Bioeletricidade do setor sucroenergético da última década é suficiente para abastecer a energia do mundo por três dias
A bioeletricidade, isso é, energia gerada a partir da biomassa, matéria orgânica de origem vegetal e animal, é a terceira maior fonte na matriz energética brasileira. A fonte é responsável por 11,8% da energia gerada no Brasil e isso representa 21,5 GW. O dado é da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O setor sucroenergético tem uma importante participação. Em 2021, foram gerados 34.655 GWh, destes 58% – isso é 20.202 GWh – foram ofertados à rede. A previsão é que o restante, cerca de 14.453 GWh, foi dedicado ao autoconsumo. O autoconsumo ainda é uma previsão da União da Indústria de Cana- de- Açúcar (Unica), já que os dados estarão disponíveis somente no 2º semestre de 2022, quando for publicado o Balanço Energético Nacional pelo MME.
Redução e potencial
Devido ao abaixamento de safra no ano passado, a produção de energia elétrica também foi afetada, com a redução em 10,6% em relação à igual período em 2020. “A menor geração para a rede acompanhou a redução da moagem de cana-de-açúcar, ainda que em patamar de redução percentual levemente inferior”, explica Zilmar José de Souza, Gerente de Bioeletricidade da Unica.
È importante salientar que desde 2013, o setor sucroenergético produz bioeletricidade mais para a rede do que para o consumo próprio. A energia acumulada para a rede nos últimos dez anos é equivalente a atender ao consumo brasileiro por quase cinco meses, oito anos a cidade de São Paulo ou 106 anos a cidade de Ribeirão Preto.
Na última década – de 2012 a 2021 – a geração acumulada de bioeletricidade sucroenergética para a rede foi de 196.867 GWh. Essa geração seria suficiente para suprir o consumo de energia elétrica do Mundo por mais de três dias ou da União Europeia por 25 dias. Também pode atender a China por 13 dias, os Estados Unidos por 18 dias; o Reino Unido por 232 dias ou a Argentina por quase 1 ano e 8 meses.
No Brasil
No ano passado, 88,5% do total da geração para a rede esteve concentrada em apenas cinco Estados. Em destaque São Paulo com 43% do total, seguido de Minas Gerais (13%), Goiás (11%) e Paraná (7%). Isso é, na região Centro-sul do país.
Segundo a EPE (2022), das 369 usinas de açúcar e etanol em operação em 2021, cerca de 220 comercializaram eletricidade, isso é, 60% do total de usinas. “Mais de 140 usinas não ofertaram excedentes de energia elétrica para a rede, indicando grande potencial a expandir na geração para a rede com o retrofit das usinas existentes, além do aproveitamento da palha e do biogás na geração de bioeletricidade”, pontua Souza.
Com isso, o potencial técnico de geração de bioeletricidade para a rede, com base em dados da safra canavieira 2020/21, pode ser estimado em 151 mil GWh. “Considerando que a geração sucroenergética para a rede, em 2020, foi de 22,6 mil GWh, estamos aproveitando apenas 15% do potencial de geração de bioeletricidade sucroenergética para a rede”.
Entre os meses de meses de maio a novembro de 2021 – período seco e crítico do setor elétrico – representaram 85% do total da geração de bioeletricidade sucroenergética para a rede em 2021, “Isso ressalta a relevância da safra canavieira na Região Centro-Sul, tradicionalmente iniciada em abril de cada ano”, pontua Zilmar. Dos 20.202 GWh gerados para a rede em 2021, 17.198 GWh (85%) foram ofertados nesse período.
Pioneirismo
Em Goiás, a Jalles Machado é a pioneira na cogeração de energia a partir do bagaço de cana. Iniciou em 2000, produzindo para consumo próprio, que possibilitou ampliar a irrigação por meio da utilização de motores elétricos; e posteriormente exportando para o sistema interligado nacional.
Em 2021, nas duas unidades do grupo, foram produzidos 437,8 GWh; dos quais 247 GWh foram exportados.
A cogeração de energia é uma crescente na Jalles. “Em 2015, foi firmada uma parceria com a Albioma Participações do Brasil, para quem vendemos 65% da Codora Energia, termelétrica da Unidade Otávio Lage, por um período de 20 anos”, explica Otávio Lage de Siqueira Filho, Diretor-presidente (CEO).
A empresa francesa tem como especialidade a alta performance na cogeração de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar. “A parceria deu muito certo e, em 2019, vendemos 60% da Esplanada Energia, termelétrica da Unidade Jalles Machado para a Albioma pelo prazo de 17 anos. Essas negociações possibilitaram melhoria na eficiência energética, resultante da expertise industrial da Albioma, com a utilização também da palha da cana com grande potencial energético, e a expansão da capacidade de cogeração de energia nas plantas industriais”, pontua.