Produtores de cana querem diversificar cultura em Alagoas

Diversificar. Essa é a palavra de ordem dos produtores de cana-de-açúcar para os próximos plantios com o objetivo de fazer face à crise sucroenergética no estado de Alagoas que consome em torno de um milhão de toneladas de grão, especialmente milho e soja, para a produção de aves, suínos e gado.
Nos últimos anos, o preço baixo tanto do álcool e do açúcar e o encerramento de algumas usinas de cana estão fazendo com que os produtores procurem alternativas. Percebendo essa lacuna, o Governo do Estado de Alagoas, lançou um programa de incentivo à cultura de grãos.
A Embrapa Tabuleiros Costeiros, como parceira e membro do comitê gestor do programa, implementou unidades demonstrativas de milho e soja e realizou, dias 8 e 9 de setembro últimos, dois Dias de Campo de forma a apresentar aos produtores 25 variedades de milho, na fazenda Nova, em Capela (AL), e 48 de soja na fazenda Santo Antonio, em São Miguel dos Campos (AL). Todas essas variedades foram testadas pelos pesquisadores e várias serão validadas como produtivas para as condições de clima e solo da região.
“Alagoas é um grande consumidor de soja. É preciso ser autossuficiente em milho, aumentar a produção e produtividade”, disse o Secretário de Agricultura do Estado de Alagoas, Alvaro Vasconcelos, presente no Dia de Campo, em São Miguel dos Campos, que reuniu quase cem produtores de cana-de-açúcar. “O dinheiro gasto com compra de milho e soja de outros estados se reverta para produção e gere emprego e renda para o estado”, pretende o secretário como também os produtores presentes.
“Acredita-se que cem mil hectares de cana-de-açúcar serão substituídos por grãos, eucalipto ou pastagem, no próximo ano”, disse Hibernon Cavalcante, superintendente da Secretaria de Agricultura de Alagoas e coordenador da Comissão de Incentivo à Produção de Grão, criado em janeiro deste ano.
Segundo o produtor de aves, suínos e gado Antonio Carlos Farias Brandão, “pagamos R$ 12 de frete por cada saca de 60 kg de milho vindo do Centro-Oeste ao preço de R$ 22, lá. Ele chega em Alagoas por R$ 34”, disse. “A alternativa é a produção de grão e comercialização à vista. O milho tem mercado garantido com preço excelente. Além disso, as áreas de Alagoas são propícias para produção do grão”, complementa ele.
Muitos produtores interessados em diversificar a produção com grãos não pretendem abandonar de vez a cultura de cana-de-açúcar. “Se cana voltar a dar preço, ela pode voltar”, disse o superintendente.
É o que pensa também o produtor Edilson Maia, de São Miguel dos Campos, proprietário da fazenda Santo Antonio, que disponibilizou sua propriedade para montar a “vitrine tecnológica” da Embrapa e viabilizar o Dia de Campo. “A soja e milho estão chegando para fortalecer a cultura da cana, pois contribui para rotação da lavoura que proporciona maior produtividade”, disse.
Esse raciocínio sobre rotação de cultura é unânime entre os pesquisadores da Embrapa. A rotação de cultura, a alternância entre gramínea (no caso o milho) e leguminosa (soja), traz inúmeras vantagens. Se adotada e conduzida de modo adequado e por um período suficientemente longo, a rotação de cultura melhora as características físicas, químicas e biológicas do solo e auxilia no controle de plantas daninhas, doenças e pragas. Outra vantagem é a reposição da matéria orgânica e proteção do solo. Ajuda também na viabilização do Sistema de Semeadura Direta. Além disso, proporciona produção diversificada de alimentos e outros produtos agrícolas.
De acordo com o pesquisador Sérgio Procópio, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, a monocultura pode gerar também riscos de comercialização. No caso de uma queda brusca do preço do produto, toda a região é afetada. “Bons produtores de cana, apresentam os atributos para serem bons produtores de milho e soja”, afirma Procópio. “Um ano soja, outro ano milho”, aconselha o pesquisador.
Sérgio Procópio vai mais além ao demonstrar a viabilidade da produção do milho e da soja para o Estado de Alagoas. Ele conta que a proximidade com os portos marítimos diminui o custo com o frete para a exportação do grão tornando a produção mais competitiva.
“O Porto de Sergipe, que pode atender produtores do estado e também de Alagoas, tem ociosidade que os outros portos não têm, além de grande área para estocagem de produtos”, disse Valdeilson Paiva, gerente do Terminal Marítimo em Sergipe, que pretende formar um comitê de trabalho para buscar parceiros e fomentar projetos que viabilizem o escoamento maciço de grãos e importação de fertilizantes.
A soja representa na atualidade a principal cultura agrícola brasileira. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab- apontam uma área cultivada com soja no Brasil de aproximadamente 30 milhões de hectares (2013/2014), sendo o principal produto de exportações agrícolas do país, pois é fonte de proteína primordial para a produção de rações animais e importante matriz oleaginosa para a produção nacional de biodiesel.
Por esse motivo, a Embrapa Tabuleiros Costeiros vem realizando experimentos para avaliar o potencial da cultura da soja em Sergipe e Alagoas como também na região dos Tabuleiros Costeiros e Agreste.
Diversas ações de pesquisa com soja vêm sendo realizadas pela Embrapa para a região, tais como seleção de cultivares com base em adaptabilidade e estabilidade de produção, porte para colheita mecanizada, nível de acamamento das plantas, ciclo de produção, determinação dos melhores períodos para o plantio, avaliação dos espaçamentos e população, adaptação ao plantio direto, inoculação de sementes com a bactéria Rhizobium que nitrogena a planta, levantamento das pragas, doenças e plantas daninhas e seus respectivos métodos de controle, determinação do momento correto da colheita, avaliação da qualidade de sementes (sanidade, germinação e vigor) e inserção da cultura em sistemas conservacionistas junto à agricultura familiar.
Os resultados de pesquisa na região revelam níveis de produtividade elevados para a soja (três a cinco mil quilos por hectare) considerado acima da média brasileira de 2,8 mil quilos por hectare, segundo a Conab (safra 2013/2014). “Isso indica o alto potencial produtivo da soja nas áreas denominadas Tabuleiros Costeiros e Agreste”, aponta o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros Antonio Dias Santiago, organizador do Dia de Campo sobre a soja como alternativa à cana-de-açúcar, em São Miguel dos Campos, que contou com a presença de quase duzentos produtores de cana.
Produtores de Alagoas já tentaram plantar soja em circunstâncias diferentes e pouco convenientes. “Mas a realidade agora é outra”, afirma o produtor Adilson Maia. Ele conta que plantou soja há 30 anos, mas tinha que colhê-la no período de chuva e em seguida plantar cana “Não dava para fazer duas grandes áreas ao mesmo tempo. Hoje, o estado é abastecido por irrigação e podemos plantar soja no momento ideal, no período da chuva e colher no período seco e em seguida, plantar cana com irrigação” afirma ele.
Além dos pesquisadores da Embrapa apresentarem aos produtores presentes no Dia de Campo em São Miguel dos Campos 48 cultivares de soja com resultados promissores para a região, relatar as facilidades de mercado e de transporte do produto, o pesquisador Sérgio Procópio ainda enfatizou outra importante vantagem: a fixação biológica do nitrogênio. “Na soja, é possível a baixíssimo custo inocular bactérias do gênero rhizobium nas sementes, que retiram o nitrogênio do ar e fornecem às plantas.” Já o milho necessita de adubação nitrogenada, como a ureia, que onera a produção. “O custo de produção de soja é menor que a de milho”, complementa.
Outro fator favorável ao cultivo da soja é a possibilidade de ser plantada no sistema de plantio direto, evitando o revolvimento do solo e a utilização de arados e grades.
Pragas e doenças da soja
Pesquisadores da Embrapa realizaram levantamento das pragas que ocorreram nas áreas experimentais de soja no Nordeste, como lagartas, percevejos e coleópteros desfolhadores. Eles identificaram todos os espécimes e vêm definindo as melhores formas de controle e recomendam o monitoramento constante das áreas de produção.
“Deve-se evitar o uso de inseticidas que eliminam os inimigos naturais de pragas, como os piretróides”, afirma o entomologista e pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Adenir Teodoro, presente no evento em São Miguel dos Campos, juntamente com o entomologista Aldomario Santo Negrisoli Junior.
E como inimigos naturais às pragas da soja existem os produtos biológicos como Baculovirus, Beauveria bassiana e Metharizium anisoplia. “Há também como inundar o campo com inimigos naturais como a minúscula vespa Trichogramma que parasita os ovos das lagartas nocivas à cultura da soja”, complementa o pesquisador. Embrapa Tabuleiros Costeiros

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