A transição da economia baseada no petróleo para sistemas de produção cada vez mais fundamentados em matérias-primas de origem renovável e processos sustentáveis passa por vultosos acordos internacionais, mas também pelo desenvolvimento de novas tecnologias que os viabilizem técnica e economicamente. De 8 a 10 de novembro, os esforços de um dos principais centros de pesquisa do País para gerar essas tecnologias para a bioeconomia estarão em exposição e debate, em Brasília/DF, durante o III Encontro de Pesquisa e Inovação da Embrapa Agroenergia (EnPI 2016). O tema, neste ano, é “Bioeconomia: o papel da química verde e dos biomateriais”.
Quem andar entre os 39 pôsteres que estarão em exibição no evento poderá observar quão diversas são as áreas de pesquisa em que se está investindo e como elas vão se integrando para serem empregadas nas indústrias. Tudo começa com as matérias-primas, neste caso a biomassa que pode vir da cana-de-açúcar, do pinhão-manso, do dendê, da macaúba, do capim-elefante e até mesmo de microalgas. Estudos querem desvendar a genética, o metabolismo, os compostos químicos ali presentes, a estabilidade dos óleos delas obtidos. Com essas informações, os cientistas podem torná-las mais produtivas, melhorar suas características, extrair delas os produtos mais valorosos.
Mas como essas matérias-primas serão processadas depois? Boa parte da resposta a essa pergunta pode estar nos microrganismos, que são o objeto de estudo de vários dos trabalhos que serão apresentados nos pôsteres. Bactérias e fungos têm a capacidade de consumir a biomassa ou resíduos orgânicos da agroindústria e convertê-los em combustíveis – a exemplo do biogás – e compostos que podem compor alimentos, cosméticos, produtos de limpeza, plásticos e até medicamentos.
No EnPI, serão apresentados resultados de pesquisa para seleção de microrganismos produtores de ácidos orgânicos, bem como a construção de novas linhagens para obtenção de etanol. Outra linha de investigação muito presente na Embrapa Agroenergia que terá trabalhos apresentadcnpaos é o uso de fungos para obter produtos com alto valor agregado a partir da glicerina, principal coproduto da produção de biodiesel.
Os microrganismos também são “fábricas” de enzimas, substâncias que têm sido apontadas como peças-chave para a indústria de base biológica. Equipes de pesquisa da Embrapa Agroenergia buscam mecanismos para produzir lipases, enzimas amplamente utilizadas na obtenção de produtos de limpeza por exemplo, de forma mais eficiente, visando à produção sustentável de biodiesel.
Além disso, pesquisas com algumas das classes de enzimas mais recentemente identificadas, que revolucionaram o conceito clássico de decomposição da celulose das plantas, também estarão no evento em Brasília. A expectativa é que a caracterização delas, as monoxigenases, permita, em futuro próximo, aplicá-las para tornar mais eficientes os processos industriais que utilizam biomassa vegetal para obter açúcares e, a partir deles, produzir combustíveis, polímeros e produtos químicos de origem renovável.
Resíduos
Para fechar o ciclo, também estão em desenvolvimento pesquisas para aproveitamento de resíduos gerados em várias etapas de processamento da biomassa. Para os cachos de dendê vazios que sobram após a extração dos cachos, duas alternativas em avaliação serão apresentadas: a extração de nanofibras de celulose ou a gaseificação. A primeira opção mostra-se interessante para produção de biomateriais e compósitos, com larga aplicação na indústria. Já a segunda opção pode ser utilizada, por exemplo, para gerar energia e também está sendo estudada a partir do bagaço de cana. Para outro resíduo do processamento do dendê, um efluente da lavagem dos frutos chamado POME, uma tecnologia em estudo que será apresentada é a geração de biogás.
Em todas essas etapas, metodologias eficientes de análises são necessárias para caracterizar o material com que se vai trabalhar, descobrir que compostos microrganismos estão gerando, entender o metabolismo de plantas. Vários trabalhos em exposição no EnPI apresentam métodos desenvolvidos pelos pesquisadores da Embrapa Agroenergia para extrair as informações de que precisam com rapidez e precisão. Cabe destaque para o fato de muitos destes métodos alinharem-se ao conceito da química-verde, que será extensivamente debatido no EnPI.
Os pôsteres com os resultados de todas essas pesquisas ficarão expostas nos três dias do evento. Eles estão organizados em cinco áreas: Genética e Biotecnologia Vegetal; Genética e Biotecnologia Microbiana; Processos Bioquímicos; Processos Químicos; Química de Biocombustíveis e Biomassa. Para avaliação e premiação, os trabalhos serão agrupados em três categorias: “graduandos”, “graduados” e “doutores”. Na tarde do dia 08/11, os autores defenderão seus trabalhos para as comissões julgadoras. Os melhores farão apresentações orais no dia 10/11, quando também será a premiação.
Além de divulgar as pesquisas que estão sendo realizadas na Embrapa Agroenergia, o EnPI abrigará um Simpósio em que o papel da química verde e dos biomateriais na bioeconomia será debatido em três vertentes: mercado, assuntos regulatórios e desenvolvimento tecnológico. O presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, fará a palestra-magna, de abertura do evento. As discussões contarão não só com pesquisadores da Embrapa, mas também com representantes de outras instituições e empresas, públicas e privadas.
O evento conta com o apoio da Boeing, da Ubrabio e da FAP-DF. A relação completa dos trabalhos que serão expostos e a programação do Simpósio estão no site da Embrapa Agroenergia (https://www.embrapa.br/agroenergia/enpi2016). As inscrições são gratuitas e estão abertas até 1º/11.
Embrapa Agroenergia