Quando se fala em tecnologias para reduzir a conta de energia, muitos consumidores logo pensam em energia solar. O Brasil já ultrapassou a marca de 300 mil conexões de geração distribuída solar fotovoltaica. E um fator relevante para esse crescimento é a redução dos custos do sistema.
De acordo com o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), Rodrigo Sauaia, da década de 1970 até hoje o preço dos sistemas da energia solar fotovoltaica caiu mais 253 vezes. E essa redução se deve a três principais fatores.
Motivos
O primeiro é o aumento na eficiência dos equipamentos fotovoltaico. “Fruto da inovação da pesquisa do desenvolvimento e do avanço da tecnologia”, explica. Sauaia complementa que uma parcela importante desse avanço é oriunda de pesquisas aplicadas em universidades e de empresas presentes nos território dos Estados Unidos e no continente Europeu. Além disso, destaca o Japão e a Austrália devido às pesquisas que permitiram o aumento de eficiência das células fotovoltaicas.
O segundo fator é o aumento da escala de produção, ou seja, o mercado e o setor aumentaram o volume de fabricação dos equipamentos dos componentes que fazem parte de um sistema fotovoltaico. “Com o ganho de escala, ajudou a reduzir o preço unitário dos equipamentos”.
E o terceiro ponto é a melhoria dos processos produtivos de fabricação dos equipamentos e dos componentes que permitiu que tecnologia fotovoltaica tivesse um aumento na agilidade de produção e uma redução na quantidade de matéria -prima. “A combinação desses fatores fez com que a tecnologia ganhasse tanta atratividade e competitividade no mercado”, pontua.
Ele esclarece que o barateamento dos sistemas é um processo contínuo, mas que ganhou muita força em especial a partir do início dos anos 2000, quando a tecnologia realmente teve um salto de escala significativo ordens de grandeza em aumento dessa escala produtiva. “Mas foi um processo gradual. Década a década, cada uma com avanços importantes para que essa tecnologia pudesse chegar até os preços de hoje”.
A geração distribuída
Desde 2012, a geração distribuída da fonte solar já representa 3,6 gigawatts de potência instalada operacional, tendo sido responsável pela atração de mais de R$ 18,2 bilhões em novos investimentos ao País e gerando mais de 108 mil empregos acumulados no período, espalhados pelas cinco regiões nacionais.
A geração pelos pequenos consumidores é levemente acima de toda a potência de geração centralizada, que é das usinas. Hoje temos 3 gigawatts de potência instalada operacional no Brasil em usinas de grande porte. “Essa mudança aconteceu este ano. Até o ano passado a geração centralizada liderava em potencial operacional no Brasil na fonte solar, mas agora distribuída fez a virada”, revela Sauaia.
A tecnologia solar fotovoltaica já está presente em mais de cinco mil municípios e em todos os estados brasileiros. Os cinco maiores em potência instalada são: Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Mato Grosso. “Percebemos que para um Estado ser uma referência no uso da geração distribuída não é apenas ter o recurso solar de qualidade. Mas é necessário desenvolver uma política pública tributária, seja, um programa estadual ou municipal, adequado acesso a crédito, ou seja ,financiamento para que a população, as empresas e os produtores rurais possam investir”.
Além disso, a ABSOLAR destaca que os estados que têm tarifa de energia elétrica mais elevada, naturalmente têm um tempo médio de retorno sobre esse investimento menor. Devido a isso, há uma maior atratividade para o uso da tecnologia.
A escolha
Segundo pesquisa do Datafolha, encomendada pelo Greenpeace em 2017, o primeiro fator pela escolha no uso da energia solar fotovoltaica é a economia. Gerar a própria energia e ficar independente das distribuidoras é a segunda maior motivação para obter um sistema de GD. E o terceiro fator é a sustentabilidade.
“O terceiro ponto está no processo decisório dos consumidores e tem sido cada vez mais importante, não só para os consumidores de pequeno porte, mas para grupos empresariais das grandes indústrias, que começam a incorporar os aspectos da sustentabilidade, sociais e de governança em suas decisões de negócio e de investimento. Nesse sentido, a solar fotovoltaica representa muito mais do que a redução da conta de luz”, explica o presidente executivo.
A geração de energia também é vista como uma proteção aos consumidores contra os aumentos recorrentes das tarifas de energia elétrica, que normalmente são acima da inflação. Com um sistema solar fotovoltaico o consumidor é capaz de reduzir o seu gasto de energia elétrica em até 90%, reduzindo os impactos das alterações tarifárias das concessionárias.
Investimento
Além disso, o investimento é recuperado entre quatro a sete anos. Significa dizer que esse sistema traz um retorno de acima 15% ao ano, enquanto a poupança ou mesmo em aplicação de baixo risco, como o CDB ou equivalente, trazem retorno abaixo de 2,5% ao ano. “Do ponto de vista do investimento a energia solar fotovoltaica traz um retorno muito positivo”.
Estudos internacionais ainda mostram que a energia solar fotovoltaica ajuda a valorizar entre 2,7% a 5,4%o valor o imóvel no qual o sistema está instalado.
Recuperação
A energia solar fotovoltaica ainda tem muito a crescer no Brasil, mas segundo a ABSOLAR, para que seja mais acessível à população é fundamental que o governo incorpore essa tecnologia como eixo no processo de recuperação da economia no período pós- pandemia. “A energia solar fotovoltaica representa uma oportunidade gigantesca de geração de empregos de qualidade. Podendo, portanto, ter um papel importante na atração de investimentos e também na geração de renda para a sociedade”, explica Rodrigo.
No cenário econômico, os sistemas fotovoltaicos podem ajudar a desenvolver competitividade para o setor produtivo e para o agronegócio, permitindo aliviar os custos com energia elétrica. Já que na média, a energia elétrica, para as empresas de pequeno e médio porte, é segundo maior custo operacional.
Para essa efetivação, a ABSOLAR propôs ao Congresso Nacional o estabelecimento de um marco legal para a geração distribuída, que permita trazer segurança jurídica, previsibilidade, estabilidade e um tratamento equilibrado para a geração de energia, evitando quaisquer sustos e sobressaltos para os consumidores.
Caminhos
Devido a isso, a entidade sugere ao Governo Federal que incorpore essa tecnologia nos seus programas de moradia, como no “Casa Verde Amarela”, permitindo que os proprietários dessas habitações populares gerem a sua própria energia, e com isso, aliviar os custos dessas famílias.
Outra sugestão para o Governo é a construção de um programa de 1 milhão de telhados solares, ou seja, desenvolver uma meta nacional para até o final da atual gestão, em 2022. “Também recomendamos uma meta de cinco milhões de telhados solares até 2030. Cabe dizer que hoje já existem em vários países do mundo que ultrapassaram essa marca de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, como é o caso da Austrália, Japão, China, índia, Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha”, pontua.
Outro fator importante é o acesso a crédito competitivo. “Nesse sentido a ABSOLAR tem trabalhado para o desenvolvimento de novas linhas de financiamento e o aprimoramento das já existentes”, explica Rodrigo.
Já para a geração centralizada, isso é, das usinas de grande porte, a entidade pede a retomada das realizações dos leilões de geração, que foram interrompidos por conta da pandemia. “É fundamental que em um planejamento de médio e longo prazo do setor elétrico, o governo incorpore um papel mais protagonista da energia solar fotovoltaica, tendo em vista que, essa é hoje a fonte renovável mais competitiva do Brasil em preço e, portanto, é a que pode ajudar a reduzir estruturalmente a conta dos consumidores se for contratada em maior volume ao longo dos próximos anos”, conclui.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia