As energias renováveis têm participado cada vez mais da matriz energética brasileira – apenas as fontes solar, eólica ebiomassa representam 15,6% na matriz nacional -, e essa participação deve ser ainda mais nos próximos anos, principalmente por causa dos compromissos firmados no Acordo de Paris, quando o Brasil se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030.
As fontes eólica, solar, hidráulica e biomassa estão em expansão e envolvem toda uma cadeia de produção. É preciso que se realizem investimentos e capacitações para que as demandas futuras sejam atendidas. Entretanto, um dos suportes de que pouco se fala são os seguros de energias renováveis, que englobam não só os riscos de engenharia, relacionados à construção de usinas, mas coberturas de riscos operacionais.
Anderson Cardoso, presidente da Acesso Brasil e diretor executivo do Sincor GoiásO presidente da Acesso Brasil, empresa especializada no segmento de energia, e diretor executivo do Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras de Seguros no Estado de Goiás (Sincor Goiás), Anderson Cardoso, explica que as apólices para o setor envolvem uma série de coberturas para riscos operacionais específicas a essa modalidade de geração. Sua aceitação no mercado é grande, alcançando cerca de 40% das usinas que não contam com financiamentos e 100% das usinas financiadas.
O principal diferencial do seguro para renováveis é a cobertura de lucros cessantes, com a liquidação de sinistros diferente dos demais ramos. “O segmento de energia tem contratos particulares de compra e venda de energia. Vende-se energia antes de gerar”, comenta Cardoso. Assim, em casos de sinistro em uma planta, seja de qualquer fonte, deve-se levar em conta o contrato de compra e venda de energia. Não é qualquer modalidade de seguro que vai garantir uma planta de geração de energia. “O seguro de risco operacional é a modalidade que melhor se enquadra nessas plantas, pois tem como objetivo principal cobrir qualquer tipo de acidente. Só não vai ser indenizado o que está excluído na apólice”, diz.
Leonardo Semenovitch, presidente da TravelersA Travelers no Brasil é também uma das empresas que oferecem cobertura para renováveis. Leonardo Semenovitch, presidente da seguradora, destaca que existe uma variedade de situações que podem gerar risco para essas companhias de energia e, em linhas gerais, trata-se de um segmento que requer uma ampla malha de coberturas para danos materiais, assim como para proteção de perdas financeiras em caso de acidente que acarrete a paralisação das operações de geração e fornecimento de energia. O seguro é voltado para proprietários, investidores, construtores e concessionários dos serviços de geração de energia renovável, contemplando desde o segmento de micro geração, até empreendimentos com valores contratuais expressivos.
Mercado
A demanda por seguros de energia renovável é pontual, já que as plantas estão distribuídas por todo o país, e não concentradas em apenas uma região. A definição do preço de investimento depende de diversas variáveis, como o tipo de risco, estágio e local de instalação da planta, condições climáticas verificadas, condições do relevo, vias de acesso ao local, condições de governança adotada pelo segurado, condições de proteção do local e tipos de equipamentos segurados.
A especificidade dos seguros para a área de energia oferece uma comodidade maior ao segurado, que contrata por uma mesma seguradora diversas coberturas relativas ao ramo de produção. Além disso, diante de efeitos climáticos que aconteceram no Brasil, como um regime de chuvas, ventos e incidência solar fora do planejado, houve elevações de tarifas e a incerteza sobre a disponibilidade de energia para viabilizar investimentos na indústria. É o que pontua David Somlo, Head de Agro e Clima da Swiss Re Corporate Solutions. “Considerando essa instabilidade climática, essa modalidade é uma segurança para que os nossos clientes minimizem eventuais perdas em seus resultados financeiros diante de eventos climáticos, como a seca, afetando a perda de biomassa, e excesso de chuva, diminuindo a moagem durante a safra.” Com as previsões futuras de geração de energia, Somlo entende que esse tipo de cobertura pode vir a se tornar um dos carros-chefes da seguradora.
Conforme cada tipo de planta, estão as prevenções que são necessárias para cada tipo de risco. Antes da aceitação por parte da seguradora, são analisadas por engenheiro a estabilidade de barragem e das obras civis, fabricantes, ano de fabricação e manutenções de usinas solar e eólica, sistemas de proteção entre outros. “A aceitação é bastante restrita, dependendo de cada tipo de fonte. Dentro das fontes, há um nível de aceitação mais restrito de fonte para fonte. Os sinistros não ocorrem com frequência, mas são de grande monta – quando ocorrem, estão na casa dos seis dígitos”, diz Cardoso, ao justificar a analise criteriosa para cobertura do setor. Das fontes, a mais restrita é a hidráulica, por envolver água, um fator maior de risco. Além disso, elas demandam equipamentos de maior potência que das demais.
Ana Flávia Marinho – CANAL-Jornal da Bioenergia