O Brasil deverá produzir volumes recordes de etanol na temporada 2015/16 (abril/março) de cerca de 30 bilhões de litros, mas a forte demanda interna pelo biocombustível reduzirá os estoques de passagem para níveis baixos, suficientes para 15 a 20 dias, o que terá reflexo nos preços, disse nesta quinta-feira um especialista do setor.
Com usinas do centro-sul direcionando mais cana para a produção de etanol na temporada 2015/16, em detrimento do açúcar, e um crescimento de pouco mais de 3 por cento na moagem ante a safra passada, a produção do combustível no Brasil crescerá cerca de 6 por cento na comparação com a safra 2014/15, segundo previsão divulgada nesta quinta-feira pela consultoria Job Economia.
Entretanto, as vendas de etanol hidratado, utilizado nos veículos flex, estão crescendo a taxas de dois dígitos este ano, atingindo níveis recordes, com o biocombustível mais competitivo frente à gasolina até o momento no ano, um crescimento que pode arrefecer na entressafra com uma esperada alta dos preços.
“Vai ser uma safra com pouco estoque de passagem, e por consequência os preços vão ser firmes na entressafra”, disse o sócio-diretor da Job Economia, Julio Maria Borges, em entrevista à Reuters.
Ele estima os estoques de passagem em 1º de abril de 2016 em 1,5 bilhão de litros.
Borges ainda acrescentou que, na ocorrência de um El Niño que comprometa a performance da moagem no centro-sul, por chuvas mais volumosas em alguns Estados produtores, a situação do abastecimento ficará prejudicada e os preços da entressafra “fortalecidos”.
De acordo com Borges, o etanol, numa situação de mercado mais fraco de açúcar, está sendo o “salvador da Pátria”.
Os preços do etanol recebidos pelo produtor têm estado melhores que os do açúcar de exportação nesta safra. “Então ele ajuda bastante, não resolve o problema, mas ajuda bastante… (Com a alta do dólar), nos últimos dez dias, o açúcar branco de exportação passou a ser ótima opção, o açúcar VHP ainda não é grande coisa, ainda que tenha deixado de ser péssimo, agora é só ruim.”
Essa situação de mercado explica por que as usinas do centro-sul do Brasil estão privilegiando a produção de etanol, que está impactando o total produzido de açúcar, destacou nesta quinta-feira a consultoria.
A safra de cana do centro-sul do Brasil, que responde por cerca de 90 por cento da moagem nacional e já passou da metade do processamento previsto, foi estimada nesta quinta-feira pela Job em 590 milhões de toneladas, aumento de 3 milhões de toneladas ante a estimativa inicial da consultoria e um crescimento de 3,3 por cento na comparação com a temporada passada.
Apesar no aumento da projeção e na moagem ante a safra passada, a produção de açúcar do centro-sul cairá para 29,9 milhões de toneladas, ante 32,3 milhões na projeção inicial e cerca de 32 milhões em 2014/15.
“Caiu bem com o rendimento industrial da cana, está pior que o previsto, e a preferência para produzir o etanol está maior”, completou Borges.
Ele explicou que a qualidade de cana está pior em função da ocorrência do florescimento dos canaviais nas regiões oeste e centro-oeste de São Paulo, um fenômeno decorrente de problemas climáticos que reduz a concentração de açúcares na matéria-prima.
A previsão inicial era de um rendimento de 136,1 quilos de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por tonelada de cana, estimativa que agora está em 133.
No caso do etanol, a produção da principal região produtora do país foi estimada em 27,7 bilhões de litros, 700 mil acima da projeção inicial e aproximadamente 1,6 bilhão de litros acima da safra passada.
No Nordeste, a Job projeta produção de 2,25 bilhões de litros na atual temporada, ante 2,18 bilhões na safra passada, enquanto a fabricação do açúcar na região terá recuo para 3,26 milhões de toneladas, com a região sendo afetada por um tempo mais seco. Reuters
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