Com o cenário nacional recessivo economicamente, diversos setores agrícolas passam por dificuldades. Com a produção de sorgo não tem sido diferente – tanto o sacarino quanto biomassa tiveram uso reduzidos em 2015. A produção de sorgo sacarino, voltado para produção de etanol de primeira e segunda geração, historicamente foi maior em detrimento do sorgo biomassa, destinado à produção de bioenergia. O interesse por sorgo biomassa, entretanto, tem aumentado em virtude de se tratar de uma fonte para produção de energia, sendo mais viável economicamente. “O sacarino não foi muito bem aceito devido a algumas falhas técnicas. As empresas, principalmente canavieiros, acreditavam que os mesmos equipamentos usados na cadeia produtiva da cana fossem usados no do sorgo, o que ainda não foi totalmente possível”, relembra o professor do Polo de Inovação Tecnológica do Instituto Federal (IF) Goiano, Pablo Diego Silva Cabral.
No passado, o sorgo sacarino não obteve tanto sucesso graças à forma como foi empregado. Apesar de ter se adaptado bem à indústria, apresentou problemas no que diz respeito à parte agrícola. “A produtividade não foi adequada, ficando abaixo da lucratividade mínima. Isso gerou uma onda de pessimismo sobre o sorgo sacarino”, comenta André May, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
Há cerca de quatro anos, quando se começou a falar de sorgo para produção de etanol e bioenergia, a oferta de cana no mercado não era suficiente. O sorgo veio como uma tentativa de nova tecnologia para complementar a cana. Mas, devido a dificuldades de implantação da lavoura e ao pouco conhecimento de manejo, a produtividade foi baixa. Além disso, a interferência climática severa e a falta de chuvas prejudicaram ainda mais o plantio.
Para alcançar altas produtividades, o sorgo sacarino é uma cultura dispendiosa. Por isso, essa cultura exige ainda mais produtividade para que seja viável economicamente. “Por causa do pessimismo no Brasil, todo mundo fica com receio em investir em qualquer nova tecnologia, ainda mais com toda essa bagagem negativa do passado”, comenta André. Entretanto, o sorgo sacarino não tem características de altíssima produtividade.
O pesquisador André comenta que o interesse pelo sorgo foi reduzido ao longo do tempo. “Como unidade de pesquisa, a gente [Embrapa] estabelece os padrões de desenvolvimento. Mas como não há mais negócio, não conseguimos alçar grandes voos”.
O tempo de produção do sorgo sacarino leva em torno de 120 dias, enquanto o biomassa demora cinco meses. Assim, o sorgo sacarino possui uma grande vantagem: pode ser plantado na safrinha da cana.
Bioenergia
Já com relação ao sorgo biomassa o cenário é um pouco diferente graças à precificação do produto. Pablo comenta que, com a crise no setor energético brasileiro, o aumento do preço do Megawatt-hora foi inevitável. “Nesse sentido, o sorgo biomassa é uma alternativa interessante para diversificar a matriz energética.”
Segundo o professor, as vantagens da espécie são o ciclo curto (4-5 meses); plantio via sementes; cultura anual; alta produtividade de matéria seca; produção totalmente mecanizável; alto poder calorífero (similar ao da cana-de-açúcar, eucalipto e capim elefante); crescimento rápido; alta quantidade de celulose, hemicelulose e lignina e a colheita na entressafra das grandes culturas. Além disso, uma tonelada de sorgo biomassa pode produzir de 0,33 MW (níveis atuais) até 0,60 MW (novas tecnologias de conversão).
Para o futuro, o cenário ainda é incerto. Os estudos climatológicos devem apontar até quando a seca irá continuar e só então será possível dizer perspectivas sobre a produção do sorgo. “Não é possível prever o que vai acontecer na próxima safra. Se as chuvas sinalizarem que não virão, toda a discussão sobre energia retorna”, adianta André. O pesquisador ressalta que a Embrapa está pronta a atender produtores de sorgo, mas é preciso que haja uma resposta do mercado para que isso ocorra.
O professor Pablo Diego comenta que algumas empresas já plantam sorgo biomassa e a utilizam para queima. Segundo ele, o sorgo sacarino seria bastante viável no plantio durante a entressafra da cana e também em época de renovação do canavial, que necessita de certo intervalo de tempo. “Hoje em dia isso é uma aposta principalmente de empresas privadas. Elas já têm híbridos comerciais tanto de sorgo sacarino quanto biomassa. O biomassa possui maior rentabilidade no mercado e em breve ele deverá ser utilizado como fonte de energia”, acredita.
Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia