“Biocombustíveis e Renovabio: entenda o papel da reciclagem animal na produção de biodiesel” foi tema da live “ABRA na Web”, realizada no dia 26 de agosto. A convite da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA), promotora do evento, o Chefe-geral da Embrapa Agroenergia Alexandre Alonso falou sobre as vantagens do uso de sebo bovino e outros resíduos de origem animal na produção de biocombustíveis.
Alonso abordou quatro aspectos: mercado, técnico, ambiental e político. Do ponto de vista do mercado, discorreu sobre a importância da diversificação de matérias-primas para a produção de biocombustíveis. Atualmente, cerca de 70% vem da soja, o que pode se tornar um problema do ponto de vista da segurança do setor além de influenciar no preço final do biocombustível. “É importante oferecer opções de matérias-primas para garantir que a produção de biocombustível seja feita de maneira técnica e economicamente viável”, disse.
Alonso lembrou que o sebo bovino responde por um percentual que varia entre 13% e 15% do mercado de matérias-primas para biocombustível, mas que há uma pesrpectiva de crescimento no uso dessa matéria-prima pelo fato de o Brasil possuir o maior rebanho bovino do mundo (cerca de 222 milhões de cabeças, segundo dados do Mapa). “Além disso, o sebo bovino e outras gorduras tem inserção no Selo Combustível Social, o que favorece pequenos produtores e agricultores familiares”, disse.
No aspecto técnico, o Chefe-geral da Embrapa Agroenergia afirmou que a institução tem expertise no assunto. Ele citou alguns dados técnicos que conferem vantagem ao sebo bovino para uso na produção de biocombustíveis, entre elas: maior estabilidade à oxidação (por conter em sua composição química 45% de cadeias saturadas), o que favorece a estocagem por tempo maior; maior número de cetanos, elemento que mede a qualidade da queima do biocombustível nos motores de ciclo diesel; e menor emissão de dióxidos nitrosos.
Sob o ponto de vista ambiental, Alonso resssaltou que o sebo bovino e demais gorduras animais são considerados resíduos no contexto da RenovaCalc (a calculadora do RenovaBio), o que tem impacto positivo sobre a Nota de Eficiência Energético-Ambiental. “Aos resíduos não são atribuídas emissões de gases do efeito estufa referente à sua geração, mas contabilizadas somente as emissões que ocorrem a partir do recolhimento desse resíduo, seu transporte até as unidades de processamento e etapas de produção do biocombustível”, explicou.
Ele também lembrou que a cadeia do sebo bovino emite menos frações de CO² do que a maioria das matérias-primas direcionadas à indústria de biodiesel. Como última vantagem ambiental, Alonso lembrou que o próprio uso do sebo bovino já é em si dar uma destinação nobre a um potencial resíduo ambiental.
Por fim, Alonso falou do aspecto político, mais especificamente da certificação de usinas dentro da política do Renovabio. Segundo ele, a cadeia de soja tem apresentado dificuldades para a elegibilidade dentro do programa, o que não ocorre com o sebo bovino. “O uso do sebo bovino tem viabilizado a entrada de mais usinas de biodiesel no contexto do RenovaBio”, concluiu.
Evento
Alexandre Alonso também convidou os associados da ABRA para participarem, no dia 3 de setembro, do 1º Encontro Embrapa Agroenergia e ABRA (virtual), cuja finalidade será identificar oportunidades para projetos de invovação que busquem agregar valor aos resíduos e matérias-primas de origem animal, dentro do contexto de biocombustíveis e da bioeconomia.
Ubrabio
O diretor-superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, falou sobre o momento atual no setor de biodiesel e os desafios frente à pandemia da Covid-19, bem como as perspectivas futuras diante da necessidade de transição para uma economia de baixo carbono e cumprimento pelo Brasil de metas de descarbonização ratificadas em acordos internacionais. “O biodiesel é o combustível que alimenta o Brasil”, disse Tokarski.
Também participaram do ABRA na Web o diretor de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Miguel Ivan Lacerda; e o ex-senador e relator do Renovabio no Senado Federal, Cidinho Santos. Os debates foram conduzidos pelo presidente do Conselho Diretivo da ABRA, Pedro Bittar, e pelo presidente-executivo, Decio Coutinho. Embrapa Agroenergia