Na cana, com o ciclo 2021/22 próximo de seu encerramento, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) reportou uma moagem acumulada até 01 de janeiro de 2022 de 521,7 milhões de t na região Centro-Sul, queda de 12,67% em comparação ao volume processado no mesmo período da safra passada. Não houve moagem na última quinzena de dezembro. Apenas 12 unidades seguem ativas, sendo 6 delas com produção exclusiva de etanol de milho.
A qualidade da matéria-prima, medida em ATR (Açúcares Totais Recuperáveis), também está pior que aquela constatada no ciclo passado, 142,92 kg/t contra 145,17 kg/t ou 1,55% menor. Já com relação ao mix de produção, temos 54,92% para etanol e os 45,08% restantes para o açúcar.
O Sistema TempoCampo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq /USP) revelou suas primeiras estimativas para o ciclo 2022/23 de cana-de-açúcar para a Região Centro-sul. Segundo a ferramenta, a produção deve se recuperar em comparação ao ciclo anterior, estando entre 530 e 578 milhões de t nos respectivos cenários pessimista e otimista. As previsões consideram um cenário climático mais favorável a atual temporada, com chuvas bem distribuídas e em maiores volumes frente à anterior.
Além da cogeração de energia com o bagaço, novas tecnologias têm permitido a redução no consumo de água pelo setor sucroenergético. A Dedini Indústrias de Base desenvolveu um mecanismo para recuperar e condensar uma parcela dos vapores da produção de etanol e açúcar, além de realizar a limpeza da cana à seco. Com isso, a empresa se tornou autossuficiente na utilização de água e referência em seu reaproveitamento. O engenheiro e consultor da companhia, José Luiz Olivério, estima que 1 t de cana processada possa gerar 290 litros de excedente utilizável de água. Sustentabilidade na veia!
Ainda dentro da esfera da sustentabilidade, as distribuidoras de combustível não conseguiram cumprir a meta de aquisição de 24,86 milhões de Créditos de Carbono (CBIOs) prevista pelo RenovaBio para 2021. Segundo dados da B3, faltaram 800 mil títulos, o equivalente a 3% do objetivo. As distribuidoras que não concluíram a meta podem multadas e ainda são obrigadas a compensar a compra no ano seguinte. A meta para 2022 é de 35,98 milhões de CBIOs.
A situação financeira das usinas sucroenergéticas apresentou sinal de melhoria no ciclo 2020/21, conforme apurado pelo Itaú BBA. Tomando com base 59 grupos da região Centro-Sul, os quais representaram 60% da moagem, a dívida líquida caiu de R$ 50,7 bilhões e 2019/20 para R$ 45,6 bilhões no ciclo 2020/21. As receitas também cresceram e alcançaram R$ 79,2 bilhões, com Ebitda avaliado em R$ 23,1 bilhões.
Ainda segundo banco, a moagem de cana-de-açúcar deve fechar este ciclo em 525 milhões de t e subir para 545 milhões na 2022/23. Com relação ao ATR, espera-se 143 kg/t em 2022/23, ligeiro recuo de 2,1% frente a expectativa deste ciclo. Já para o açúcar, são esperadas 32,5 milhões de t nesta safra e 32,9 milhões na próxima. Finalmente, com relação ao etanol, devemos ter 24,1 bilhões e 24,6 bilhões, respectivamente.
No açúcar, a produção acumulada de açúcar na região Centro-Sul alcançou 32,03 milhões de t, valor 16,14% inferior ao volume do mesmo período de 2020/21, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Em seu balanço sobre os preços das commodities de 2021, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) apontou que a menor oferta de açúcar, causado pelas condições climáticas enfrentadas nos canaviais, comprometeram a disponibilidade de açúcar cristal no mercado spot. Com isso, os preços atingiram valores nominais recordes, chegando a R$ 157,43/saca no final do ano.
No entanto, o começo de 2022 já traz alguns reflexos diferente nos preços do adoçante. Na primeira semana de janeiro, os contratos futuros em Nova York alcançaram menor valor dos últimos cinco meses. Os contratos de março/22 fecharam cotados a 18,34 cents/libra-peso, enquanto os de maio/22 encerram em 18,10 cents/libra-peso. Isso é explicado pelo reequilíbrio dos preços frente a 2021 e a expectativa de melhor oferta no Brasil, com chuvas na largada no ano.
Agora na esfera da demanda global, o consumo de açúcar pela Indonésia cresceu de forma acelerada nos últimos 10 anos, o aumento é de 40%. Esse crescimento é bem superior àquele evidenciado em outros mercados asiáticos, como Índia ( 7,8%) e China ( 6,8%), de acordo com a trading Czarnikow. Além do aumento populacional de 13%, chegando a 264,65 milhões de pessoas, o país também apresentou um crescimento econômico expressivo, elevada taxa de urbanização e fortalecimento do turismo. Mercado-alvo importante para nos atentarmos, seja para o açúcar ou produtos industrializados!
Em dezembro de 2021, as exportações de açúcar somaram 1,93 milhão de t, queda de 32,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior; havia sido 2,87 milhões de t. Já as receitas foram de US$ 723,5 milhões, baixa de 15,9% no comparativo mensal. A queda menor nas receitas em comparação aos volumes se justifica pelo aumento nos preços médios em 25,0%.
No etanol, no acumulado da safra 2021/22 (abril até dezembro), a produção total de etanol atingiu 26,56 bilhões de litros, volume 9,33% inferior quando comparado ao do mesmo período do ciclo anterior. Desse total, 15,75 bilhões de litros são do tipo hidratado (-20,06%), enquanto que o anidro totalizou 10,81 bilhões de litros ( 12,74%). As unidades produtoras de etanol de milho foram responsáveis por um volume de 2,57 bilhões de litros.
Pelo lado da demanda, 21,14 bilhões de litros foram comercializadas desde o início da safra na região Centro-Sul, o que representa uma retração de 9,32%. Do volume total, 19,84 bilhões foram destinados ao mercado doméstico (-5,97%), já os outros 1,3 bilhão de litros à exportação (-41,31%). Considerando apenas o mercado interno, foram 7,73 bilhões de litros de anidro ( 17,15%) e 12,12 bilhões de litros do hidratado (-16,48%).
O CEPEA também apontou um ano de 2021 com valores recordes do preço médio do etanol, considerando a série histórica dos últimos 20 anos. Em valores reais, a média de preço do anidro (abril a dezembro) foi de R$ 3,6218/litro, já do hidratado alcançou R$ 3,2039/litro.
Ainda na avaliação de preços dos combustíveis, 2021 foi marcado por uma alta generalizada em seus valores. Em comparação a 2020, o preço do diesel teve um aumento de 46,8%; já a gasolina apresentou variação positiva de 46,5%; e o etanol de quase 60%, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e de Biocombustíveis (ANP). Os combustíveis somados à energia elétrica foram grandes vilões da inflação de 2021, mas especialistas afirmar que esse cenário não deve se repetir em 2022.
Segundo a Platts Analytics, a demanda por gasolina no Brasil no primeiro trimestre de 2022 ainda deve ser aquém daquele evidenciada no período de pré-pandemia. No comparativo com 2019, o consumo de combustível C (gasolina com etanol) deverá ser inferior em 5 mil barris por dia, isso porque o país deve passar por uma desaceleração econômica, somada a um cenário de altos preços.
Já os embarques de etanol fecharam dezembro com 154,32 milhões de litros, frente aos 170,03 milhões de litros em dezembro de 2020; queda de 9,25 no comparativo mensal.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em fevereiro na cadeia da cana:
1. Com a safra praticamente terminada, observar a posição de estoques de etanol e açúcar e principalmente o consumo de combustíveis nas férias.
2. As chuvas e as produtividades esperadas para a safra 2022, que deve vir maior. Talvez até atingindo 560 milhões de toneladas.
3. Os preços do Petróleo. O barril do petróleo tipo Brent voltou a subir fortemente para US$ 84. Será que com possibilidades de novos isolamentos pode cair um pouco? O fato é que tudo indica que ficarão altos neste ano.
4. Os preços do açúcar caíram neste mês, com a leitura que o Brasil vai produzir mais. Ao fechar esta coluna estavam em 18,31 cents/libra peso. Observar os preços em janeiro/fevereiro, mas cremos em estabilidade;
5. Os problemas de preços e abastecimento de insumos e as necessidades da cana para boa performance na safra 2022/23. Os investimentos em renovação e nas soqueiras devem ser maiores, devido aos bons preços. E os insumos estarão disponíveis e a que preços. Acreditamos que a situação deve melhorar e os preços caírem à partir da metade do ano.
Valor do ATR – seguimos com a nossa análise e acompanhamento dos preços de ATR ao longo da safra: em abril os preços eram de R$ 1,0141/kg; maio em R$ 1,0564/kg; junho em R$ 1,0630/kg; julho em R$ 1,0878/kg; agosto em R$ 1,1425/kg; setembro com R$ 1,209/kg; outubro em R$ 1,2938/kg; e novembro fechou em R$ 1,3727/kg. No último mês de 2021, dezembro, os preços tiveram uma leve baixa, ficando em R$ 1,3264/kg (3,4% menor que novembro). Com isto, o valor acumulado no ciclo atual está em R$ 1,1846/kg. A nossa leitura é de que o valor do ATR acumulado pode se aproximar dos R$ 1,25/kg até o final deste ciclo.
*Colaboração Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva
*Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Doutor Agro