André Rocha é presidente-executivo dos sindicatos da Indústria de Fabricação de Etanol e Açúcar do Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar) e do Fórum Nacional Sucroenergético. Graduado em engenharia civil, já foi presidente da Companhia Energética de Goiás (Celg).
É o 1º Tesoureiro da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e coordenador do Grupo de Líderes empresariais (LIDE) em Goiás.
Canal: Qual a sua avaliação do ano de 2017 para o setor sucroenergético?
André Rocha: 2017 foi um ano difícil, de muitos desafios. A instabilidade no país levou à insegurança na maior parte do ano. Houve também mudanças tributarias federais e estaduais.
Tivemos num primeiro momento um aumento do PIS/COFINS no etanol, que não era o que esperávamos. Depois, houve aumento na gasolina, o que nos deu uma certa competitividade. Discutimos durante muito tempo sobre a questão das importações – houve um volume muito grande no ano passado em comparação aos anos anteriores, o que acabou prejudicando o mercado. O governo, no início do segundo semestre, estabeleceu uma politica que ajudou a diminuir um pouco a distorção que favorecia o importado sobre nacional.
Tivemos um ano de muitas batalhas em prol do RenovaBio e discutimos bastante em grupos de trabalho, audiências públicas etc. Conseguimos aprovar o programa em tempo recorde, isso foi muito importante para nós e nos dá animo para o ano de 2018. Precisamos estabelecer as metas do programa e regulamenta-lo. O RenovaBio é a principal conquista de 2017 e a definição das metas é o principal desfio de 2018.
Canal: A aprovação do RenovaBio pode ser considerada um marco histórico para o setor de biocombustíveis no Brasil?
André Rocha: Ele é um marco para o setor, mas vai depender das metas que serão colocadas. O RenovaBio pode ser um grande divisor de águas. Ele coloca metas de descarbonização e vai ao encontro dos compromissos firmados na COP 21, mas vai depender das metas estabelecidas pelo governo brasileiro nos próximos meses.
O governo deve formar um grupo de trabalho que possa estabelecer as metas que o Brasil vai se comprometer. Deve-se cumprir percentuais para que biocombustíveis possam ter participação cada vez maior na matriz e no sentido de descarbonixzação.
Canal: O que o RenovaBio vai mudar na realidade do setor ?
André Rocha: O RenovaBio deve ser implementado nos próximos dois anos, mas as metas serão definidas nos próximos meses – a expectativa é que seja ainda no primeiro semestre.
Canal: Haverá expansão de área plantada de cana no Brasil?
André Rocha: Eu não acredito em expansão. A área plantada em 2018 deve ser praticamente a mesma. Sobre a safra, é cedo dizer. Ainda temos que pegar dados do plantio e comportamento de chuvas deste verão, mas a próxima safra possivelmente será menor que a safra que está se encerrando no dia 31 de março.
Canal: A crise que afetou o setor sucroenergético já foi superada ou ainda existem problemas graves?
André Rocha: Não podemos falar em superação de crise. O RenovaBio pode dar uma nova esperança para o setor, mas só vamos ter certeza depois da regulamentação. O setor ainda precisa de segurança jurídica para voltar a crescer. O período de crise foi grande e as consequências muito fortes, mas hoje o ambiente está melhor e os piores momentos já passaram.
Canal: Existe possibilidade de investimento em novas usinas em Goiás?
André Rocha: O cenário em Goiás não vai ser muito diferente do Brasil. Aqui temos empresas mais novas, com custo menor de manutenção, mas temos 10 empresas em recuperação judicial.
Infelizmente no final do ano tivemos algumas medidas que podem piorar o cenário (aumento do imposto no diesel, aumento da alíquota do etanol e diminuição do incentivo do etanol anidro, que deve ser revisto nas próximas semanas), mas esperamos reverter isso no começo do ano por meio de diálogos.
2018 é um ano ainda de regulamentar o RenovaBio, em que haverá eleições presidenciais, que esperamos que traga um ambiente de mais segurança jurídica.
Canal: Goiás seguirá na posição de segundo maior produtor de cana e etano do Brasil, atrás apenas de São Paulo?
André Rocha: Provavelmente sim. É perigoso falar em safra, mas temos uma distância, de certa forma, confortável com relação ao terceiro colocado, que é Minas Gerais. Nós ainda devemos manter na próxima safra essa segunda posição, tanto de cana como etanol. Em Goiás a politica hoje esta defasada. Precisamos voltar a ter instrumentos para estimular consumo de biocombustível.
Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia