Enquanto o uso do biocombustível em ônibus e caminhões cresce na Europa, onde pelo menos mil veículos da Scania rodam com esta tecnologia pelos centros urbanos, no Brasil, produtor do etanol mais avançado e com expertise na área, tal expansão enfrenta obstáculos, mesmo após experiências bem-sucedidas; tema que será explorado no IV Seminário Etanol Eficiente, marcado para o dia 25 de outubro no Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), em Jundiaí (SP).
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), apoiadora institucional do evento, marcará presença no evento, especialmente no painel que abordará as barreiras regulatórias técnicas e mercadológicas que limitam o uso do etanol em ônibus e caminhões no País. De acordo com o consultor em Emissões e Tecnologia da entidade, Alfred Szwarc, entre 2010 e 2016, o Brasil chegou a ser referência internacional ao promover o uso de etanol e de outro produto sucroenergético, como o diesel de cana, em veículos de transporte público nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Entretanto, por falta de planejamento e políticas de públicas adequadas, os projetos foram praticamente descontinuados.
“Testes feitos no RJ comprovaram a viabilidade do diesel de cana, mas a falta de incentivos fez o programa ruir. Já frota paulista chegou a ter 402 ônibus abastecidos com diesel de cana misturado ao de origem fóssil e 60 coletivos movidos exclusivamente etanol. Com isso, verificou-se uma sensível redução de material particulado (MP2,5) na atmosfera, a chamada fumaça preta”, explica o executivo.
Nos modelos abastecidos com diesel de cana, que já não circulam mais na capital paulista, a redução na emissão de MP atingia a faixa de até 30%. Em relação aos ônibus a etanol – são apenas 10 veículos em operação, de acordo com a SPTrans –, além de cortar em até 90% a emissão de particulado, eles também emitem 80% menos gases responsáveis pelo aquecimento global, mitigando 62% a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx) e não liberando enxofre, substância que causa a chuva ácida.
Primeira nas Américas a propor este programa sustentável no transporte público, a cidade de São Paulo poderia ter ido ainda mais longe se tivesse cumprido Lei Municipal de Mudanças Climáticas, de 2009. A legislação determinava a substituição do uso do diesel por energias renovável em toda a frota da capital em 2018. Há pouco meses da meta final, somente 212 ônibus dos quase 15 mil em circulação são menos poluentes, dos quais 200 são trólebus, 10 a etanol e dois elétricos com bateria, segundo dados da SPTrans.
No ano passado, a Clariant, uma das líderes mundiais em especialidades químicas, desenvolveu um importante projeto para utilizar os três primeiros caminhões movidos a etanol comercializados pela Scania na América Latina. Capazes de reduzir em até 92% a emissão de CO2 em comparação com veículos similares a diesel, os veículos operam na fábrica da empresa, localizada na cidade de Suzano (SP).
Evento
Na quarta edição do Seminário Etanol Eficiente, além de questões técnicas, serão discutidos os principais usos e políticas do produto. Especialistas ligados ao INEE, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas gerais (UFMG), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e das empresas Scania e Iveco também discutirão a viabilidade do etanol em tratores, bombas de irrigação e máquinas colheitadeiras.
As inscrições e o programa completo do seminário estão disponíveis no site do INEE (www.inee.org.br).
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