Os produtores rurais enfrentam sempre o desafio de deixar as pragas longe das lavouras. A tecnologia é uma aliada imprescindível, trazendo soluções para as pragas, que se mostram mais resistentes a cada safra. Há uma série de produtos, mas é preciso que o produtor esteja atento às suas necessidades para garantir que está utilizando um produto adequado e confiável, que seja específico para a praga que deseja combater.
O Brasil, por ser um país de clima tropical, permite o plantio de mais de um ciclo da cultura durante o ano. Em algumas áreas há o cultivo da soja, algodão e feijão no mesmo ano. “Não é difícil de ocorrer cultivos sucessivos na mesma área. O nosso clima é um cenário extremamente favorável para a proliferação das pragas e doenças desde que haja alimento disponível”, avalia Sérgio Zambon, gerente sênior de Desenvolvimento de Mercado da Basf.
Rafael Pereira, gerente de desenvolvimento da UPL, Fernando Gilioli e Fernando Gadotti, desenvolvedores de mercado da UPL, advertem que tanto na sojiculura quanto no cultivo da cana-de-açúcar ou outras culturas, é preciso que o agricultor faça sempre o monitoramento da lavoura. “É de extrema importância que sejam aplicados somente produtos registrados para a cultura em questão. Além disso, é indispensável a implementação de boas práticas agrícolas, como o manejo integrado de pragas (MIP).”
Já Ernesto Benetti, gerente de Desenvolvimento de Produto da Adama , explica que o manejo adequado de pragas é importante para a proteção do potencial produtivo, pois a cana é uma cultura que fica exposta durante o ano todo e sujeita ao ataque de pragas por um longo período. “Dentre as pragas que têm aumentado sua importância, podemos citar os nematoides, que atacam a cana durante todo o ciclo. O controle é realizado, geralmente, apenas no momento do plantio (ou seja, eles podem se multiplicar por 5 a 6 anos até a próxima renovação do canavial). Além disso, o diagnóstico dos nematoides é difícil, pois demanda análises laboratoriais.“
De acordo com o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Alexandro Alves, as pragas que têm mais chamado a atenção do produtor de cana são as brocas. As larvas da mariposa (Diatraeia saccharalis) abrem espaço para patógenos oportunistas como os fungos dos gêneros Fusarium e Colletotrichum, provocando perdas consideráveis na produtividade de sacarose. “Até então o controle biológico tem sido satisfatório. Outras pragas que sempre merecem a atenção são a cigarrinha das raízes e os besouros Migdolus e Sphenophorus. A broca gigante também tem aparecido em algumas localidades, bem como a lagarta Elamos, que tem sido bastante oportunista em casos de ocorrência de incêndio nos canaviais.” Além desses, o assessor técnico comenta que cupins e formigas cortadeiras também são alvos de monitoramento. “Na verdade, todas essas pragas merecem atenção, pois a variação de condições climáticas e certas práticas culturais podem provocar o aparecimento de determinada praga com mais ou menos intensidade, o alerta deve ser sempre constante.”
Com relação ao plantio de soja, o consultor técnico da Faeg, Cristiano Palavro, comenta que existe um conjunto bastante variado de pragas que atacam a cultura e suas intensidades variam de acordo com a região e o ano. “Entre os destaques podemos citar a presença do complexo de lagartas, em especial a lagarta falsa-medideira, que é uma espécie bastante consolidada em nossos cultivos de soja. Outras lagartas problemáticas são as Spodopteras, que por não serem controladas pela tecnologia de Soja BT disponível no mercado, têm aumentado suas populações. Entre as lagartas, há também preocupação com a Helicoverpa armigera, que apesar de sua intensidade ainda baixa em Goiás neste ano, é uma praga já amplamente dissipada e possui alto potencial de danos.” Palavro aponta ainda outra praga bastante tradicional nos cultivos de soja: o complexo de percevejos, que atacam a cultura da soja em sua fase reprodutiva, exigindo sempre a aplicação de manejo químico. Entre os destaques destes, há o crescente problema com a Mosca Branca, praga que tem aparecido com maior intensidade a cada a ano, atacando os cultivos de soja, feijão, tomate e hortaliças diversas. Por fim, são objetos de preocupação os Nematóides, pragas de solo que tem manejo bastante complicado, necessitando de rotação de culturas para a manutenção de seus baixos índices.
Entre as doenças da soja, o consultor comenta que o destaque ainda segue por conta da Ferrugem Asiática, que aparece comumente nas lavouras de soja, propiciada nos anos de maiores índices de umidade. A ferrugem exige o manejo preventivo e gera elevados custos aos produtores rurais. Entre as plantas daninhas, o principal destaque negativo é o capim amargoso, que se tornou uma planta resistente ao glifosato, exigindo manejo diferenciado nas lavouras onde está presente. “Porém, esta safra foi mais tranquila em relação a pragas e doenças, com raros relatos de perdas apontados pelos produtores”, diz Palavro.
Resistência
O ciclo evolutivo das pragas é muito dinâmico, o que pode promover resistências das pragas em determinadas condições. Isso é natural na corrida pela sobrevivência e perpetuação das espécies. “Não só na cana, mas em qualquer outra cultura, deve haver a preocupação de se fazer o uso de metodologias variadas e que promovam efetivamente a quebra do ciclo dessas pragas, dificultando a ocorrência de resistências. No geral, tem-se feito uso dessas metodologias, porém a pesquisa precisa de maiores avanços de modo a aumentar o leque de opções para que os produtores possam fazer uso. Da parte do produtor, a implantação do manejo integrado de pragas é fundamental”, diz Alexandro.
Na soja, as pragas e doenças apresentam grande nível de adaptação aos mecanismos de controle, exigindo estratégias cada vez mais bem elaboradas, combinando o uso de produtos químicos e biológicos com ferramentas de manejo cultural, como a rotação de culturas e a implementação de vazios sanitários. Segundo Palavro, “a produção é bastante intensiva e também o clima favorece a dispersão e adaptação das pragas. O uso de um mesmo mecanismo de ação repetidamente colabora no processo de seleção de resistência das pragas.”
A equipe da UPL explica que ainda não existem constatações oficiais de resistência para as pragas em cana-de-açúcar, mas observa-se um controle mais difícil a cada ano de cigarrinhas, por exemplo, assim como acontece em soja, para o controle de percevejos e da mosca branca, que tem requerido doses maiores dos mesmos inseticidas em relação aos anos anteriores.
Plantio
Com relação ao manejo da cana, todo o processo – desde o plantio, tratos culturais até a colheita – é importante. “Se tudo não for bem feito, de nada adianta ter a melhor colheitadeira e o melhor operador – tudo se perderá já nos trabalhos de base”, avalia Alexandro. Segundo ele, nesse trabalho de base o cuidado com agentes externos, pragas e doenças é fundamental para o sucesso da safra. “No caso da cana, o monitoramento é imprescindível. Não é opção, é obrigatório em todo ciclo da cultura.”
O mesmo cuidado deve ser tomado com relação à soja. O monitoramento constante da lavoura é ponto principal para um bom manejo de pragas. “Ao identificar a ação ou presença das pragas, o produtor deve definir a melhor forma de controle, seja o uso de produtos químicos ou biológicos.” Com relação a algumas pragas e doenças, deve haver controle preventivo, observando antecipadamente a incidência na região. “O manejo de praga inicia-se antes do cultivo, através do cumprimento das legislações fitossanitárias (vazio sanitário, calendário de plantio, controle de tigueras etc.) e também na definição de um modelo de rotação de culturas que diminua a incidência de inóculos das doenças e pragas”, orienta Palavro.
Sérgio Zambon destaca que é importante a utilização da solução certa em cada praga para um controle duradouro e eficiente. “Produtos mal utilizados, não recomendados, ou utilizados em não conformidade com as instruções do fabricante podem ser danosos à economia, saúde humana e meio ambiente. As pesquisas e aprovações de moléculas voltadas às soluções para pragas e doenças no campo são rigorosas e visam à segurança alimentar, saúde do produtor, meio ambiente e sanidade da lavoura.” Os usos inadequados dos produtos podem causar problemas como falhas de controle, desequilíbrio biológico, resistência das pragas e doenças aos ingredientes ativos do produto, resíduos tóxicos nos alimentos, além de ser um risco para sanidade e produtividade das lavouras. “O produtor deve utilizar soluções específicas registradas pelos órgãos regulatórios, seguir a orientação de um técnico habilitado (engenheiro agrônomo) e estar atento às instruções de uso presente no rótulo e bula do produto”, complementa.
Combate
Em qualquer cultura a diversificação de produtos de controle químico é crucial para evitar a ocorrência de resistência das pragas. Alexandro comenta que o problema relacionado a isso é que, em certos casos, o produtor não tem muitas opções devido à burocracia no registro de novos produtos pelos órgãos do governo, o que impede que o manejo de produtos químicos seja feito de maneira satisfatória a até mais econômica para o produtor.
No caso da soja, é importante o uso de produtos específicos visando a não eliminação dos inimigos naturais, que são organismos que contribuem para a manutenção de um equilíbrio biológico dentro das lavouras, diminuindo a necessidade de uso de outros mecanismos de manejo. Caso o produtor utilize produtos inadequados, o principal prejuízo será a ocorrência de resistências, além do controle ineficaz e, com a aplicação em maior número de vezes, maior custo operacional.
Além dos danos principais, que são aqueles diretos, com prejuízo na produtividade, há também os indiretos, que são o da qualidade das sementes. Outro tipo de prejuízo é aquele que diz respeito ao não controle de uma praga, já que essa pode se tornar um problema na região.
O produtor deve utilizar produtos com alta eficiência, dentro das dosagens recomendadas e fazer a rotação dos mecanismos de ação. Desta forma, evita o desenvolvimento mais intensivo de resistência das pragas. O uso de produtos inadequados favorece a eliminação de inimigos naturais e o desequilíbrio entre as espécies presentes nas lavouras, além da baixa efetividade de controle que faz com que as perdas sejam mais severas.
perdas
Ernesto Benetti ressalta que as perdas ocasionadas por pragas em cana-de-açúcar podem ser minimizadas com a realização de um levantamento adequado e com o controle onde for necessário, além da aplicação correta dos produtos, melhorando a cobertura do alvo.
Quanto à soja, a prevenção deve ocorrer antes do início da safra. “Com o uso cada vez mais intenso das áreas agricultáveis, praticamente não há um período de entressafra. Ou seja, as pragas deixaram de ser específicas de uma só cultura”, diz Benetti.
Canal-Jornal da Bioenergia