É preciso planejar o uso dos recursos hídricos na produção agrícola

O uso racional da água, sobretudo na irrigação de culturas agrícolas, torna-se cada vez mais essencial diante do progressivo aumento da população e da demanda por alimentos, energia e fibras. Atualmente, do total de água utilizada no mundo, 67% é empregado para a produção agrícola, 10% para o abastecimento público e 23% para a indústria. Cerca de 12% dos recursos hídricos disponíveis estão no Brasil, tornando o país o mais rico do mundo em água doce.

Encontrar caminhos para não faltar alimentos com os recursos existentes é um dos grandes desafios da pesquisa agropecuária. Oferecer alternativas que reduzam o uso da água na agropecuária e garantam sua qualidade tem sido foco das discussões de cientistas de diversos elos da cadeia produtiva, principalmente para se ter práticas agrícolas mais eficientes.
No Brasil, uma das iniciativas que buscam caminhos para a agricultura em cenários de redução de disponibilidade de água é a rede de pesquisa AgroHidro. Liderada pela Embrapa, reúne mais de 40 instituições e 80 cientistas. Coordenador dos trabalhos, o pesquisador Lineu Rodrigues, da Embrapa Cerrados, explica que o objetivo da rede é avaliar os impactos das mudanças climáticas e do uso do solo na disponibilidade de água para a agricultura e em que medida eles podem afetar as comunidades rurais: “Estamos elaborando um projeto para certificação de uso eficiente da água e energia na agricultura irrigada, que é um instrumento da nova Lei de Irrigação,” adianta Rodrigues.
A irrigação é a atividade produtiva que mais consome água doce na agricultura, superando inclusive o uso industrial. Além disso, a expectativa da Agência Nacional de Águas (ANA) é que, até 2020, a área de agricultura irrigada no Brasil chegue a 5,8 milhões de hectares – um incremento de 58% em relação a 2005. “Algumas formas de reduzir o impacto dessa expansão são o desenvolvimento de métodos mais eficientes de irrigação ou de variedades que consumam menos água”, explica Manoel Souza, da Embrapa Agroenergia.
Com a expectativa de elevação das temperaturas e agravamento dos períodos de estiagem, pesquisadores estão empenhados em antever cenários futuros e encontrar formas de aumentar a eficiência do uso da água na produção rural.
A cana-de-açúcar brasileira, que também está integrada ao projeto DREBCROPS, tem destaque na produção mundial. Dentro das ações do projeto, a Embrapa Agroenergia desenvolve a cana transgênica com o gene DREB2A.Molinari conta que os testes mostram, até o momento, que as plantas transgênicas apresentaram maior tolerância ao estresse hídrico do que as plantas não-transformadas.
Ao mesmo tempo, também estão sendo realizadas pesquisas para avaliar a eficiência da irrigação nessa cultura. “Nós passamos, na área da Embrapa Cerrados, de 104 para 208 toneladas por hectare, em experimentos realizados com irrigação plena”, conta o pesquisador Walter Quadros. No entanto, ele alerta: “É necessário que seja feito um estudo para saber o que significa a extração dessa água em termos ambientais antes de recomendar uma irrigação plena para a cana-de-açúcar”.

Cobertura do solo melhora a eficiência do uso da água

Além desenvolver ações com a planta, também é necessário pensar no solo. Segundo o pesquisador José Aloísio Alves Moreira, da Embrapa Milho e Sorgo, solos cobertos aumentam consideravelmente a eficiência no uso de água pelas culturas, reduzindo, consequentemente, os gastos com energia elétrica em sistemas irrigados. A maior eficiência é proporcionada pelo sistema de plantio direto que ocorre devido à presença de uma adequada cobertura morta, reduzindo, portanto, as perdas por evaporação da água do perfil de solo. O pesquisador afirma que a economia de água começa a ser importante a partir de 50% de cobertura do solo pela palhada, implicando em menor número de irrigações. Outras vantagens dessa técnica são maior infiltração de água, menor escorrimento superficial e maiores conteúdo e armazenamento de água.
O conhecimento sobre a quantidade de água necessária para obter um produto também é essencial para conhecer o impacto das atividades sobre o meio ambiente. No Sul, a “pegada hídrica” é novidade para racionalizar água. “A pegada hídrica é uma abordagem inovadora, em que os produtos industriais e agropecuários são ranqueados de acordo com a sua eficiência de uso da água. É preciso levar em conta a quantidade de água necessária para se produzir uma unidade de cada produto, considerando todo o ciclo de vida de um produto/processo”, explica Adilson Bamberg, pesquisador da Embrapa Clima Temperado.

 

Canal-Jornal da Bioenergia

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