Produção brasileira em 2016 deve manter o Brasil como maior produtor mundial

O Brasil é, há anos, o principal produtor e exportador de açúcar no mundo, tendo finalizado a safra mundial 2014/15, que se encerrou em setembro de 2015, com produção de 36,2 milhões de toneladas. O segundo principal produtor é a Índia, que finalizou a safra com produção pouco superior a 28 milhões de toneladas, mas, diferentemente do Brasil, consome quase a totalidade de sua produção.

O consultor em Gerenciamento de Risco – Açúcar & Etanol da INTL FCSTONE, Murilo Aguiar, comenta que a Índia atualmente está iniciando a safra 2015/16 e passou por um período de monções de junho a setembro deste ano, com pluviometria abaixo da média histórica nas principais regiões produtoras, retraindo as projeções de produção para esse player para algo entre 26 a 27 milhões de toneladas de açúcar.

Por outro lado, segundo Murilo, com relação ao Brasil, a recente valorização dos preços de bolsa, juntamente com a alta do dólar, incrementou significativamente a remuneração do açúcar em moeda local – um salto de mais de 40% nos últimos dois meses – para os produtores, melhorando as perspectivas do setor sucroalcooleiro, que teve também no etanol um expressivo fortalecimento de preços graças ao recente reajuste da gasolina nas refinarias (6%), elevação do consumo em 2015 (com o retorno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – CIDE – e mudanças regulatórias e tributárias) e projeção de estoques mais apertados para o final da safra (março/16).

Comparativamente, o açúcar VHP exportação, transformado na base etanol hidratado, remunera arualmente mais de 10% comparativamente ao preço do biocombustível no mercado doméstico (praça de Ribeirão Preto – SP). Ou seja, para as usinas o preço do açúcar atual mostra-se como estratégia interessante para a produção em 2016.

De acordo com previsões da União da Indústria de Cana de Açúcar (UNICA), para esta safra deverá haver um crescimento de 3,27% da cana e um decréscimo de 0,58% na produção de açúcar na Região Centro-Sul em relação à safra passada. Esse decréscimo tem como justificativa uma melhor remuneração do etanol e os altos estoques mundiais, fazendo com o mix seja favorável ao etanol anidro e hidratado.

Conforme explica a professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Heloisa Lee Burnquist, a vantagem do Brasil com relação aos demais produtores se dá devido ao fato de que desde a década de 1990 o País disparou na frente dos grandes exportadores da época, principalmente da União Europeia, que mantinha a dianteira impulsionada por subsídios aos produtores domésticos. “A hegemonia brasileira no mercado internacional de açúcar evoluiu rapidamente uma vez que o governo deixou de atuar como único exportador, transferindo a função aos empresários do setor.”

Além disso, há vantagem considerável com relação aos outros grandes produtores: o Brasil detém a maior indústria sucroalcooleira do mundo, tecnologia avançada, condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo da cana, abundância de terra e trabalha com um portfolio de produtos.

Futuro

Nesse sentido, de acordo com Ricardo Steckelberg, da Steckelberg Consultoria, o Brasil ainda é e será o maior produtor de cana e açúcar mundial por um bom tempo. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), somos responsáveis por mais da metade do açúcar comercializado no mundo. Devemos alcançar a taxa média de aumento da produção de 3,25% até 2018/19 e colher 47,34 milhões de toneladas do produto. Para as exportações, o volume previsto para 2019 é de 32,6 milhões de toneladas, mais do que a produção da Índia.

Em termos mundiais, a demanda de açúcar cresce, em média, ao redor de 2% ao ano, de acordo com números da INTL FCSTONE. Como principais fatores destacam-se o crescimento populacional, ascensão de classe social e êxodo rural. “Para a safra mundial 2015/16, estima-se crescimento de 1,8% na demanda mundial de açúcar, o que equivale a cerca de três milhões de toneladas adicionais”, estima Murilo.

Levando em consideração o consumo per capita de açúcar mundial ao redor de 25 quilogramas ao ano (com base na safra 2013/14), o consultor Murilo Aguiar infere que as duas regiões com maior propensão para crescimento do consumo no mundo são Ásia e África, que possuem demanda abaixo da média mundial, respectivamente 19,2 e 17,2 quilogramas ao ano para cada habitante. “Esses dois continentes concentram mais de 75% da população do globo e apresentam o maior crescimento de consumo anual de açúcar, com destaque para o sudeste asiático. Nessa região encontram-se países com crescimento de 5 a 10% ao ano, como é o caso de Myanmar e Bangladesh.“

Analisando-se a situação atual, Murilo acredita que o mercado asiático continuará como importante destino para as exportações brasileiras. Contudo, o consultor ressalta que é importante acompanhar diariamente as novidades, tanto nos players importadores quanto nos exportadores da região. Isso porque pode haver alterações nas perspectivas dos produtores brasileiros em caso de mudanças na relação de oferta e/ou demanda, subsídios governamentais, cotas de importação, entre outros fatores.

Segundo informações da União dos Produtores de Bioenergia (UDOP), as importações chinesas de açúcar em setembro subiram 80% sobre o mesmo mês de 2015, para 660 mil toneladas.

Steckelberg estima que a Indonésia deve importar 100 mil toneladas de açúcar branco em 2015, depois de não ter importado nada em 2014 devido à queda de produção causada pelo fenômeno climatológico El Niño. A produção de açúcar branco do país deve cair 4%, para 2,5 milhões de toneladas neste ano, sendo que atingiu 2,6 milhões em 2014.

Por outro lado, a Índia deverá ter uma safra recorde de 26 milhões de toneladas e um subsídio de 1,4 milhões de tonelada de açúcar não refinado para ajudar os produtores a pagar os agricultores. “Entretanto, estamos sujeitos a variáveis não controladas como clima e uma reação adversa da China, que tanto pode ser muito favorável ou desfavorável tal qual como foi com o aço brasileiro. Portanto, novamente temos que ter cautela para que a tomada de decisão seja acertada”, alerta Steckelberg.

Steckelberg ainda frisa que a Índia foi responsável pela maior volatilidade no preço do açúcar, devido a uma variação na produção e também ao alto consumo. “Entretanto, a pressão por terra e a necessidade de produzir mais grãos para o consumo interno pode ser um limitante na capacidade de expandir a produção de açúcar“, diz.

Mercado

Como o Brasil exporta mais que 2/3 de sua produção total, Heloisa Lee Burnquist reitera que o mercado internacional é estratégico para definir a dimensão do mercado consumidor do açúcar brasileiro. “Instituições como o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) têm apresentado expectativas de aumento do consumo global de açúcar para um patamar recorde de 173,4 milhões de toneladas no presenta ano safra, possivelmente igualando-se à produção que tem apresentado declínio pelo terceiro ano consecutivo.“

Heloisa Lee Burnquist ressalta que um fato recente que pode influenciar o mercado de açúcar nos próximos anos é a formação do acordo TPP, que pode, a princípio, aumentar o interesse da China, que dá o tom na demanda desse mercado, pelo açúcar brasileiro. Outras mudanças esperadas para os próximos dois anos devem ser incorporadas, no entanto, às análises fundamentalistas do mercado de açúcar: as mudanças esperadas na União Europeia decorrentes da alteração política para o setor em 2017, a inversão da posição da Rússia de importadora a exportadora, entre outras.

Já com relação à inauguração de novas unidades produtoras de açúcar para 2016 no Brasil, não há expectativa. Entretanto, pode ser que haja a retomada da produção de açúcar de algumas usinas que produziram apenas etanol em 2015/16 e/ou o início de produção em usinas que já fizeram investimento para a fábrica açucareira nos últimos anos.

Steckelberg comenta que as estimativas até o momento não consideravam a alta do dólar, que favorece as exportações do açúcar, pois melhora sua posição em Real na paridade com o etanol. “Entretanto, acredito que não haverá grandes investimentos para a próxima safra. O que ocorrerá será uma maximização no mix para aumento da produção de açúcar e a reativação de algumas fábricas que estiveram paradas temporariamente. O aumento desse mix talvez ainda não tenha acontecido pela necessidade de fazer caixa imediato nas empresas, mas pode, inclusive, ser a causa de mais uma nova crise no abastecimento do etanol.”

Remuneração

Com a atual escalada dos preços, tanto do açúcar como do etanol, as usinas atualmente já possuem boas remunerações. “Contudo, um bom gerenciamento de risco deve ser aplicado de modo a proteger os valores dos produtos para 2016 e evitar o risco de perda dessa remuneração”, alerta Murilo.

Steckelberg destaca que os estoques mundiais de açúcar ainda estão altos e a colheita de cana ainda cresce na Índia e Tailândia. A tendência é de queda, mas compensada pela alta do dólar em relação ao real. Os preços do açúcar estão muito instáveis e oscilam bastante devido à oferta. “Devemos ser bastante cautelosos nesta hora. Somos o maior produtor de açúcar e nossas atitudes em relação ao mix do açúcar e etanol podem ser desastrosas com excesso de demanda de açúcar para o mercado externo e falta de etanol no mercado interno para 2016.”

No mês de outubro, os preços subiram devido a um cenário apertado de oferta. Em Nova York a commodity foi comercializada a 14,18 centavos de dólar por libra-peso para março de 2016 com uma valorização de 12 pontos. Para maio de 2016 a outubro de 2016 oscilou entre 2 a 9 pontos. No mercado interno, segundo informações do Cepea/Esalq, em São Paulo houve uma alta de 1,48% para o açúcar e 0,44% para o etanol hidratado, passando respectivamente para R$68,05 a saca de 50 quilogramas e R$1,485,00 o metro cúbico de combustível.

 

Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia

 

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