StoneX Brasil espera uma safra superior a de 2021

Murilo F. Aguiar é Consultor Sênior em Gerenciamento de Riscos – Açúcar, Etanol e Moedas da StoneX Brasil e conversa com o Canal – Jornal da Bioenergia sobre a expectativa para a safra na Região Centro-Sul, que iniciou recentemente.

Canal-Jornal da Bioenergia: Qual a estimativa de moagem da Stone X para a safra 2022?

Murilo Aguiar: Fizemos nossa quarta revisão de safra do Centro-Sul no último dia 10 de maio, durante nosso evento de mercado e perspectivas no Sugar Week em Nova Iorque. De acordo com nossas estimativas, a visão de conclusão de safra é de um processamento total de 565,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para a safra 2022/23 (+8,1% frente à passada), justificada por uma recuperação do TCH e maior disponibilidade de biomassa, favorecida pela boa precipitação de entressafra. Entre os meses de outubro/21 a abril/22, 1.132,6 mm de precipitação incidiram na ponderação das áreas canavieiras do Centro-Sul, ultrapassando a média dos últimos 10 anos em mais de 23%.

Canal: E de produção?

Murilo: Com o crescimento da disponibilidade de matéria-prima, estimativa de ATR de 140,6 kg/t de cana (-1,6% frente à safra anterior) e previsão de um mix açucareiro de 44,8% (pouco abaixo da safra passada, 45%) estimamos produção de 33,9 milhões de toneladas de açúcar e etanol total (anidro e hidratado) de 30 bilhões de litros, já somando 4,2 bilhões de litros previstos do processamento de milho.

Canal: E a taxa de ATR? E a área de plantada?

Murilo: Esperamos uma taxa de ATR acima. Quanto à área plantada, nossa estimativa utiliza um total de 7,7 milhões de hectares, a qual pode sofrer impactos de competição com outras culturas – especialmente grãos- e taxa de reforma dos canaviais, o qual pode impactar o total da área colhida ao final da safra.

Canal: O mix este ano será mais dedicado ao etanol? Por quê?

Murilo: Esse é a grande discussão atualmente, dado a disputa acirrada de preços entre açúcar e etanol justamente no começo de safra das usinas, período no qual há espaço para alteração de direcionamento do mix. Contudo, um empecilho para uma alteração drástica é a precificação antecipada do volume exportável de açúcar para a safra atual, o qual prevemos pouco mais de 81% já precificado em mercado futuro, dificultando o washout (cancelamento contratual), que inclusive traz custos para sua realização.

Ainda, a troca para etanol é sair do certo para o duvidoso, pois o açúcar possui ferramentas de hedge (proteção de preços no mercado futuro) mais assertivos e com alta liquidez, diferentemente do mercado de etanol, o qual ainda vem evoluindo ano a ano.

De qualquer forma, tal análise ainda dependerá da conjuntura macroeconômica e das tendências para o consumo de combustíveis no mercado doméstico brasileiro. Diante do desempenho recente e dos preços elevados nas bombas, nós esperamos uma expansão mais amena da procura por Ciclo Otto em 2022/23 (abr-mar), quando comparada ao ciclo anterior, para o qual projetamos um crescimento safra-a-safra de 2,0%, totalizando 39,1 milhões de m³. Comparada à safra 2021/22, onde o share de hidratado foi de 25,3%, nossa estimativa para a safra 2022/23 é de que ele apresente um aumento de 4,7 pontos percentuais, atingindo a marca dos 30% – estimativa que se baseia no viés altista para os preços da gasolina, dado os altos preços do petróleo e repasse represado pela Petrobras no comparativo à paridade de preços internacionais.

Canal: Houve aumento de custo no setor para esta safra? Se sim, quais os motivos?

Murilo: Da safra 2020/21 para a 2021/22 o setor já veio de um incremento significativo de custos, tanto na área agrícola, quanto na industrial e operacional. A estimativa generalizada do mercado é de novo aumento dos custos para 2022/23, vide a recuperação das commodities agrícolas e energéticas, pressionando insumos, e eventos geopolíticos como o conflito Rússia e Ucrânia que trouxe forte elevação dos custos dos fertilizantes e do diesel (por efeitos de alta do petróleo). Ainda, preocupam o cenário inflacionário no mundo todo e elevação da taxa básica de juros (SELIC), afetando o financiamento direto do setor.

Canal: Em 2022, qual a estimativa de Créditos de Descarbonização (CBios)? Teremos aumento na remuneração?

Murilo: Nossa estimativa é uma disponibilidade total (etanol + biodiesel) de 49,03 milhões de CBios para 2022, volume acima da meta de 36,7 milhões definidas pela ANP.

Assim, para esse ano é interessante notarmos que mesmo com maior disponibilidade a cotação do CBio vem se sustentando e mantendo uma crescente, chegando recentemente à máxima de R$ 110/título. Uma justificativa para essa valorização é a antecipação compradora para cumprimento da meta do ano, a qual já ronda quase 50% sendo que o ano transcorreu próximo de 36%. Ainda, a visão de metas mais agressivas para 2023 e 2024, quase empatando e podendo ficar em linha com a disponibilidade de geração, traz a antecipação da aquisição dos títulos, com boa parte da parte obrigada querendo evitar valorizações vistas como no fim dos últimos anos.

Canal: O clima pode afetar a safra este ano?

Murilo: Estamos diante de um risco climático de geada no sul do país podendo se estender para Paraná, São Paulo e Minas Gerais, contudo sem grandes ocorrências no momento. Como a visão recente do mercado vem de um ano de 2021 com três geadas fortes e consequências negativas no canavial e produção, o receio é grande e trouxe uma forte recuperação aos preços do açúcar e etanol. Contudo, pelas previsões atuais, não devemos ter algo muito impactante esse ano, com ocorrências apenas pontuais – o que pode ser facilmente corrigido com o manejo da colheita.

Canal: Os conflitos entre Rússia e Ucrânia seguem. Isso pode refletir na safra brasileira?

Murilo: Sem dúvida. O efeito principal, fora uma eventual valorização do dólar por uma extensão geopolítica do conflito, é a elevação da cotação do petróleo, o qual pode afetar a safra brasileira tanto em visão de mix entre açúcar e etanol como em remuneração dos preços dos principais ativos e custos operacionais, como o do diesel.

 

 

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