Setor eólico espera chegar a aproximadamente 40 GW até 2026

Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e novas Tecnologias (ABEEólica), apresenta positivismo no crescimento do setor, que tem a perspectiva é de um acréscimo de aproximadamente 3 GW por ano. Ela concedeu uma entrevista ao Canal – Jornal da Bioenergia e falou um pouco mais das expectativas do setor, tanto para onshore e offshore.

CANAL- JORNAL DA BIONERGIA: Como está a atual situação do setor já caminhando para o fim do ano?

ELBIA GANNOUM: Este foi um ano muito importante para o setor eólico como um todo. Terminaremos o 2022 com mais de 24 GWs de capacidade instalada, somando parques em operação comercial e testes. O setor já representa mais de 12% da matriz energética brasileira e ocupa a 6ª posição global no mercado de eólica.

Também tivemos o decreto que estabelece diretrizes do uso do mar e esse foi um grande marco para eólica offshore. Duas portarias nas últimas semanas foram publicadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME) nesse sentido. Uma delas apontam para pedidos do mercado para reunir em um só lugar e simplificar para os investidores em um portal único de gestão voltadas para áreas marítimas a serem exploradas pelas eólicas offshore. A outra estabelece diretrizes para a cessão onerosas de áreas destinadas à geração offshore. Trata-se de um grande avanço para o setor e traz segurança para todo o processo.

No cenário do ano, vale mencionar, ainda, que o conflito armado na Rússia trouxe uma crise para o setor energético global e deixou ainda mais urgente a transição energética para a autonomia energética de cada país. No caso específico do Brasil, o cenário é muito promissor com o crescimento do mercado de eólica onshore, com as eólicas offshore e novas tecnologias como o hidrogênio verde.

CANAL: Quais os cenários para 2023?

ELBIA: As perspectivas para eólica são ótimas, principalmente por conta dos projetos que estão sendo fechados no Mercado Livre. Estamos hoje com 22,5 GW de capacidade instalada em operação comercial e, se considerarmos os contratos já fechados, teremos quase 40 GW até 2026. E isso só falando apenas de onshore.

Também até o fim da década é possível que tenhamos parques de eólica offshore em funcionamento, estamos trabalhando no momento na questão regulatória, mas até o fim da década o cenário brasileiro de eólica deve ser incrementado com as offshore. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que o Brasil possua aproximadamente 700 GW de potencial para exploração da fonte eólica em locais com profundidade com até 50 metros. Quanto a 2023, a perspectiva é de um crescimento de aproximadamente 3 GW por ano.

CANAL: Quais os principais gargalos do setor?

ELBIA: Há o desafio de fazer a economia brasileira voltar a crescer para que os leilões do mercado regulado possam contratar mais energia. Existe, ainda, uma pressão de custos na cadeia produtiva de eólicas, como reflexo da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia. Importante ressaltar, no entanto, que isso é uma questão conjuntural, prevejo uma reacomodação de preços. E o cenário, como disse, a médio e longo prazo, é muito promissor.

CANAL: A capacidade instalada hoje é de 22 GW, 12% da matriz. A que se deve esse crescimento?

ELBIA: Nos últimos anos a energia eólica vem crescendo uma média de 2 GW ao ano. Hoje estamos com 22,5 GW de capacidade instalada em operação comercial e até 2026 teremos 37 GW e esses valores não se referem a projeções, mas sim a contratos já assinados.

A projeção para os próximos anos é de um crescimento entre 3 GW a 4 GW por ano. Isso mostra a força do mercado brasileiro, que ainda deve crescer mais, apesar da pressão de custos deste período que estamos vivendo. Também até o fim da década é possível que tenhamos parques de eólica offshore em funcionamento, estamos trabalhando no momento na questão regulatória, mas até o fim da década o cenário brasileiro de eólica deve ser incrementado com as offshore.

CANAL: Hoje o Brasil conta com 812 parques eólicos em 12 estados. Há previsão de ampliação de investimentos? Quais são os principais geradores?

ELBIA: A ampliação se dará com o início das operações já contratadas e no futuro com o incremento de energia eólica offshore e hidrogênio verde.

CANAL: Muitas indústrias e setores têm reclamado da escassez de mão de obra capacitada. Como está essa situação na geração de energia eólica?

ELBIA: O setor de eólica offshore é muito específico. Em termos de mão de obra, não existe escassez e quem tem formação e capacitação na área geralmente é um profissional muito requisitado. As empresas que operam eólica costumam também formar mão de obra. Destaco a iniciativa do SENAI no Rio Grande do Norte que tem um centro especializado formando novos profissionais e ainda iniciativa deles em parceria com a AES Brasil que estão capacitando mulheres para trabalharem em manutenção e operação de parques eólicos.

CANAL: O Brasil se destaca na geração de energia onshore. Como está o desenvolvimento offshore brasileiro? Quais as principais dificuldades especificas deste modelo?

ELBIA: No início do ano, o governo brasileiro já emitiu o decreto que estabelece as principais diretrizes para a questão da cessão de uso de bem público no mar, mas que essa legislação precisa ser regulamentada pelo Ministério das Minas e Energia (MME). A ABEEólica prevê que a regulamentação final sobre a cessão de uso de bem público para a instalação de usinas eólicas offshore aconteça até o próximo mês de dezembro. Com essa etapa vencida, é uma questão de quando serão realizados os leilões das áreas e, em seguida, a compra de energia.

Depois de realizado o leilão de energia, os primeiros projetos podem entrar em operação no prazo de cerca de seis anos. Isso significa que podemos ter eólicas offshore em funcionamento no final ainda desta década. Em termos de dificuldade, podemos citar a infraestrutura de linhas de transmissão. Há também o desafio de fazer a economia brasileira voltar a crescer para que os leilões do mercado regulado possam contratar mais energia.

O Brasil vem se preparando para eólica offshore já há bastante tempo, são muitas discussões entre o mercado, governo e órgãos reguladores. Por ser um modelo muito complexo, temos que lidar com várias etapas e levará tempo para fazer o que precisa ser feito respeitando cada uma dessas etapas e ouvindo setor privado, público e a sociedade. Estamos no caminho e no tempo certo.

CANAL: Em um futuro, quais outras tecnologias renováveis o Brasil  se destaca?

ELBIA: Jjunto com as futuras operações de eólica offshore existe outro grande potencial na exploração de usinas de geração eólica desse tipo: a produção de hidrogênio verde. O Brasil é destaque na produção de renováveis, com um amplo portfólio, e reforça seu grande potencial e protagonismo global na transição energética e numa economia de baixo carbono.

Cejane Pupulin- Canal-Jornal da Bioenergia

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