Foto: Agência Brasil

Produção de energia eólica garante renda e investimentos nas comunidades rurais

Produtores rurais de sertão do Rio Grande do Norte estão ganhando dinheiro com o vento. Eles estão arrendando parte de suas terras para empresas de energia eólica, que levam sustentabilidade e investimentos para a região.

Estudos mostram que os ventos no Brasil são os melhores do mundo para a produção deste tipo de energia, e a equipe do Globo Rural foi acompanhar como é a situação do homem do campo após a chegada dessas empresas.

O agricultor Romão José da Silva produz em uma área de 300 hectares, em uma propriedade localizada no município de João Câmara, a 100 km de Natal. Ele sempre enfrentou dificuldades para se manter na atividade, muitos custos e a seca não ajudava na produção, mas a solução chegou há 7 anos, quando uma empresa de energia o procurou para arrendar suas terras.

“Quando chegou a equipe falando sobre essa história de aerogerador, eu tive a maior alegria porque eu ia pegar dinheiro, mas confuso sem entender o que isso significava”, afirma Silva.

O produtor descobriu depois que o sítio dele fica em uma região muito boa de ventos, ideal para a produção de energia eólica. Na propriedade dele, foram instalados três aerogeradores, que se parecem com cataventos gigantes.

Pelo arrendamento o agricultor recebe pelo arrendamento da terra R$ 3.000 por mês. Com o contrato, ele também ganhou um trator, um poço, uma mini estação de energia solar e um sistema de irrigação para 10 hectares.

“Foi a salvação da nossa região”, comemora Romão José da Silva.

10 anos e centenas de produtores

Silva e centenas de produtores rurais viraram parceiros das empresas de energia que chegaram ao Rio Grande do Norte há 10 anos.

A instalação de um conjunto de aerogeradores pode custar em torno de R$ 10 milhões. Atualmente são 2.042 aerogeradores instalados no estado. Cada torre é capaz de produzir energia suficiente para 800 casas por dia.

O gerente de operação de uma das empresas, Eduardo Rego Cavalcante, afirma que o Rio Grande do Norte é um dos melhores estados do Brasil para se explorar a energia eólica porque o vento tem velocidade e direção constantes.

“A gente aproveita a energia cinética dos ventos para rodar as pás das turbinas, que, por sua vez, estão acopladas a um gerador elétrico para transformar em energia elétrica”, explica Cavalcante.

A capacidade de produção de energia pelos ventos no Rio Grande do Norte é de 4,1 giga watts, o suficiente para atender 8 milhões de pessoas. Este ano, a produção eólica se tornou a segunda maior fonte da matriz elétrica do país, perde apenas para a hidráulica, que é responsável por cerca de 60% do abastecimento do Brasil.

Atualmente são 65 empresas de energia eólica no brasil, sendo 26 instaladas no Rio Grande do Norte. Elas concorrem em leilão público para explorar esse tipo de energia no país, os contratos são de até 30 anos. E as torres são instaladas em áreas arrendadas.

“As empresas arrendam a propriedade para permitir que o proprietário possa continuar com a sua atividade agropecuária normal, como ele já executava antes da chegada do parque eólico”, explica o superintendente de operações eólicas Ricardo Barbosa.

O contrato de arrendamento é sigiloso, ele varia de acordo com a empresa e com a produção de energia, o valor médio pago por aerogerador é de R$ 1.300 por mês.

Na fazenda do criador Josemar França, são 37 deles em uma área de mil hectares. Ele produz o gado sindi, uma raça parecida com o nelore, só que de cor avermelhada. Ele garante que os equipamentos não atrapalham a produção.

“De forma nenhuma [atrapalha]. Tanto é que à noite, para se aquecer o gado, como é frio aqui, eles vão para os pés das torres para se aquecer. Não tem nada que prove o contrário, a tranquilidade está aqui, sem problema de absolutamente nada”, diz França.

Investimentos na comunidade

O negócio é bom para os produtores, mas também beneficia os pequenos agropecuaristas da região. Isso porque parte do dinheiro investido pelas empresas de energia eólica vem de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).

Com isso, uma pequena parcela do empréstimo, entre 0,5% e 1%, precisa ser investido em projetos socioeconômicos nas comunidades que ficam dentro dos parques eólicos.

Um exemplo desse investimento está no assentamento Serra do Mel, criado na década de 1960 e que conta com 23 vilas e uma população de 2.400 famílias. A assentada Jaqueline Almeida explica que faltava o básico antes do projeto das empresas.

“Nós não tínhamos a água, nós não tínhamos energia, nós não tínhamos a maioria das coisas. A gente tinha casa e a terra”, relembra Jaqueline.
O assentamento sempre criou abelhas, o mel produzido ajudou a manter as primeiras famílias que se instalaram na região. Outro produto é o caju, mas a renda dos dois alimentos não era suficiente.

Com a chegada da energia eólica, um grupo de 700 assentados recebem cerca de R$ 1.300 pelo arrendamento das terras. Além do dinheiro, a vila passou a ter água.

“Nunca nem passou pela cabeça da gente um dia, como diz o povo daqui, que a gente ia vender o vento. Ou que um dia a gente poder criar tilápia em Serra do Mel. Nunca nas maiores ilusões do mundo isso passou pela minha cabeça” afirma a assentada.

Poluição sonora e visual

Apesar de ser uma energia limpa e renovável, a produção eólica cria poluição visual com o grandes aerogeradores e sonora com os ruídos que os equipamentos fazem.

O professor e líder comunitário Amauri Rocha é crítico dos parques eólicos. Ele pretende criar uma cooperativa para deixar a relação mais transparente entre o poder público, empresas e as comunidades locais.

Segundo ele, uma das questões que mais preocupam é o verdadeiro impacto ambiental dos parques eólicos na região.

“Alguns estudos são feitos, mas o nosso olhar precisa se aprofundar porque existem algumas construções feitas para que não se tornem um elefante branco”, explica Rocha.

Segundo Leon Aguiar, diretor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte, os impactos causados pelas empresas estão de acordo com as leis ambientais.

“A infraestrutura é muito pequena, isolada e pontual. As principais intervenções no ambiente são supressões vegetais para o traçado e a implantação do aerogeradores. É uma energia que impacta pouco no território a cobertura vegetal é pra mínima” afirma Aguiar.

Contrapartidas

O líder comunitário Amauri Rocha acredita que os investimentos obrigatórios das empresas não são suficientes diante dos valores que a produção de energia eólica movimenta.

“As coisas que foram feitas aqui foram pequenas reformas e pinturas nas escolas, na unidade de saúde, mas o volume dinheiro que foi que entrou não justifica. Se você pega esse dinheiro e investe como deveria nessa cidade, aqui seria bem melhor com certeza estrutura melhor”, diz Rocha.

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, Jaime Calado Pereira, reconhece que a contrapartida poderia ser maior, mas ele afirma que é preciso ter cautela com a cobrança.

“O estado tem cobrado, mas com cuidado porque, se a cobrança for muito alta, esse investimento pode migrar para outras regiões”, explica Pereira. Globo Rural

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