Começou na terça-feira (22) o 6º Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel e o 9º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel. Reunidos em Natal-RN, até o dia 25 de novembro, pesquisadores, técnicos, estudantes e empresários poderão conhecer as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no âmbito de tecnologia e inovação na cadeia de biodiesel.
A pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Fátima Bento conta que esses eventos são uma oportunidade de encontro da rede e divulgação dos trabalhos em grupo. “Nesta edição nós estamos celebrando dez anos da RBTB, trazendo a parte de inovação e tecnologia dentro de várias áreas temáticas. Especificamente na minha área, que é de armazenagem, o que eu posso adiantar é que, ao longo dos últimos dez anos, as medidas de controle de prevenção estão muito mais atentas e o controle de qualidade hoje é muito maior” relata Fátima, que é uma das autoras do livro “Armazenagem e Uso de Biodiesel: Problemas Associados e Formas de Controle” e fará uma palestra na sexta-feira (25), às 9 horas.
O professor e consultor técnico da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene), Donato Aranda, destaca o papel da RBTB no desenvolvimento e divulgação do conhecimento científico ao longo do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) e o potencial do biodiesel em termos de geração de pesquisas. “Ontem, a abertura do Congresso contou com cerca de 600 pessoas, e mais de 700 trabalhos foram inscritos e serão apresentados. Isso mostra a capacidade do biodiesel em gerar pesquisa e conhecimento para o país”. Aranda apresentou a palestra “O Biodiesel no Brasil: conquistas, oportunidades e desafios”, no primeiro dia do evento.
A necessidade de uma maior interação entre o setor produtivo e o meio acadêmico é um dos gargalos a serem superados, aponta o diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski. “A Ubrabio vai ofertar um mecanismo de interação entre esses setores, que será lançado em breve”, afirma. O superintendete da Ubrabio vai falar sobre “Oportunidades e desafios para a pesquisa científica e tecnológica: a visão da indústria de biodiesel”, nesta quinta-feira (24), às 9 horas.
Confira a entrevista com o coordenador de Ações Desenvolvimento Energético do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Rafael Menezes:
UBRABIO – Qual contribuição a RBTB deu ao país em termos de recursos investidos em pesquisas e o que isso representa para o biodiesel?
Rafael Menezes – A Rede Brasileira de Tenologia do Biodiesel (RBTB) foi desenvolvida no âmbito do desenvolvimento tecnológico do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. Neste evento, estamos comemorando dez anos da RBTB. Já foram investidos no âmbito dessa rede e do desenvolvimento tecnológico do programa R$ 185 milhões, em 14 chamadas públicas e inúmeras encomendas tecnológicas para resolver os principais gargalos do setor. Esse investimento é incentivado pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC. As ações do MCTIC são bastante significativas em relação ao biodiesel. Além disso, temos os editais tradicionais como CNPq e Finep, que também investiram recursos na cadeia produtiva do biodiesel.
UBRABIO – As pesquisas são direcionadas para quais áreas?
RM – Essas pesquisas são direcionadas para resolver os principais gargalos. Na área de matérias-primas, estamos investindo em diversificação, novas fontes de matérias-primas para serem utilizadas como alternativas à soja. Já na área de tecnologia de produção, estamos desenvolvendo novas tecnologias de produção para trabalhar com matérias-primas de alta acidez. Outros trabalhos abordam agregação de valor aos coprodutos; novos métodos de análise de qualidade do biodiesel, mais simples e de baixo custo; além de armazenamento e controle do biodiesel.
UBRABIO – Como é o posicionamento do Brasil em termos de publicações científicas sobre biodiesel em relação aos outros países?
RM – O Brasil certamente está na vanguarda da área. É impressionante quando você faz uma pesquisa simples em uma base de dados como o Web of Science (https://webofknowledge.com). Em 2004, antes do programa, nós tínhamos poucos artigos. Se não me engano, eu cheguei a fazer essa pesquisa e nós tínhamos cinco artigos em 2004. Esse número explodiu. Eu não tenho a quantidade exata, mas se você pegar só a quantidade de trabalhos que foram submetidos à RBTB, somente nesta edição, nós tivemos 716 trabalhos aprovados no âmbito do Congresso. Ao longo das seis edições, foram 3,5 mil trabalhos aprovados.
UBRABIO – Existe algum mecanismo para promover a interação entre o que está sendo feito pelos pesquisadores e as indústrias do setor?
RM – Esse ainda é um gargalo a ser superado. O próprio congresso da RBTB é uma ferramenta para incentivar essa parceria entre a academia e a indústria. O MCTIC também tem algumas ferramentas que incentivam a pesquisa nas indústrias como o programa Febratec, a Embrapii, e incentivos fiscais que possibilitam essa articulação entre o lato sensu e o setor empresarial. Mas levar para a indústria as inovações e as tecnologias que são desenvolvidas dentro da academia ainda é o grande desafio.
UBRABIO – Quais são as redes temáticas da RBTB? Há alguma área que você visualiza uma demanda maior de investimentos?
RM – São cinco sub-redes temáticas: matéria-prima; tecnologia de produção; caracterização e controle da qualidade; armazenamento, estabilidade e problemas associados; e coprodutos. Existe um desejo maior do setor de pesquisa de maiores investimentos. Claro que temos algumas áreas que são mais demandantes, como matéria-prima, onde as pesquisas são mais demoradas e os investimentos às vezes têm que ser um pouco maiores porque tem que ter continuidade do projeto ao longo do tempo.
UBRABIO – Qual a situação atual dos aportes de recursos?
RM – Houve redução nos investimentos em pesquisa ao longo da crise que assolou o Brasil nos últimos três anos, então nós estamos buscando novos investimentos tanto do governo quanto da iniciativa privada para viabilizar e aumentar os projetos de pesquisa no país.
UBRABIO – Esta é a sexta edição do Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel. Quais as evoluções você destaca ao longo desse período? E o que vai ser apresentado durante esses dias?
Nós tivemos uma evolução tanto na qualidade dos trabalhos, como na participação no Congresso, que sempre vem aumentando. Quando eu falei que foram 716 trabalhos, eu realmente não esperava esse número, justamente por não ter tido investimentos em novos projetos nos últimos três anos. Então nós ficamos muito felizes com a quantidade de trabalhos e a presença das pessoas aqui. Ter essa plateia com pesquisadores, técnicos, estudantes e empresários envolvidos é muito importante. Nós estamos também publicando dois livros técnicos, com a consolidação de trabalhos e do esforço que foi feito no âmbito da RBTB: “Biodiesel no Brasil: Impulso Tecnológico”, em que eu fui organizador, e “Armazenagem e Uso de Biodiesel: Problemas Associados e Formas de Controle”, que teve pré-lançamento há duas semanas.
Ubrabio