisas para cultivo de microalgas em dois resíduos agroindustriais: a vinhaça, das indústrias sucroenergéticas, e o POME, efluente do processamento do dendê. A obtenção de proteínas com cultivo de microalgas também é tema de estudo divulgado no EnPI.
Coprodutos e resíduos
Mas não são apenas as pesquisas com microalgas e destoxificação de tortas que contemplam o aproveitamento de resíduos. Trabalhos com a glicerina, coproduto abundante na produção de biodiesel, estão convertendo-a em produtos químicos e polímeros. A transformação em produtos químicos também é uma alternativa em estudo para a xilose. A extração de celulose, por sua vez, tem se mostrado opção para o aproveitamento de cachos vazios de dendê. Das fibras de prensagem dos frutos, em contrapartida, experimentos em laboratório estão conseguindo obter carotenoides e nanofibras.
No total, serão 49 trabalhos em exposição, de segunda à sexta-feira (23 a 27/11), no evento que é aberto ao público, na sede da Embrapa Agroenergia, em Brasília/DF. Eles serão avaliados por uma comissão julgadora e os melhores receberão premiação. O pesquisador da Embrapa Agroenergia e coordenador técnico-científico da iniciativa, Bruno Brasil, conta que, na primeira edição do evento eram de estudantes de graduação; agora, mais de 50% são de profissionais pós-graduados ou em pós-graduação. Na opinião dele, isso mostra que a equipe de colaboradores está se tornando mais qualificada.
Durante o Encontro, na segunda e terça-feira (23 e 24/11), será realizado o Simpósio Agroenergia em Foco, que tem como tema Produção e uso de enzimas no contexto da Agroenergia. Este evento será realizado no Auditório Biomas da Embrapa-Sede, que fica ao lado do prédio da Embrapa Agroenergia. As inscrições para o Simpósio, contudo, estão esgotadas.
O evento conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF) e da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio). Embrapa Agroenergia