O início da nova temporada para a commodity, não obstante, tensionou ainda mais o lado da oferta por conta dos atrasos e incertezas em diversos players. Na Ásia, chuvas indesejadas parecem ter prejudicado a produtividade nos canaviais da Tailândia, Índia e Paquistão, importantes exportadores — contexto foi similar para a Austrália. Com menor volumes de exportação no último quarto do ano, os estoques no curto prazo continuaram apertados sob demanda fortalecida no spot e, assim, os preços em NY se mantiveram sustentados. O início de 2023 ainda não reverteu o cenário, com um menor volume de vendedores nos mercados futuros, refletindo dificuldades produtivas na Ásia e a própria entressafra no Centro-Sul do Brasil.
Por outro lado, as expectativas para o Centro-Sul brasileiro a partir de abril/23 continuam otimistas. Dessa forma, com maior disponibilidade de cana e mix ainda mais açucareiro, o ciclo 2023/24 (abr-mar) na região deve colocar mais volumes de açúcar no mercado, o que deve apontar para um aumento da oferta no médio prazo.
À grosso modo, o superávit projetado em 5,0 milhões de toneladas deve se materializar a partir do segundo trimestre de 2023, com maior intensidade no segundo semestre do ano quando as exportações pelo Brasil são maiores.
Ásia
O andamento das safras asiáticas permanece no foco do mercado de açúcar, uma vez que, nesta época do ano, elas costumam atingir o pico produtivo. Em termos de disponibilidade de cana, as expectativas iniciais eram timistas, com os principais produtores e exportadores registrando aumentos de área de cultivo da cana, dados os preços extremamente atrativos do açúcar em ambiente internacional e demanda fortalecida. Contudo, o clima, antes benéfico para o desenvolvimento dos canaviais, passou a prejudicar as culturas em alguns países, reflexo do prolongamento do fenômeno La Niña, que tende a depositar mais chuvas do que o normal nas regiões sul e sudeste da Ásia.
No Paquistão, o excesso de chuvas causou alagamentos em diversas regiões, principalmente na província de Sindh. Por meio de imagens de satélite feitas por uma entidade governamental paquistanesa (ICIMOD, na sigla em inglês), 2,5 milhões de hectares dos 4,9 milhões de ha agricultáveis em Sindh foram diretamente afetados pelas inundações. A região possui 31% da área de cana do país e, segundo o relatório do ICIMOD, 61% da safra foi afetada, ou 10,5 milhões de toneladas da biomassa na província. Nesse sentido, foi mantida a estimativa de produção de 7,44 milhões de toneladas (valor em branco) de açúcar em 2022/23, queda anual de 7,0%, reflexo das perdas de produtividade nos canaviais inundados.
Na Tailândia, as precipitações também foram acima da média, beneficiando os canaviais, em um primeiro momento. Como no caso do Paquistão, algumas regiões sofreram com as chuvas e adiaram por cerca de 2 semanas o início da colheita, mas, no geral, a safra teve início dentro do normal e segue adiantada frente ao ano passado. Até o dia 17 de janeiro, a Tailândia colheu 34,6 milhões de toneladas de cana e produziu 3,6 milhões de tons de açúcar, 3,3% e 9,3% (respectivamente) acima de 2021/22. As estimativas da StoneX apontam para a produção de 11,2 milhões de toneladas (bruto) do adoçante no ciclo 2022/23, aumento anual de 10,9%, com 105,0 milhões de tons de cana disponíveis.
A situação na Índia, por sua vez, vem preocupando o mercado de açúcar. Por mais que a safra 2022/23, segundo a Associação das Usinas de Açúcar da Índia (ISMA, na sigla em inglês), esteja 4,0% à frente de 2021/22, muitas notícias têm sido desanimadoras, uma vez que as chuvas acima do normal entre setembro e novembro teriam prejudicado a produtividade dos canaviais indianos, especialmente no estado de Maharashtra, principal produtor em 2021/22. Até agora, o número maior de usinas em operação no comparativo anual poderia indicar um adiantamento do processamento no ciclo atual, já sendo ventilado que deve durar entre 45 e 60 dias a menos em relação ao ano passado. Pelo acompanhamento da temporada indiana, já pôde ser observado o pico produtivo na primeira quinzena de janeiro, fazendo com que, daqui para frente, os números percam fôlego até meados de abril.
Nesse sentido, a StoneX revisou a estimativa para a fabricação do açúcar na Índia, de 36,5 para 35,8 milhões de toneladas (branco), estabilidade frente a 2021/22. As notícias indicam que Maharashtra deve produzir abaixo das 13,7 milhões de tons da safra passada e é possível, portanto, que o país não supere o recorde atingido
Uma queda produtiva na Índia divulgada por grande parte do mercado estaria amparada por uma safra que pode durar menos em 2023, além dos rumores de perdas de produtividade da cana. No ano passado, algumas usinas ainda operavam no mês de junho em Maharashtra, por conta do excesso de cana no estado e incentivos à produção do açúcar.
Ainda sob incertezas, o tamanho da safra indiana pode ter alguma pista pela ótica das exportações. Em 2021/22, a Índia exportou cerca de 11,0 milhões de toneladas de açúcar, recorde histórico. Essa demanda elevada, em contrapartida, levou os estoques finais do ciclo passado para 5,5 milhões de tons, menor valor desde 2016/17. Por este motivo, dados os estoques de passagem apertados para 2022/23, os embarques serão menores nesta nova safra, mesmo se a produção for maior.
O governo indiano liberou a primeira fase das exportações (que, teoricamente, será dividida em duas) em cerca de 6,15 milhões de toneladas de açúcar, das quais mais de 5,5 milhões já estão comprometidas para embarques, e quase 2,0 milhões de tons já foram exportadas. Em fevereiro, será discutida a possibilidade de uma nova cota e, caso ela de fato ocorra e dependendo de seu volume, a produção deve sim continuar no campo otimista, uma vez que uma quebra tende a ocasionar menores exportações para garantir o abastecimento doméstico.
Na China, o andamento da safra continua apontando para crescimento anual, principalmente pela recuperação na área de cultivo. Por outro lado, o clima seco atingiu diversas regiões produtoras importantes, prejudicando a fornecimento hídrico nos arredores do Rio Yangtze, mais ao sudeste chinês. As estimativas iniciais para o país giravam ao redor de 10,3 milhões de toneladas (branco) de açúcar, as quais foram sendo revisadas ao longo dos últimos meses. Até o final de dezembro, a colheita da beterraba sacarina chegava próxima do fim, registrando uma recuperação de açúcar aquém do esperado. Por isso, fontes internas na China já trabalham com uma produção final entre 9,76 e 9,8 milhões de toneladas de açúcar em 2022/23 — abaixo do estimado pela Associação de Açúcar da China, que está em 10,05 milhões de tons. A StoneX, em linha com essas frustrações produtivas, ajustou sua projeção para 9,8 milhões de toneladas do adoçante (branco), maior que a temporada 2021/22, que fechou em 9,56 milhões de tons. (StoneX)