Na cana, no acumulado da safra 2024/25 até o dia 1º de julho, a moagem foi de 238,4 mi de t, isto é, um crescimento de 13,3% em relação ao mesmo intervalo do ano passado (210,5 mi de t). Apenas na 2ª quinzena de junho, as usinas do Centro-Sul processaram 48,8 mi de t ( 13,0%), segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia). O órgão ainda pontua que o avanço se deve a condições climáticas favoráveis à colheita e operações adiantadas no início da safra. Assim, esse cenário pode acabar aumentando o impacto do clima seco no rendimento dos canaviais em algumas regiões.
256 usinas estavam em operação até a divulgação do último relatório (1º julho). Destas, 238 processando cana-de-açúcar, 9 fabricando etanol a partir do milho e 9 flex. Já a qualidade da matéria-prima, calculada pelo nível de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), foi de 139,9 kg/t na segunda metade de junho ( 5,2% em relação a 2023/24). Enquanto isso, no acumulado da safra o índice é de 128,3 kg/t, o mesmo observado no ciclo passado. Para o mix de produção, no acumulado da temporada corrente é de 48,7% para o açúcar (alta) e 51,3% para o etanol (queda).
Em importantes regiões produtoras de cana-de-açúcar a seca prolongada vêm preocupando os produtores. Com a baixa umidade do solo e falta de chuvas para os próximos meses, o mercado projeta uma quebra de safra no terço final da colheita em meados de setembro, bem como maior risco de incêndios. No entanto, tendo em vista o melhor rendimento no início da temporada, a produtividade deve ficar próxima.
Apesar do início positivo da safra 2024/25, a consultoria Hedgepoint acredita que a temporada total será menor do que a do ciclo anterior, devido à menor qualidade da cana afetada pela falta de chuvas. As expectativas apontam para uma desaceleração na produção até o final da safra, com a previsão de moagem total em torno de 613,4 mi de t. Para a temporada 2025/26, há um otimismo cauteloso entre os produtores. A previsão é de que a safra alcance cerca de 620 mi de t, assumindo que as condições climáticas sejam favoráveis, especialmente entre novembro e fevereiro, quando as chuvas são cruciais para o desenvolvimento da cana. No entanto, a intensidade do fenômeno climático La Niña e a idade dos canaviais podem influenciar negativamente a produção, exigindo uma atenção redobrada sobre as condições meteorológicas e de campo.
No açúcar, a produção na segunda metade de junho foi de 3,2 mi de t, um aumento de 20,1% se comparado ao mesmo período de 2023/24 (2,7 mi de t). Já no acumulado da safra totalizou 14,2 mi de t, crescimento ainda considerável de 15,7% (ante 12,3 mi de t): são 1,9 mi de t a mais em relação ao ano anterior, principalmente por conta do avanço na moagem e, em menor escala, devido a mudança no mix de produção. Dados também da Unica.
As exportações de açúcar pelo Brasil em junho alcançaram 3,2 mi de t em volume ( 11,7% em relação ao mesmo mês de 2023) e R$ 1,5 bi em receita ( 8,3%), resultando em um preço médio de US$ 482,5/t (-3,1%), segundo dados do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária). O aumento está atrelado a preocupações com secas prolongadas nos próximos meses no Brasil, chuvas irregulares na Índia e produção revisada para baixo na União Europeia.
Diversos fatores merecem atenção para a dinâmica do açúcar, ao contrário do que vinha sendo estimado pelo mercado: monções favoráveis na Índia, menor intensidade do La Niña, melhora climática na Tailândia, otimismo na produtividade da União Europeia e maior disponibilidade na China. A percepção de que a Índia pode ser mais baixista do que o esperado levou a Associação das Usinas de Açúcar da Índia (Isma) a propor cotas de exportação. O país poderá retornar ao mercado exportador em 2024/25, dependendo de os preços cobrirem a paridade de exportação. Essa perspectiva e chuvas em algumas regiões no Centro-Sul do Brasil pressionam os preços.
A trading britânica Czarnikow revisou sua estimativa de superávit global para a temporada 2024/25, elevando para 8,8 mi de t, isto é, 3,4 mi de t a mais em relação à previsão anterior. Esse aumento se deve à expectativa de maior produção na União Europeia, Tailândia e Índia, com a produção total atingindo 189,7 mi de t, superando a marca de 2017/18, impulsionada por condições climáticas favoráveis, especialmente na Índia, onde a produção é projetada em 33,7 mi de t. As perspectivas também são otimistas para a safra brasileira, apesar dos relatos de tempo seco e desempenho inferior da cana no Centro-Sul, a empresa acredita que a área será maior do que muitos estimam. Enquanto isso, a demanda global na temporada 2024/25 é projetada em 180,8 mi de t, uma leve retração em comparação a estimativas anteriores.
Como resultado, os contratos de out/24 estavam negociados em Nova York em 18,94 cts/lb; e o contrato de mar/25 em 19,31 cts/lb. Em Londres, o açúcar cristal para out/24 estava cotado em US$ 545,50/t, enquanto a negociação para entrega em mar/25 girava em US$ 536,90/t. Enquanto isso, no Brasil, a saca de 50 kg do cristal gira em torno de R$ 134,27, segundo o Cepea.
No etanol, a fabricação foi de 2,3 bi de litros apenas nos últimos 15 dias de junho, sendo 1,4 bi de litros de hidratado ( 32,8%) e 887,9 mi de litros do anidro ( 1,1%). No acumulado da safra, a produção do biocombustível totalizou 11,0 bi de litros ( 13,5%). Destes, 7,1 bi de litros de hidratado ( 27,3%) e 4,0 bi de litros do anidro (- 4,8%). Na posição acumulada para o etanol proveniente do milho, a produção foi de 1,8 bi de litros, um avanço de 25,9% em relação ao mesmo período de 2023, de acordo com dados da Unica.
Já as vendas de etanol em junho chegaram a 2,8 bi de litros ( 10,9%). Mais uma vez o hidratado registrou variação positiva e o anidro, variação negativa: o 1º obteve crescimento de 27,8% (1,81 bi de litros) e o 2º retraiu 10,0% (1,0 bi de litros). No acumulado desde o início da safra até 1º de julho, a comercialização do biocombustível totalizou 8,6 bi de litros ( 22,1%): 5,7 bi de litros do hidratado ( 43,0%), e 3,0 bi de litros do anidro (-4,4%).
O ajuste nos preços da gasolina nas refinarias pela Petrobras, que elevou o valor em 7%, refletiu diretamente no aumento dos preços do etanol e da gasolina observado nos postos. E mesmo com o aumento nas vendas de etanol hidratado, ele continua sendo melhor opção na maior parte do Brasil, sendo aproximadamente 65,3% do preço da gasolina, com uma diferença de R$ 2,03/litro em média. Esses fatores ajudam a manter a demanda por hidratado elevada.
Os estoques de etanol no Centro-Sul do Brasil estavam em 5,3 bi de litros no final de junho, 13,2% a mais que no ano anterior e 20,4% acima da 1ª quinzena do mês, resultado da moagem elevada e demanda aquecida pelo biocombustível. Segundo o Mapa, 58,4% desse volume era de hidratado e 41,6% de anidro. Apesar do armazenamento elevado, especialistas do NovaCana preveem uma retração nos estoques ao longo da temporada devido à menor safra de cana-de-açúcar.
Os preços do hidratado (já com impostos) no município de Ribeirão Preto (SP) estavam em R$ 3,16/l em 18 de julho, alta de 6,7% em 3 semanas ou 20 centavos por litro. No anidro, os preços eram de R$ 3,15/l. Dados foram compartilhados pela SCA Brasil.
Valor do ATR: no final do mês de junho, a diretoria do Consecana (Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo) informou que foi assinado um contrato com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro) para revisão dos parâmetros técnicos e econômicos do Consecana-SP. O trabalho deve ser realizado nos próximos 4 meses e, até lá, a metodologia atual continuará a ser a referência. Em junho, os preços ficaram em R$ 1,163/kg, levemente abaixo do valor de maio (R$ 1,168). O histórico da safra 2024/25 se forma: mar/24 com R$ 1,1423/kg; abr/24 com R$ 1,1879/kg; mai/24 com R$ 1,1684/kg; e jun/24 com R$ 1,1635. O acumulado do ciclo atual está em R$ 1,1718. Até o final do ciclo, acreditamos em um valor entre R$ 1,15/kg a R$ 1,17/kg.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em agosto na cadeia da cana:
Clima na região Centro-Sul podendo afetar a produtividade dos canaviais a serem colhidos no final do ciclo. As recentes ondas de calor na região, somadas a estiagem que se acumula há meses e a transição para a La Niña, são preocupações que o setor tem acompanhado; e que podem alterar o volume moído.
No mercado de açúcar, vamos acompanhar a situação na Índia e Tailândia, bem como as estimativas para a safra atual. As previsões de superávit estão derrubando as cotações dos adoçantes, embora mudanças na safra brasileira (origem de grande parte da oferta) podem alterar o cenário.
No etanol, avaliar a reação no consumo da elevação dos preços da gasolina ( 7,0%) e reflexo nas altas do etanol, que subiram mais de 30 centavos por litro nos últimos 20 dias. Mesmo com a alta, o momento está mais favorável para o etanol na relação de troca em polos consumidores. Vamos avaliar como o consumidor reage e os volumes comercializados no próximo mês.
No mercado do petróleo, as cotações oscilaram de forma relevante neste último mês. O WTI Crude estava cotado em US$ 80,13/barril na data de fechamento da nossa coluna, praticamente o mesmo valor do mês passado, mas chegou a US$ 83,88/barril em 04 de julho. O Brent estava em US$ 82,59/barril, 2% menor no comparativo mensal, mas chegou a US$ 87,43/barril em 04 de julho. A estabilidade/queda é reflexo das preocupações com a demanda chinesa e economia global, e podem afetar diretamente os preços da gasolina (e combustíveis) no próximo mês. Vamos acompanhar.
Acompanhar como as recentes altas no câmbio podem afetar as vendas/preços do açúcar e também o mercado de combustíveis (petróleo/gasolina), trazendo impactos diretos em custos e competitividade.
Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva
Associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.
Beatriz Papa Casagrande
Consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.